segunda-feira, 30 de abril de 2018





«Procura-o à tua frente

E subitamente estará atrás de ti.» - Zenrin Lewis


"A maior parte nós transforma tudo o que acontece, e em especial os relacionamentos, num problema que tem de ser resolvido. Em breve, cada dia se torna uma corrida de obstáculos, e nós andamos constantemente a saltar barreiras. Alguns preferem adiar qualquer acção até terem estabelecido todas as estratégias e resultados. Querem saber exactamente com o que é que se vão confrontar antes de darem qualquer passo. De modo semelhante, há também aqueles que não se aventuram para fora do que lhes é familiar - a vizinhança, as rotinas ou os grupos de amigos - com medo de terem alguma surpresa. Para estes últimos, o maior pesadelo é o não estarem preparados. Têm horror de não saberem dar o passo «certo». Estar «errado» transforma-se num desastre. Cada acção que tomam está impregnada de preocupação quanto às consequências.

A preocupação e o medo que estas pessoas sentem pode ser particularmente paralisante nas questões amorosas, e rapidamente elas transformam os relacionamentos no maior de todos os problemas da sua vida. Afinal, os relacionamentos encerram em si a maior de todas as possibilidades de fracasso, e também o maior prémio que é possível obter: o amor.

Mas termos uma abordagem da vida em que a encaramos como algo a ser conquistado ou subjugado não conduz a uma vida de amor, conduz apenas à segurança. O amor não é seguro, nem é tão-pouco o resultado de estratégias adoptadas pela mente racional. O amor toma-nos de surpresa, quando estamos abertos e prontos para ele. Prepararmo-nos para nos apaixonarmos requer uma aproximação totalmente diferente. Temos de descobrir uma nova forma de estar com os problemas. Ao fazermos isto, podemos até descobrir que, na verdade, não há problemas, há apenas os koans que a vida constantemente nos apresenta.

Uma parte essencial da prática do Zen é o saber o que é um koan, estar pronto para o receber e, quando nos for dado um koan, aprender a resolvê-lo. A tarefa de resolver koans é, de facto, um treino na arte de aprendermos a apaixonar-nos.

Em todos os relacionamentos existem problemas que parecem insolúveis e que causam sentimentos de confusão e de impotência em ambos os lados. Cada uma das partes luta por convencer o parceiro da validade do seu ponto de vista, e o debate acaba muitas vezes por ficar encalhado. Estes problemas podem até transformar-se em obsessões, levando as pessoas a reiniciarem o mesmo confronto vezes sem conta, sem qualquer proveito. Em pouco tempo ficam exaustos, e quando este processo se estendeu até ao ponto de se tornar intolerável, o relacionamento acaba. (Ficar preso neste pântano é um dos principais motivos por que terminam os relacionamentos.) Enquanto as pessoas não souberem como se com os seus problemas insolúveis, os relacionamentos não poderão florescer verdadeiramente e o amor não terá oportunidade de crescer." - Brenda Shoshanna

domingo, 29 de abril de 2018





"É um ponto interessante o da humildade.

Embora deteste as metas, sinto que nunca chegarei a ser humilde.

Quando, a partir do exterior, contemplo algumas das minhas atitudes, vejo-me tão envaidecido, tão exigente, tão prezado por mim mesmo...

O Dicionário de la Real Academia diz: «Humilde: baixo, de pouca estatura.»

Não sou humilde.

Quando me gabo do meu egoísmo, quando sinto que sou a pessoa mais importante no mundo (com duas lindas excepções, os meus filhos), quando acho que sou o centro do mundo, quando busco todas as respostas dentro de mim... Não, não sou humilde.

E os demais? Os outros? Aqueles a quem amo?

Por acaso não faço coisas por eles?

NÃO!

Sinto que às vezes me dá prazer agradar-te, e então faço-o. Quando te digo que é por ti, estou a mentir-te. Na realidade, tudo é por mim; é bom para mim o facto de escolher renunciar ao que eu quero para te dar. Que egoísta...!

Sim.

Afinal, se alguém me chama «egoísta», o que está a dizer-me? Está a dizer-me: «Não penses em ti, pensa em mim.»

Quem é o egoísta?

Desde há três ou quatro mil anos que o Talmude diz:

Se eu não pensar em mim, quem o fará?

E se pensar só em mim, quem serei eu?

E se não for agora, quando?

Há três categorias de pessoas.

Uma, a que, quando tem frio, oferece toda a sua roupa de agasalho. Outra, a que, quando sente frio, veste a sua roupa de agasalho. E uma terceira que, quando sente frio, acende uma fogueira para se aquecer a si mesma e a todos os que queiram desfrutar do calor.

A primeira pessoa é suicida: irá morrer de frio. A segunda é miserável: irá morrer sozinha. A terceira é um ser humano normal, adulto e egoísta (acende a fogueira porque ele tem frio).

Eu quero ser o que acende milhares de fogueiras e, mais ainda, quero ser o que ensina milhares de seres humanos a acender fogueiras.

Definitivamente, não sou humilde." - Jorge Bucay

sábado, 28 de abril de 2018





"A meditação não é algo diferente da vida de todos os dias; não é isolarmo-nos no canto de um quarto, para meditar durante dez minutos, e depois sairmos dali e irmos destruir o nosso semelhante - não só metaforicamente como de maneira real.

Meditar é algo da maior seriedade. Podeis fazê-lo durante o dia, no emprego, com a família, quando dizeis a alguém «Amo-te», quando cuidais dos vossos filhos... Mas depois dais-lhes uma «educação» para se tornarem soldados e matarem, para serem nacionalistas e prestarem culto à bandeira, «educando-os» para entrarem na armadilha do mundo moderno.

Observar tudo isso, compreender a vossa participação nisso, faz parte da meditação. E quando assim meditais encontrareis nesse meditar uma beleza extraordinária; agireis correctamente em todos os momentos; e se num dado momento assim não for, não importa; tentareis de novo agir correctamente - sem perder tempo em lamentações. A meditação não está separada da vida, faz parte dela." - J. Krishnamurti

sexta-feira, 27 de abril de 2018





"Um homem de génio não comete erros. Os seus erros são volitivos e são os portais da descoberta.

James Joyce escreveu isto, em referência a Shakespeare. Talvez seja verdade quando se trata de génios. Quem sabe? Mas o resto de nós comete erros em abundância, e também não intencionalmente. Cometemos erros porque somos humanos, porque sabemos demasiado pouco, porque imaginamos que conhecemos mais do que realmente conhecemos.

Cometemos erros quando negligenciamos a importância de um momento, quando pensamos somente no momento.

Cometemos erros quando nos tornamos impacientes; cometemos igualmente erros quando somos indecisos. Há actos insensatos; há falhanços insensatos ao agir. Cometemos erros por arrojo, cometemos erros por timidez. Cometemos erros quando somos abertamente ambiciosos e quando não somos suficientemente ambiciosos. Cometemos erros quando permitimos que as nossas acções se tornem desligadas dos nossos valores.

Exactamente porque os erros decorrem de muitas causas, aparecem em todas as formas e tamanhos. Há pequenas gafes, que nos embaraçam por um momento ou dois; há erros grandes, que nos enchem de desgosto ou remorso por anos ou décadas. Mas, seja qual for a sua origem ou escala, há uma coisa que todos os erros têm em comum: são oportunidades para aprender.

