sábado, 30 de maio de 2015



"A grande razão que leva as pessoas a África é a possibilidade de avistarem animais perigosos do interior do conforto e da segurança de um Land Rover, com um chapéu ridículo na cabeça e um cartão de registo na mão. No final da excursão, têm de ter registos dos Cinco Grandes no cartão. Eu só consegui assinalar um deles, um tembo cambaleante que avistara por acaso da janela do comboio na Tanzânia. Por muito que me enervasse com o turismo em África, e que troçasse do voyeurismo que consistia em ir importunar os animais ao mato, queria que o meu safari improvisado também incluísse uma semana de observações das criaturas selvagens pelas quais África era famosa. 
Tinha visto tão poucas... Umas hienas famintas em Harar, umas gazelas tímidas no Quénia, um par de girafas trotando, bem como um elefante em passo lento das janelas do Expresso de Kilimanjaro, uns hipopótamos sarapintados no rio Shire, uma avestruz olhando-me com curiosidade no Zimbabué, uns babuínos aqui e ali, aves por todo o lado. Não tinha visto rinocerontes, nem leopardos, nem manadas fosse do que fosse. Mas conseguia compreender o incómodo dos animais, pois também eles pareciam viajantes solitários no mato, e todos eles andavam mais ou menos a fugir. As gazelas tinham fugido, correndo de joelhos bem levantados, no que mais parecia uma corrida de obstáculos.
As criaturas mais perigosas que, até agora, eu tinha visto em África tinham sido os bandidos shifta, que tinham disparado sobre o camião onde eu seguia a norte de Marsabit: homens bravios. As mais exóticas tinham sido as prostitutas ugandesas com a sua plumagem nocturna, sibilando-me convites por trás das árvores da beira da estrada, em Kampala: mulheres bravias." - Paul Theroux

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