segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015



"Conhecermo-nos é um processo, uma tarefa inesgotável, um desafio impossível de alcançar. É sabermos bem quais são os nossos pontos fortes e os nossos pontos fracos, do que gostamos e do que não gostamos, o que queremos e o que não queremos.
Sei que outras pessoas percorreram este passo muito mais rapidamente. Mas, de qualquer maneira, posso afirmar que não é algo que se faça em duas semanas ou em alguns meses. Enfrentar o desafio da primeira pergunta (Quem sou?) é transformar-se num valente conhecedor de si próprio. E para tal é necessário muito trabalho. 
Devemos observar-nos bem sem pré-julgamento.
Devemos estar sempre a observar-nos, mas não é necessário passar o tempo todo a olhar para nós.
Devemos olhar-nos na intimidade e em interacção; no momento em que despertamos todos os dias e no momento de fecharmos os olhos todas as noites; nos momentos mais difíceis e nos mais simples. 
Olhar o melhor e o pior de nós mesmos.
Observar-nos quando nos olhamos e ver como somos aos olhos dos outros, que também nos observam.
Observar-nos na relação com os outros e na maneira de nos relacionarmos connosco mesmos.
Então, depois de muito nos observarmos, misteriosamente, para não ficarmos pela mera observação, para verdadeiramente conhecermos quem somos, é preciso sermos capazes de escutar. Escutar muito, escutar tudo. Escutar sempre.
Não se tratará de uma contradição? Escutar tanto não nos torna mais dependentes? Não. Não se trata de nenhuma contradição. É uma aprendizagem que constitui parte do caminho.
Escutar... Nunca dependendo da palavra dos outros, mas ouvindo sempre o que nos dizem. Nunca obedecendo ao conselho dos outros, mas tendo-o sempre em conta. Nunca suspensos na opinião do exterior, mas tomando claro conhecimento dela.
Estou convencido de que apenas se me conhecer conseguirei ter a capacidade de dar ao mundo (especialmente àqueles que me são mais próximos) o melhor que possuo.
Só conhecendo-me posso pensar no outro.
Não poderia pensar nele sem o conhecer.
E como poderia conhecer o outro se não me conhecesse a mim mesmo?
Como poderia conhecer-me se não me ocupasse de mim?
Acredito que é impossível ocupar-me do outro sem antes me ocupar adequadamente de mim.
É inegável que poderei ajudar mais se me conhecer melhor, se tiver percorrido um maior percurso, se tiver acumulado maior experiência e, simultaneamente, quantas mais vezes tiver passado por aquilo que o outro está a passar.
É claro que existem milhares de histórias de pessoas que ajudaram as outras sem possuírem qualquer conhecimento, absolutamente ignorantes em relação ao assunto e, por isso, tendo como único utensílio o coração aberto para oferecer. São os heróis do quotidiano.
É verdade. Nem tudo passa pelo racional, nem sempre o conhecimento que se tem das coisas é o mais importante. Penso que, de certa forma, conhecer e conhecer-me a mim mesmo não seja imprescindível para poder ajudar, mas estou convencido de que se trata de uma vantagem.
Eu continuo a apostar na vantagem e continuo a acreditar que é muito difícil dar aquilo que não se possui." - Jorge Bucay

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