São portais de descoberta, não somente para génios mas também para o resto de todos nós.

Quando damos uma resposta errada a uma das inúmeras questões da vida, estamos pelo menos um passo mais próximo de uma resposta correcta, ou, pelo menos, da resposta que é correcta para nós. Quando nos desiludimos por inatenção ou falta de convicção, a dor aguda que sentimos é um saudável recordar para manter os nossos padrões e a nossa vigilância. Quando fazemos asneiras e somos confrontados com as consequências dos nossos erros, temos a oportunidade de compreender o que não funciona e por que razão.

Em resumo: crescemos  por fazer asneiras.

Acentuo isto porque tenho observado que, especialmente em tempos difíceis ou incertos, muitas pessoas parecem ter um medo terrível de cometer erros, como se um erro fosse uma humilhação pessoal da qual se não recuperaria nunca, a terrível "marca negra" num registo permanente.

Mas esta visão não é exacta. Os erros são muito raramente permanentes; a maioria deles pode ser prevista com menos dificuldade e drama do que se imagina, e não há nada de vergonhoso acerca de os cometer. Há, contudo, algo triste e que limita, acerca do medo de os cometer.

Se nos permitirmos ser controlados pelo medo de uma passo em falso, só podemos andar nos caminhos mais largos e mais percorridos. Se recusamos dar a nós próprios um desconto por fazer asneira, então estaremos inclinados a não aproveitar oportunidades. E, se não aproveitamos oportunidades, podemos nunca encontrar a nossa paixão ou a nossa mais verdadeira identidade. Se temos medo que a batida do nosso próprio baterista possa conduzir-nos a um passo em falso, então só nos resta caminhar juntamente com qualquer outra pessoa que não ele. 

E sabe que mais? Mesmo se jogarmos pelo seguro, tanto quanto pudermos, cometeremos erros, de um modo ou de outro. Todos o fazemos. Os erros são inevitáveis. São parte da vida.

Se a vida é o que fazemos dela, e se queremos que as nossas vidas sejam vividas e autênticas, então temos de aceitar o facto que erraremos, aqui e acolá, ao longo do percurso. Não podemos eliminar erros; contudo, podemos também aproveitá-los, admiti-los quando ocorrem, perdoar-nos por os ter cometido e, acima de tudo, aprender com eles. 

Nenhum erro devia ir para o lixo!

Erros são inevitáveis, por isso podemos também aceitá-los, perdoar-nos e avançar. Os nossos erros podem causar-nos inconveniência, podem custar-nos tempo e dinheiro, mas - assumindo que são erros honestos - eles não são vergonhosos. Cada erro é uma oportunidade de aprender, um marco, na sinuosa estrada, de onde nós estivemos, onde estamos e para onde pensamos estar apontados. 

Se, por medo de ser deixados para trás, ou de dar algum passo errado do qual não recuperaremos, negarmos a nós próprios a permissão de cometer erros, então privar-nos-emos a nós próprios dessas oportunidades de aprender. Pior, quando cometemos erros mas recusamos admiti-los, por teimosia, ou por insegurança, ou por desatenção, falhamos a oportunidade de saltar do erro e encaminharmo-nos para uma direcção melhor.

Perdemos a oportunidade de nos tornarmos melhores em ser quem somos. 

Aqui está ainda outro daqueles paradoxos em que pareço incorrer, sempre que tento exprimir em palavras simples algo verdadeiro e básico acerca da vida: nós somos, e não somos, a mesma pessoa que éramos ontem. Há, seguramente, uma continuidade em quem somos. É como reconhecermos as nossas faces ao espelho cada manhã, como evocarmos as espécies de coisas que nos fazem rir, como mantermos lealdade e firme afeição nas nossas relações. 

Mas é igualmente verdade que estamos sempre a mudar, a crescer, a evoluir. Cada dia conhecemos um pouco mais acerca do mundo e um pouco mais acerca das nossas mentes e corações. Os erros que temos cometido, e as correcções de rumo que resultaram de tais erros, são parte essencial da nossa evolução. Assim, se temos a esperança de nos sentirmos bem acerca da pessoa que somos agora, necessitamos considerar com sinceridade e aceitação a pessoa que fomos então, quando cometemos esses estúpidos erros." - Peter Buffett

quinta-feira, 26 de abril de 2018





«Não é possível termos um dia perfeito sem fazermos algo por alguém que nunca nos poderá retribuir.» - John Wooden


"Há uns dias, estava em Nova Iorque e apanhei um táxi com um amigo. Quando saímos, o meu amigo disse ao taxista:

- Obrigado. A sua condução foi magnífica.

O taxista ficou a olhar para ele durante uns segundos e disse:

- Você tem a mania que tem piada ou algo do género?

- Não, meu bom homem, não estou a troçar de si. Apenas admiro a forma como consegue manter a calma no meio deste trânsito medonho.

- Sim, sim... - disse o taxista antes de arrancar.

- Para que foi aquilo? - perguntei. 

- Estou a tentar trazer o amor de volta a Nova Iorque - disse. - Acredito que é a única coisa capaz de salvar a cidade.

- E como é que um homem pode salvar Nova Iorque?

- Não é apenas um homem. Acho que consegui fazer com que aquele taxista tenha um dia excelente. Imaginemos que ele atende 20 clientes durante todo o dia. Será, certamente, simpático com essas 20 pessoas apenas porque alguém foi simpático com ele. Por sua vez, esses 20 clientes tratarão bem os seus funcionários, os empregados das lojas onde entrarem, os empregados de mesa que os servirem ou os familiares. Eventualmente, a benevolência poderá espalhar-se por, pelo menos, 1000 pessoas. Não me parece nada mal, e a ti?

- Mas tudo depende se o taxista vai passar essa mensagem de benevolência a outras pessoas.

- Não depende tudo do taxista - explicou o meu amigo. - Reconheço que o sistema não é infalível, por isso, esforço-me por fazer o mesmo com cerca de 10 pessoas todos os dias. Se dessas 10 conseguir fazer 3 felizes, serei capaz de influenciar indirectamente a atitude de outras 3 mil.

- Parece-me uma boa ideia em teoria - admiti. - Mas não sei se funcionará na prática.

Se não funcionar, não se perde nada. Não demorei tempo algum a dizer àquele homem que estava a fazer um bom trabalho. Não lhe dei uma gorjeta maior nem menor do que lhe daria noutra situação. Se tiver caído em saco roto, que mal tem? Amanhã tentarei fazer feliz outro taxista.

- És mesmo doido - disse eu.

- Isso só demonstra como te deixaste vencer pelo cinismo. Fiz um estudo sobre isto. A única coisa que parece estar a faltar aos nossos funcionários dos correios, para além de dinheiro, claro, é alguém que lhes diga que estão a fazer um bom trabalho.

- Mas eles não estão a fazer um bom trabalho.

- Não o estão a fazer porque acham que ninguém se importa com isso. Porque não haveríamos de ter uma palavra gentil para lhes dizermos?

Estavámos a passar por uma obra e vimos cinco trabalhadores a comerem o almoço. O meu amigo parou.

- Que magnífica obra os senhores estão a fazer. Parece-me ser um trabalho difícil e perigoso. - Os trabalhadores olharam para o meu amigo com um ar desconfiado. - Quando preveem que termine?

- Em junho - resmungou um dos homens.

- Ah! Impressionante. Devem estar muito orgulhosos do vosso trabalho.

Enquanto nos afastávamos, disse ao meu amigo:

- Tu és incrível. Não se vê alguém como tu desde o D. Quixote!

- Quando aqueles homens digerirem as minhas palavras, vão sentir-se melhor. E, de alguma forma, a cidade vai beneficiar com a felicidade deles.

- Mas não podes fazer isto sozinho! - protestei. - És apenas uma pessoa.

- O importante é não desanimar. Conseguir que as pessoas desta cidade voltem a ser amáveis não é tarefa fácil, mas se conseguir angariar mais pessoas para a minha campanha...

- Acabaste de piscar o olho a uma mulher que não é nada bonita - observei.

- Sim, eu sei - respondeu. - E se for professora, os alunos dela vão ter um dia fantástico." - Art Buchwald

quarta-feira, 25 de abril de 2018





"Muitos de nós estamos dependentes do estado de espírito elevado que nos vem da aprovação por parte dos outros. Desde o berço que somos ensinados a desempenhar todo o tipo de truques para recebermos amor e atenção. A ideia de que temos de continuar a representar com vista a sermos dignos de amor fica com a maioria de nós para sempre. É frequente representarmos papéis diferentes consoante a audiência diante de nós, ou dizermos uma coisa e pensarmos outra, comprarmos a roupa apropriada, conduzirmos um carro topo de gama e procurar um companheiro que nos dê uma boa imagem quando com ele descermos a rua. Quanto maior for a aprovação que tivermos dos que nos rodeiam, tanto mais acharemos que somos boas pessoas. São muito poucos aqueles que compreendem que este é um dos grandes impedimentos a que nos apaixonemos e continuemos a amar.

Parte do estado de espírito elevado vem do conhecermo-nos através dos olhos de outrem. Mas esta é uma faca de dois gumes. Se os outros olham para nós com olhos de aprovação, sentimo-nos confiantes. Se nos olham de forma crítica ou desiludida, nós desiludimo-nos connosco próprios. Se os outros nem sequer olharem para nós, podemos até sentir que não existimos.

Se o sentido de si próprio de alguém é obtido através dos olhos de outra pessoa, estará sempre sujeito à perda. Aquela pessoa que num determinado momento nos admira tanto pode, de um momento para o outro, deixar de gostar de nós. Ou também pode acontecer que desenvolvamos qualidades novas que não lhe agradem. Um sem-número de circunstâncias pode surgir e alterar o equilíbrio e dar origem a que percamos esta sensação extraordinária de quem somos. 

Esta é justamente a razão por que tantos relacionamentos começam maravilhosamente e, poucos meses depois, já estão a descarrilar. À medida que ambos vão revelando novas qualidades, vão começando a olhar-se com outros olhos. Começam então as críticas. O entusiasmo da sua inabalável adoração começa a dissipar-se como o ar num balão frágil. Embora possa ser doloroso, e muitas vezes até chocante, perder este entusiasmo não é assim tão mau. Quando amamos alguém porque essa pessoa nos adora, desnecessário será dizer que isso não é amor. Não é uma coisa saudável e o mais provável é que não dure muito.

«Um macaco que estava sentado à beira de um lago viu o reflexo da Lua na água. Extasiado, tentou apanhá-lo, chapinhando na água e salpicando tudo à sua volta. Quanto mais chapinhava, mais o reflexo o iludia, quebrando-se em mil pedaços com o movimento das ondas que ele provocava. O macaco nunca percebeu que se tratava de um reflexo. Por fim, desesperado por tocar na Lua, atirou-se à água e afogou-se. Bastava que o macaco tivesse parado de chapinhar e olhado para cima por um momento, e teria visto a verdadeira Lua no céu.» - História Zen

Quando paramos de chapinhar na água do amor, pomos de lado a nossa voracidade louca de aprovação e deixamos de procurar o nosso próprio reflexo nos olhos do nosso companheiro, começamos a descobrir quem realmente somos. A partir daqui, estamos apenas a um ou dois passos de sermos capazes de facilmente nos apaixonarmos. 

Na prática do Zen, qualquer pessoa é a pessoa certa para ser amada, tal qual é. O sentido de eu que surge através da prática do Zen é diferente. Baseia-se no que é real e duradouro, não em algo que pode vir a ser perdido. No Zen este eu é também chamado de «homem verdadeiro de nenhuma espécie». É o eu que não está dependente da aprovação ou das circunstâncias externas para se sentir inteiro e alegre. Ele segue sempre o seu caminho, despreocupado, quer faça bom ou mau tempo." - Brenda Shoshanna

terça-feira, 24 de abril de 2018





"Pergunta – Identifico-me muito com o budismo, por isso estou aqui, mas é possível seguir o budismo tendo outra religião?

Monge Genshô – As técnicas de meditação sim. Mas se formos aprofundando a prática e os conhecimentos, vai ficando incompatível. Por exemplo, o budismo não considera a existência de um deus criador. Em determinado momento a pessoa terá que escolher. Do ponto de vista místico ou virtuoso, as diferenças são poucas. Se tu comparares os mandamentos bíblicos com os preceitos budistas, eles são em espírito praticamente os mesmos, com algumas diferenças, é claro. Por exemplo, o budismo não vê no sexo um pecado, o preceito é “não usares a tua sexualidade de forma a causar sofrimento”. Se tu, como forma de castigar a tua esposa ou marido, se te recusares a fazer sexo com ela ou ele, estás a causar sofrimento, e é errado.

No cristianismo, por exemplo, todos nascem com um pecado original e necessitam ser baptizados para tirar esse pecado. No budismo não existe o conceito de pecado, muito menos de um pecado original. O budismo vê acção e consequência, cada acto teu terá retorno e não há um deus que te irá castigar, tu é quem terá que lidar com os teus erros, pois também não há ninguém para te absolver dos teus actos errados. Outro conceito inexistente no budismo é a visão eternalista da alma, no budismo nada eterno existe. Está nas tuas mãos mudar tanto esta vida como as outras que virão, mas em que não serás tu mesmo. São muitas diferenças." - Monge Genshô

segunda-feira, 23 de abril de 2018





"Dizes-me que aquilo que escrevi sobre o amor te agradou, que te esclareceu coisas, e acrescentas que te é difícil perceberes se és amada ou somente querida ou somente necessitada...

Em primeiro lugar, porque queres mesmo saber o que o outro sente?

Creio que tudo é uma tentativa de te tranquilizares. A única coisa que é válida, em todo o caso, é o que tu sentes. Pergunta-te antes se TE sentes querida, necessitada, amada, e sê fiel a esse teu sentir.

Imaginemos que alguém te quer. Quer-te muito, mas tu não te sentes nada querida. Para que te serviria o seu carinho?

Imaginemos agora o contrário, alguém que te quer muito pouco e tu sentes-te absolutamente querida. Vais separar-te desse alguém por causa do que ele diz que sente?

Sempre pensei que a resposta mais bela a um «quero-te muito» é «e eu sinto-me muito querida por ti».

A outra coisa que dizes a respeito de ser demonstrativo, na minha opinião, não tem nada a ver com o sentir.

De facto, são coisas diferentes: «fazer», «mostrar» e «demonstrar».

Leva alguns minutos a responder a estas perguntas antes de continuar a ler:

1. O que é mostrar? Para que te mostro?

2. O que é demonstrar? Para que te demonstro?

Com certeza, terás notado que:

«Mostrar» é fazer uma coisa evidente para que tu a vejas.

«Demonstrar», em contrapartida, é uma actividade que procura provar uma coisa para que tu acredites nela.

Tudo isto significa que, quando «mostro», parto do princípio de que tu não vês e, quando «demonstro», parto do princípio de que tu não acreditas.

Quando a minha relação contigo não tem preconceitos, quando sou autenticamente eu e permito que tu sejas autenticamente tu, então não estou a emitir juízos preconcebidos. Portanto, não te mostro nada, não demonstro que te quero. Simplesmente, sou eu mesmo e faço o que sinto, sem me preocupar com o que vejas ou com que o creias.

E de tal modo vejo isto assim que, quando me encontro a mim mesmo a tentar mostrar seja o que for ou a querer demonstrar o que sou ou o que sinto, dou-me conta de que estou condicionado e a condicionar. E, ultimamente, quando mostro e demonstro, sinto-me ridículo.

Tens todo o direito de não ver e, sobretudo, o direito de não crer. Quem sou eu para querer que tu vejas ou creias tudo o que vejo ou creio?

Se todos estes argumentos não foram suficientes, pergunto a mim mesmo: como posso saber que tu não verias se eu não te mostrasse? Ou que não acreditarias se eu não o demonstrasse?

É evidente que a única maneira é: eu, no teu lugar, não teria visto; ou eu, no teu lugar, não teria acreditado...

Projecção! Pura projecção.

Porchia disse: «Se eu sou eu porque tu és tu e tu és tu porque eu sou eu, então nem eu sou eu nem tu és tu. Mas se eu sou eu porque eu sou eu e tu és tu porque tu és tu, então, sim: tu és tu e eu sou eu.»" - Jorge Bucay

domingo, 22 de abril de 2018





"A meditação é uma das maiores artes da vida - talvez a maior, e não é possível aprendê-la de alguém. Nisso reside a sua beleza. Não está sujeita a nenhuma técnica, e portanto a nenhuma autoridade. Apreendemos a respeito de nós mesmos, observando-nos, vendo o modo como andamos, como comemos, reparando no que dizemos, nas conversas fúteis e maldizentes, na inimizade, no ciúme... - estarmos atentos a tudo isto, em nós mesmos, sem qualquer escolha, faz parte da meditação.

Assim, a meditação pode acontecer quando estamos sentados num autocarro ou passeamos nos bosques cheios de luz e de sombras, quando escutamos o canto das aves, quando olhamos o rosto da nossa mulher ou do nosso filho." - J. Krishnamurti

sábado, 21 de abril de 2018





"Descobrir uma verdadeira vocação é um marco imenso no percurso de fazer das nossas vidas o que queremos que elas sejam. Mas é somente o primeiro passo. Comprar tempo, para explorar as implicações e desafios desta vocação, é também um importante processo. Mas é somente o segundo passo.

Isto conduz-nos a outra daquelas delicadas conjunturas onde o pêndulo da moda social tem oscilado, e oscilado de novo. Estou a falar acerca de como consideramos a relação entre o que nós gostaríamos de fazer e o que necessitamos de fazer. Mais precisamente, estou a falar acerca da complexa relação entre o que nós próprios valorizamos e o que o mundo exterior nos pagará por isso.

Quando os tempos são duros e o futuro parece sombrio há, acredito, uma tendência para ver como luxos, a que uma pessoa se não pode permitir, os seus próprios sonhos e preferências. A preocupação imediata é arranjar um trabalho e conservá-lo. Embora esta atitude seja inteiramente compreensível, não penso que ela se mantenha como uma fórmula duradoura em termos de felicidade e autorrespeito.

Permitam-me clarificar que não advogo que as pessoas se coloquem à margem da sociedade ou do movimento "hippie". Aceito e celebro até a necessidade de encontrar um modo de ganhar a vida. Encontrar um modo de ganhar a vida é um dos desafios que mais caracterizam e determinam a nossa existência.

O que estou a tentar transmitir, contudo, é a ideia de equilíbrio. Se temos a esperança de ser verdadeiros connosco próprios, realizar as nossas vocações, e também pagar a renda de casa e colocar pão sobre a mesa, precisamos do doce lugar onde as nossas competências individuais e inclinações se interceptam com o mundo do trabalho. Necessitamos de esgotar o que gostaríamos genuinamente de fazer... e que o mundo valorizará o suficiente para comprar.

Quando fazemos algo para ser pago, quer se trate de escrever uma história ou escavar uma vala, precisamos de agradar à pessoa que nos paga; mas isso não torna o trabalho menos nosso. O paradoxo é que o produto acabado, seja o que for de que se trata, pertence-nos tanto como ao comprador. Imprimimos a nossa própria marca nele; transportámos a nossa própria identidade para ele. Porque é parte do que fizemos, torna-se também parte de quem nós somos.

Aceitar este paradoxo de vender alguma coisa e contudo ainda a possuirmos, é parte de como nos tornamos profissionais. É parte de como transitamos de encontrar a nossa felicidade para construir a nossa felicidade." - Peter Buffett

sexta-feira, 20 de abril de 2018





"Um amigo meu chamado Paul recebeu um carro como presente de Natal do irmão. Na véspera de Natal, quando o Paul saiu do escritório, um miúdo de rua passou junto ao seu novo automóvel e admirou-o:

- Este carro é seu, senhor? - perguntou o garoto.

Paul acenou.

- O meu irmão deu-mo como presente de Natal.

O menino ficou espantado.

- O seu irmão deu-lho e não lhe custou nada? Quem me dera... - O miúdo hesitou.

É claro que Paul percebeu o que o menino queria dizer. De certeza que desejava ter um irmão assim. Mas quando o miúdo terminou a frase, o Paul ficou sem palavras.

- Quem me dera - continuou o menino - poder ser um irmão assim.

Paul olhou para o miúdo absolutamente pasmado e, de seguida, acrescentou impulsivamente.

- Queres dar uma volta no meu carro?

- Sim, adorava.

Depois de um curto passeio, o menino voltou-se para o Paul e, com os olhos a brilhar, disse:

- O senhor não se importa de passar à porta de minha casa?

O Paul sorriu. Pensou que sabia o que o menino pretendia fazer. Queria mostrar aos vizinhos o carro grande e bonito que o trouxera até casa. Mas, mais uma vez, o Paul estava enganado.

- Não se importa de parar junto a esses dois degraus? - perguntou o menino.

Subiu-os a correr. Pouco depois, o Paul ouviu-o voltar, mas não muito depressa. Trazia ao colo o irmão mais novo, que não conseguia andar. Sentou-o no degrau do fundo, abraçou-o com força e apontou para o carro.

- Estás a ver, mano? Tal e qual como te contei lá em cima. O irmão deste senhor ofereceu-lhe este carro sem ele ter de pagar. Um dia, vou dar-te um igualzinho! Assim, vais poder ver todas aquelas coisas bonitas que te tenho dito que há nas montras de Natal.

O Paul saiu do carro e sentou o menino no banco da frente. O irmão mais velho sentou-se contente ao lado do irmão e os três fizeram uma viagem memorável. 

Nessa véspera de Natal, o Paul compreendeu o que Jesus queria dizer com: "Mais bem-aventurado é dar..." - Dan Clark

quinta-feira, 19 de abril de 2018





"À medida que vamos limpando de forma completa, aprendemos a largar o que carregamos connosco. A isto dá-se também o nome de purificação. 

Alguns questionam-se sobre o porquê de serem as suas vidas tão difíceis e de a maior parte dos seus relacionamentos lhes causar sofrimento. Podem não ser capazes de encontrar um companheiro, ou se o encontram, ele acaba por se ir embora ou é cruel ou instável. Mas é possível encarar as relações como uma forma de purificação. Em vez de rejeitarmos situações difíceis e dolorosas, podemos olhá-las de uma outra perspectiva, encará-las como um meio de aprendermos muitas lições. O modo como recebemos e respondemos a este tipo de relacionamentos pode limpar-nos e estabelecer um novo curso de acção. As relações podem ser consideradas como grandes oportunidades de crescimento. Podemos aprender uma forma inteiramente nova de lhes respondermos.

Nas situações difíceis, sentimo-nos sempre tentados a deixar-nos dominar pela raiva, o ódio e a vingança. Podemos bater, podemos magoar também. Do ponto de vista do Zen, este é um erro muito grave. Shantideva, um grande professor tibetano, aconselha: «Possa eu, quando alguém que amei e de quem cuidei me magoa e abusa de mim, ver essa pessoa como um grande amigo sagrado.»

Isto significa que estas pessoas vieram ajudar a purificar-nos de um karma difícil (pensamentos, feitos e acções antigos que estão agora a dar fruto). Ensinam-nos a ser pacientes, indulgentes e a ter a capacidade de crescer espiritualmente. Dão-nos uma oportunidade de resistir à tentação de nos entregarmos à raiva e à vingança, e permitem que o nosso karma seja purificado, e que percebamos que, de alguma forma, algures, plantámos as sementes que possibilitaram a ocorrência da situação." - Brenda Shoshanna

quarta-feira, 18 de abril de 2018





"O amor... O que é o amor?

Comecemos pelo óbvio.

O amor é um sentimento e, como tal, está, certamente, relacionado com o sentir... Sentir o quê?

Sem deixar de te recordar primeiro que não há absolutos, digo-te que, para mim, o que me dá maior gosto em identificar com o amor é o regozijo pela simples existência de outra pessoa; ou talvez devesse dizer do amado (pessoa ou não). 

Isto significa que amar é independente daquilo que o amado faça, diga ou tenha; que o meu amor não depende de que o amado esteja ao meu lado ou se afaste; que quando amo não me agarro, não manipulo, não pressiono. Que amar, finalmente, é a aceitação total do outro.

Recordo agora Carl Rogers: «Quando percebo a tua aceitação total, então, e então somente, posso mostrar o meu eu mais suave, o meu eu mais delicado, o meu eu mais amoroso e, sobretudo, somente então, posso mostrar-te o meu eu mais vulnerável.»

Tudo o que já foi dito separa dentro de mim o amor de três coisas que costumam confundir-se com amar:

- Estar enamorado.

- Querer.

- Necessitar.

Necessitar é o facto de alguma coisa ser imprescindível (como o oxigénio). E, pessoalmente, duvido que se possa necessitar de alguém. Sim, eu sei que às vezes me convenço a mim mesmo de que «necessito» de alguém. E, no entanto, também sei que estou a mentir a mim próprio quando penso assim.

Sinto que, quando «necessito de ti», dependo de ti para sobreviver, obrigo-te implicitamente a tomar a teu cargo o meu afecto, desapareço como pessoa e tento transformar-te em alimento vital.

Querer, em contrapartida, sabe que não existe tal necessidade. Mas «querer» vem do latim quarere, que significa «tentar obter».

«Querer» é o desejo, o apetite.

«Querer» é querer para mim.

Se «te quero», estou a implicar-te numa espécie de pertença, numa pretensão, não numa exigência de estar, de permanecer, de me dar, de me valorizar.

«Se te quero, estou a cortar-te as asas e a deixar-te ao meu lado para sempre; se te amo, tenho prazer em ver crescer as tuas asas e tenho prazer em ver-te voar.»

A primeira vez que ouvi isto, estava um locutor a lê-lo na rádio. Mas ainda sinto a mesma inveja que senti naquele dia pelo facto de que alguém pudesse ser tão claro.

Estar enamorado não tem nada a ver com tudo o que já foi dito anteriormente, porque, para mim, «estar enamorado» não é um sentimento, mas uma paixão.

Que a paixão seja perturbadora, não tenho - pessoalmente - nenhuma dúvida. Mas atenção! Isso não quer dizer desagradável.

De facto, para mim - até agora, pelo menos -, enamorar-me por pessoas e objectos é uma das coisas mais belas que me pode acontecer...

Dir-te-ia que amo as minhas paixões, em especial quando me dou conta de que não preciso delas nem as quero comigo de forma permanente. Simplesmente, alegra-me sempre que contacto com a minha capacidade de me enamorar.

Encontro-me a cada dia com aqueles que receiam as suas paixões, que se assustam tanto com a desordem interior que nunca se permitem enamorar-se e, muito menos, odiar apaixonadamente.

No outro extremo, conheço pessoas que apenas sentem a partir das suas paixões efémeras, porque o que temem é a profundidade do sentimento. Vinculam-se apaixonadamente e, poucos dias ou meses depois, queixam-se de que a sua relação já não é a mesma que antes. E abandonam-na, desvalorizando-a, porque a paixão terminou.

Se eu pudesse escolher os meus sentimentos em relação às pessoas que me rodeiam, escolheria enamorar-me com toda a intensidade de que sou capaz.

Escolheria que, na altura em que essa paixão diminuísse, debaixo dela crescesse o sentimento.

Escolheria que nem eu nem o outro nos assustássemos com o desaparecimento da paixão e que soubéssemos enfrentar-nos com a mudança da intensidade para a profundidade.

Escolheria que esse sentimento fosse amor e não somente desejo.

E, finalmente, escolheria que se desse a possibilidade de voltar a enamorar-me, de vez em quando, pela pessoa que amo." - Jorge Bucay

terça-feira, 17 de abril de 2018





"A mente meditativa é silenciosa. Não é o silêncio que o pensamento pode imaginar; não é o silêncio de um calmo anoitecer; é o silêncio que vem quando o pensamento - com todas as suas imagens, palavras e percepções - cessa completamente. Esta mente meditativa é a mente verdadeiramente religiosa - religiosidade que não é tocada pelas igrejas, os templos ou os cânticos.

A mente religiosa é a explosão do amor - de um amor que não conhece a separação. Para ele, o longe é perto. Não é o amor de um só, ou de muitos; é, antes, um estado de amor no qual toda a divisão desaparece. Tal como a beleza ele também não cabe na medida das palavras. E só a partir deste silêncio a mente meditativa actua." - J. Krishnamurti

segunda-feira, 16 de abril de 2018





"Privilégio, essa incontestável bênção mista que oferece oportunidade e conforto, mas também complica muitas vidas, e algumas vezes pode mesmo diminuí-las.

Primeiro que tudo, o que queremos dizer quando falamos de privilégio?

A definição usual, é evidente, tem a ver com dinheiro e vantagens materiais. Mas eu argumentaria que se requer uma definição mais inclusiva, porque privilégio, de facto, assume muitas formas.

Uma família extremosa e apoiante é um privilégio. Do mesmo modo o é a atenção de professores com vocação social e capazes de dar bons conselhos. A educação é um privilégio. Não estou a pensar somente na aprendizagem de tipo livresca, mas de educação no seu sentido mais alargado. Falo de abertura e envolvimento com um mundo vasto, recheado de diversos povos de muitas culturas, o tipo de educação que aprofunda a nossa compreensão e atrai a nossa empatia.

Mas, o que têm em comum estas formas de privilégio?

Por um lado, cada um deles deve melhorar o nosso conjunto de opções de vida: esta melhoria potencial é uma parte essencial do que privilégio é. Mas, já reparou que nem sempre as coisas funcionam nesta linha?

Penso que privilégio é uma faca de dois gumes. Por um lado, pode abrir um mundo de possibilidades; por outro lado, tende a carregar com ele pressões, algumas externas, outras autoimpostas, o que pode limitar de forma séria essas possibilidades. Expectativas parentais constituem uma tal pressão. A influência de professores e de modelos de papéis sociais, mesmo quando a influência é positiva, é uma espécie de pressão. Depois há a moda social, a procura da carreira do ano. Finalmente, o facto que vivemos em tempos economicamente incertos tende a empurrar as pessoas para a (aparente) segurança das correntes dominantes nas escolhas de trabalho, os caminhos mais percorridos.

Por todas estas razões, as pessoas privilegiadas, seja qual for a forma exacta que o seu privilégio toma, algumas vezes parecem entender as suas opções como sendo mais estreitas que a maioria delas. Isto é infeliz, mesmo perverso, e também penso que é inegavelmente verdadeiro.

Privilégio é como um telescópio. Se se olhar através de um extremo, pode ver-se um longo percurso dentro de um universo sem limites; se se olhar através do outro extremo, o mundo visível encolhe-se até uma estreita tira. E, dado que a vida é o que dela fazemos, a decisão quanto ao modo como viramos o telescópio pertence a cada um de nós.

Exactamente como o privilégio pode expandir ou limitar as nossas opções de escolha, há também uma complexa, e algumas vezes paradoxal, relação entre privilégio e tempo.

Privilégio, seja de que espécie for, devia permitir-nos o luxo de não nos apressarmos através da vida. Um grau de segurança financeira devia reduzir a urgência de saltar para a barafunda de ganhar dinheiro. Uma família apoiante quererá dar aos filhos tempo para encontrar as suas alegrias. A educação devia tornar-nos humildes, face a todas as coisas que ainda não conhecemos; devia fazer-nos pacientes para aprender mais.

Privilégio, então, devia ajudar-nos a evitar a pressa na tomada de grandes decisões ou defraudar cada fase do nosso desenvolvimento, por causa de um qualquer impulso de pânico para passar-se à próxima. Como no caso de escolhas, privilégio devia dar-nos mais tempo, não menos.

Mas, pela observação do comportamento de muitos jovens provenientes de meios privilegiados, verificamos que não é assim que as coisas se passam. Há pessoas mais apressadas à face da terra? Completam a escola para entrar na universidade "adequada". Concluem a universidade para impressionar os administradores dos programas "adequados" de graduação. Passam o verão numa confusão de estágios de formação, que serão considerados como um bom trunfo nos seus currículos, que os levarão ao caminho mais rápido para ingressarem na banca, na corretagem, ou numa firma de advogados. Não é motivo de surpresa que algumas destas pessoas tenham a chamada crise de meia-idade aos trinta ou trinta e cinco anos: dificilmente tiveram desde a adolescência uma pausa para respirar.

Seja-me permitido tornar claro que não digo estas coisas como juiz, mas por solidariedade. Compreendo que há pressões reais e poderosas que empurram as pessoas para esta apressada abordagem à vida. Como muitas vezes tem sido escrito, a actual geração de jovens é a primeira cujas perspectivas económicas e profissionais são, no fim de contas, menos cor-de-rosa que as dos pais. A ansiedade e frustração que acompanham isto são inteiramente compreensíveis. Ninguém quer ser apanhado como basbaque na plataforma, enquanto o comboio está a deixar a estação; ninguém quer perder as coisas boas, num tempo em que os recursos parecem estar a esgotar-se.

Ainda assim, penso que precisamos de colocar a nós próprios um par de perguntas muito básicas. Onde está a linha divisória entre, por um lado, uma positiva, pragmática, vigorosa determinação para agarrar o momento e, por outro lado, a semi-cega pressa, conduzida não por alegria ou compromisso real, mas pelo medo terrífico de ficar para trás? A que ponto, na nossa pressa através da vida, cedemos mais do que poderíamos possivelmente ganhar?" - Peter Buffett

domingo, 15 de abril de 2018





"Bennet Cerf conta muitas vezes esta história comovente sobre um autocarro que seguia aos solavancos por uma estrada secundária do sul.

Num dos lugares seguia um velhote com um ramo de flores acabadas de colher. Do lado oposto estava uma menina que não conseguia tirar os olhos das flores. Ao chegar à sua paragem, e antes de sair do autocarro, o velhote passou pela menina e pousou-lhe as flores no colo.

"Já percebi que gostas muito de flores", explicou. "Acho que a minha mulher ficaria contente se ficasses com elas. Vou dizer-lhe que tas dei."

A menina aceitou as flores e viu o velhote sair do autocarro e entrar num pequeno cemitério." - Bennet Cerf

sábado, 14 de abril de 2018





"Ao esvaziarmos os nossos espaços, e também as nossas mentes e corações, tornamo-nos flexíveis, leves e confiantes, e desenvolve-se dentro de nós uma qualidade de criança. Somos preenchidos pela frescura e pelo espanto. Os relacionamentos tornam-se uma aventura porque não estamos sobrecarregados com o peso dos resíduos do passado. Ficamos prontos para novos encontros e verdadeiramente disponíveis para o amor. Este estado também pode ser chamado de a mente de criança.

Existe uma diferença abissal entre uma mente infantil e uma mente de criança. Muitos de nós permanecemos «infantis» durante toda a vida. Não amadurecemos, em vez disso permanecemos fixados em desejos que acalentamos desde a juventude.Embora possamos ter feito a universidade, no campo das nossas relações amorosas ainda estamos ao nível do jardim infantil. Quando somos infantis, queremos ser sempre o centro das atenções e agarrar todas as coisas boas para nós. Não sabemos dar nem criar espaço para os outros. Vivemos uma vida em que estamos absorvidos em nós mesmos, querendo apenas aquilo que nos convém.

A mente da criança é diferente. É a mente original com que nascemos antes de termos sido afectados pelo condicionamento social e pela experiência pessoal. A mente de criança é aberta, natural e expectante. Encontra beleza na vida e na aventura e não espera magoar ou ser magoada. Funciona naturalmente, adora dar e receber. Esta mente de criança é uma mente sem desordem. Não carrega anos de feridas. A mente de criança é a mente Zen: aberta, livre, desejosa de maravilhar e de desfrutar. A mente de criança é em si própria uma manifestação de uma vida de amor. 

Nós desviámo-nos do caminho simples que nos leva a nos apaixonarmos porque nos negámos a apreciar e a compreender satisfatoriamente o poder, a sabedoria e a bondade essencial da mente de criança ou mente original. Sem descobrirmos e sem travarmos amizade com esta parte de nós mesmos, podemos passar por todo o tipo de relacionamentos, mas o amor verdadeiro não surgirá; em vez disso, viveremos com compromissos insípidos. Embora o mundo dito «razoável» considere como um sinal de maturidade o negligenciar do verdadeiro deleite, bem lá no fundo, nós sabemos que a vida tem muito mais para nos oferecer e que nos estamos a vender por uma quantia muito irrisória." - Brenda Shoshanna

sexta-feira, 13 de abril de 2018





"As festas e reuniões de Natal são momentos intensos que tanto têm de maravilhoso como de desafiante. Mas são sem dúvida uma oportunidade maravilhosa para observar o fenómeno dos espelhos.

Todas as pessoas que nos rodeiam espelham algo nosso.

Todas! 

Sim, até aquelas que não gostamos tanto, que nos tiram do sério ou que só vemos nestas ocasiões e que perguntamos sempre como vieram ali parar. 

No entanto para a lei da atracção e da ressonância, nada mais fácil do que juntar energias idênticas.

Para conseguires observar o fenómeno dos espelhos, terás que ir para além da aparente máscara que adoptamos socialmente. Terás que colocar os óculos energéticos que te permitem ver cada pessoa como uma amálgama de energias em permanente movimento.

Nessa dimensão, serás capaz de aceder à dualidade de cada um e reconhecer que todos somos representantes da Luz e da sombra, numa busca permanente pelo equilíbrio das mesmas.

Cada pessoa vive o seu dilema interno entre os condicionamentos do medo e o anseio pelo amor e pela liberdade de ser quem é. 

Cada um de nós tem uma história própria e individual que veio cumprir. 

Cada um de nós, através dos movimentos mais ou menos conscientes que fazemos, somos "usados" como agentes cósmicos de transformação uns dos outros. 

Com as devidas lentes, poderemos ir para além do inútil julgamento do outro e aprender sim a perceber o fenómeno do espelho e descobrir o que o outro devolve de nós. 

Embora o Natal seja um tempo de amor e compaixão, a verdade é que nem sempre estes encontros festivos são fáceis pois remexem nas nossas memórias, tanto da nossa infância como das vidas passadas e muitas vezes trazem ao de cima precisamente o que ainda vive escondido." - Vera Luz

quinta-feira, 12 de abril de 2018





"A palavra «luto», etimologicamente, está relacionada com o conceito de dor; consiste na elaboração que realizo internamente de cada vez que me separo de alguém ou de alguma coisa. O meu grau de ligação a essa alguma coisa determinará a intensidade e duração do luto, mas não a sua existência.

Há sempre um luto que temos de atravessar depois de uma separação.

A nossa educação conspira contra a elaboração e aceitação dos lutos.

Recordo as mensagens dos nossos pais, mestres, perante as nossas perdas infantis: «Bom, já passou...»; «Já basta de lágrimas!»; «Não é assim tão importante»; «Depressa irás ter outro»; «Não penses nisso», etc.

Receamos o luto.

A dor aparece como uma ameaça terrível contra a nossa integridade.

E então defendemo-nos.

O propósito mais comum é o de não se comprometer afectivamente com nada nem com ninguém (ou o menos possível com o menor número de pessoas possível), na ilusão de que «se não me apegar a ninguém nem a nada, não sentirei dor em perder nada nem ninguém».

Aviso:

NÃO FUNCIONA.

Não é somente porque me impossibilita a vida, o contacto e a intimidade que este raciocínio não funciona, mas também porque, o luto não depende de quanto queremos aquilo que perdemos.

O segundo propósito é ainda mais terrível. Consiste na decisão velada de não nos separarmos NUNCA de NADA. Assim acumulo coisas e relações que nunca acabam, que não se renovam, que permanecem estáticas.

Colecciono livros que nunca leio, discos que nunca ouço, caixas e caixas de cartas que pessoas que não vejo há anos me escreveram, montões de armários cheios de objectos que recordam momentos que quero eternizar.

Barry Stevens disse: «Quando eu tinha uma família, costumava percorrer a minha casa duas vezes por ano e deter-me uns minutos em frente de cada objecto... E todas as coisas que não tivessem sido usadas ou desfrutadas nos últimos seis meses perdiam o direito de permanecer e eram atiradas para fora da casa...»

(Que inveja!) A maior parte de nós receia separar-se das coisas porque tem medo de precisar delas no dia seguinte.

A variante subtil deste modelo é distanciar-me das coisas e das pessoas em lugar de me separar delas. Este modelo é bem conhecido por aqueles casais que não suportam a ideia de se separarem e tão-pouco podem permanecer unidos. Então «dizem» que se separam.

O «dizem» entre aspas significa que isto acontece só na aparência. Na realidade, continuam a ver-se tanto ou mais do que antes; estão pendentes do que o outro faz, diz, pensa, quer. E, em muitos casos, saem juntos, terminando a noite na cama.

O objectivo é claro: não viver o luto que implicaria uma separação.

Quando isto acontece assim, com o tempo, produz-se um vaivém no qual sempre que um deles tenta começar o seu luto e separa-se, o outro aparece para recordar, para corrigir, para rectificar e para fazer abortar o luto.

Por último, há um terceiro mecanismo para fugir dos lutos, que é, simplesmente, negá-los.

Esta situação de perda, de separação, de morte, simplesmente, não existe.

É importante que eu viva com toda a plenitude os lutos pelas minhas perdas, pelas minhas mudanças, pelas minhas mortes.

Se não me puder separar daquilo que hoje não está presente, não poderei ficar livre para me vincular àquilo que neste momento, sim, está aqui comigo." - Jorge Bucay

quarta-feira, 11 de abril de 2018





"O homem, para se evadir dos seus conflitos, tem inventado muitas formas de «meditação». Estas têm por base o desejo, a vontade e a ânsia de conseguir algo, o que implica conflito e uma luta para chegar. Este esforço consciente, deliberado, realiza-se sempre dentro dos limites de uma mente condicionada, e nesta não existe liberdade. Todo o esforço para meditar é contrário à meditação.

A meditação vem com o cessar do pensamento. E só então se revela uma dimensão diferente, que está além do tempo." - J. Krishnamurti

terça-feira, 10 de abril de 2018





"As vocações de vida são misteriosas e as pessoas raramente avançam para elas numa linha recta ou sem dúvidas, falsas partidas, crises e erros.

As coisas que parecem maiores e causam apreensão, que se encontram exactamente em frente dos nossos narizes, são algumas vezes as mais difíceis de ver.

Por que é que é tão difícil para os jovens reconhecer e comprometer-se com a sua verdadeira vocação? Quais são algumas das barreiras, e provavelmente passos inevitáveis, ao longo do caminho?

Penso que uma dificuldade é simplesmente que reconhecer e abraçar uma vocação faz subir realmente as apostas na vida. A generalidade das pessoas é assim-assim na maioria das coisas; esse facto é a base para a ideia de que se é mediano. Não há nada errado nisso. Na sua maior parte, as pessoas são estudantes medianos, golfistas medianos, medianos seja o que for.

Na maior parte das esferas da vida, estar na média é suficientemente bom. De facto, há vantagens reais em estar na média. Isso mantém a pressão ausente e as expectativas controladas. 

Em termos de verdadeira vocação de alguém, contudo, quem é mediano não se distingue. Se a sua vocação é ser chefe, é claro que ser mediano na cozinha não é suficientemente bom. Nenhum professor comprometido quer ser mediano na sala de aula. Nenhum autor quer ser mediano na página que escreve.

As nossas vocações são os campos nos quais ansiamos sobressair, demarcarmo-nos do grupo. Este anseio é maravilhoso; exalta-nos. Destaca o melhor que há em nós e leva-nos a descobertas e conquistas que podemos legitimamente reclamar como nossas.

Ela também explica por que abraçar uma vocação é tão assustador.

Se, nas muitas facetas de vida nas quais estamos destinados a ser medianos, surgimos um pouco abaixo, que importância tem? Mas se falhamos na coisa pela qual nós próprios nos definimos e na qual esperamos provar que somos especiais, isso é sério." - Peter Buffett

domingo, 8 de abril de 2018





"Enquanto passeava por uma praia mexicana deserta ao pôr-do-sol, um dos nossos amigos avistou um homem ao longe. Ao aproximar-se, reparou que o homem estava sempre a baixar-se, a apanhar qualquer coisa e a atirá-la para a água. Repetidamente, baixava-se e atirava coisas para o mar.

Ao chegar ainda mais perto, o nosso amigo conseguiu perceber que o homem estava a apanhar estrelas-do-mar que tinham dado à costa e a atirá-las, uma de cada vez, de novo para a água.

O nosso amigo ficou intrigado. Aproximou-se do homem e disse:

- Bom dia, amigo. Estava aqui a pensar no que estarias a fazer.

- Estou a atirar estas estrelas-do-mar de volta para a água. É que, com a maré baixa, elas vieram todas dar à costa. Se não as atirarmos de volta para a água, vão morrer por falta de oxigénio.

- Compreendo - respondeu o nosso amigo. - Mas deve haver milhares de estrelas-do-mar nesta praia. Não vai conseguir salvar todas. São mesmo muitas. E a verdade é que, provavelmente, isto deve estar a acontecer em centenas de praias ao longo desta costa. Compreende que o seu esforço não vai fazer diferença?

O homem sorriu, baixou-se, pegou noutra estrela-do-mar e, enquanto a atirava para a água, respondeu:

- Já fez diferença a esta!" - Jack Canfield e Mark Victor Hansen

sábado, 7 de abril de 2018





"Todos nós estimamos as nossas belas posses, concretizações e memórias, e desfrutamos do aconchego que elas nos proporcionam. Embora constitua um suporte positivo nas nossas vidas, é importante que aprendamos a não nos agarrarmos àquilo que acumulámos, que sejamos capazes de soltar, de limpar a casa e de criar espaço para que novas experiências e novas dádivas possam surgir. 

Isto também se aplica aos relacionamentos. Todos nós entramos numa nova relação transbordantes de memórias, medos, ideias, crenças e imagens de como queremos que as coisas funcionem. No entanto, logo que as coisas começam a correr de forma diferente do que desejámos, no momento em que nos sentimos desprezados, incompreendidos ou indesejados, os alarmes começam a tocar. Então começamos a afastar-nos, a lutar ou a rejeitar o outro. Muitos de nós, se não mesmo a maioria, somos bombas-relógio à espera de explodir - principalmente no que toca aos relacionamentos amorosos, onde os nossos corações e o sentido que temos do nosso valor estão extremamente expostos. Como poderá ser então possível estar disponível para uma nova pessoa? De que forma podemos baixar as nossas defesas e a nossa expectativa inata de que algo de mau aconteça? 

Alguns dizem que é na verdade bom estar alerta, construir defesas eficazes, separar o bom do mau. Dizem que é insensato estarmos completamente receptivos, profundamente confiantes e alegres no amor. O melhor que podemos fazer é aprender a ser tolerantes em relação às flutuações que ocorrem nos relacionamentos. Estar abertos e confiantes é algo próprio das crianças, que ainda são irrealistas e não experimentaram as tristezas que o amor pode acarretar. Mas o amor não traz tristeza. A causa do nosso sofrimento está na bagagem que nós transportamos connosco, no lixo que acumulamos e ao qual nos agarramos. É essa a causa, e nenhuma outra.

Muitos de nós que ainda não chegámos a um acordo no que diz respeito aos relacionamentos, vivemos em casas excessivamente cheias, quase sem espaço para nos movermos nelas. Temos vindo a acumular posses e memórias, interminavelmente, e é muito frequente descobrirmos que são justamente essas posses e essas memórias que estão a tomar conta das nossas vidas, a conduzi-las, em vez de acontecer exactamente o contrário. Esta desordem impede a mudança e a liberdade de movimento tanto nos nossos mundos internos como nos externos. É impossível conseguirmos amar, confiar e estar realmente presentes quando nos encontramos envoltos no tumulto e na confusão." - Brenda Shoshanna

sexta-feira, 6 de abril de 2018





"Fecho os olhos

e voo...

Apareço onde tu estás.

Vejo-te.

Aproximo-me.

Percorro-te com o meu olhar.

Mais perto.

Acaricio-te.

Sinto a tua pele.

As tuas mãos frias (hoje estão frias).

O teu cheiro.

Os meus lábios roçam a tua fronte.

E tu nem te dás conta.

Ou talvez sim.

Talvez neste momento

estejas a pensar em mim 

sem saber porquê." - Jorge Bucay

quinta-feira, 5 de abril de 2018





"Com demasiada frequência, creio, as pessoas pensam em privilégio somente em termos de dinheiro e de coisas que o dinheiro pode comprar. Ser privilegiado é viver num lar confortável, ter comida suficiente e boa, usar belas roupas, dormir numa cama limpa, fresca no verão e quente no inverno. E, enquanto estas coisas permanecem, tudo isso é excelente. Mas, é isso a essência do que significa ser privilegiado? Penso que não.

Se a vida é o que nós fazemos dela, se nós próprios aceitamos o desafio de criar as vidas que nós queremos, então parece-me claro que a essência de privilégio tem a ver com dispor da mais ampla selecção possível de opções. Pense-se em todas as muitas pessoas que - pelas nossas escalas convencionais, pelo menos - não são privilegiadas: o aldeão africano que, por causa de um governo corrupto ou da falta de oportunidades educacionais, pode apenas permanecer um agricultor de pura subsistência ou o tratador de algumas cabeças de gado magro; o jovem de cidade interior ou um índio americano numa reserva empobrecida, cujos horizontes são amputados por uma cultura de famílias falidas e desespero; ou, a este propósito, aqueles trabalhadores chineses cuja sociedade conserva para sempre nas fábricas ou nas quintas onde começaram a trabalhar. Para pessoas nestas circunstâncias, a sobrevivência tende a ser uma tarefa a tempo inteiro. Comida e abrigo para eles próprios e para as suas famílias devem, obviamente, vir primeiro. Mas segurança económica e conforto material não são as únicas coisas de que estas pessoas estão privadas: elas são muitas vezes privadas de escolha. E, se se pensar sobre isso, verifica-se que a falta de opções é tão cruel como qualquer outra privação. Fome e sede podem ser satisfeitas dia após dia. Mas um frustrado desejo ardente de mudança, para novas possibilidades, pode durar o tempo de uma vida, ou mesmo ser transmitido através de gerações." - Peter Buffett