domingo, 1 de novembro de 2015



"A sombra espreita, engana, esconde e faz-nos acreditar erradamente naquilo que podemos ou não fazer. Ela leva-nos a fumar, a jogar, a beber e a comer aquilo que nos faz sentir mal no dia seguinte. A nossa sombra origina os comportamentos hipócritas que nos fazem violar as nossas fronteiras pessoais e a nossa integridade. É uma força que apenas podemos defrontar trazendo-a à luz da consciência e examinando aquilo de que somos feitos. Possuímos todas as características e emoções humanas, quer elas estejam activas ou dormentes, quer sejam conscientes ou inconscientes. Não podemos conceber nada que não sejamos. Somos tudo - aquilo que consideramos como impróprio. De que forma poderíamos conhecer a coragem caso nunca tivéssemos conhecido o medo? De que forma poderíamos conhecer a felicidade caso nunca tivéssemos sentido tristeza? De que forma poderíamos conhecer a luz caso nunca tivéssemos conhecido as trevas?
Todos estes opostos existem dentro de nós por sermos seres dualistas compostos de forças opostas. Significa isto que todas as qualidades que conseguimos ver nos outros existem em nós. Somos o microcosmos do macrocosmos, o que quer dizer que no interior da nossa estrutura de ADN estão impressas todas as características. Tanto somos capazes dos maiores actos de altruísmo como dos crimes mais destrutivos e auto-humilhantes. Quando é vista à luz plena da nossa consciência, a nossa sombra expõe a dualidade e a verdade tanto da nossa alma humana como da nossa identidade divina, dado ambas revelarem ser ingredientes essenciais de um ser humano integral e autêntico.
Devemos descobrir, incorporar e assumir tudo o que somos - o bom e o mau, a luz e as trevas, o altruísta e o egoísta, e a parte honesta e a desonesta da nossa personalidade. Sermos integrais, termos tudo, é um direito de nascença. No entanto, para isso devemos estar dispostos a olhar-nos honestamente e a afastar-nos da nossa mente crítica. É aqui que teremos uma mudança perceptiva que muda a vida, uma abertura do nosso coração.
As boas notícias são que todos os nossos aspectos têm dádivas para oferecer. Todas as nossas emoções e traços mostram-nos o caminho de regresso à unidade. O nosso lado obscuro existe para nos apontar onde é que ainda somos incompletos, para nos ensinar a ter amor, compaixão e a perdoar - não apenas aos outros mas também a nós próprios. E ao aceitarmos a sombra, ela curar-nos-á o coração e abrir-nos-á a novas oportunidades, a novos comportamentos e a um novo futuro. Quando trazemos a nossa sombra, as nossas emoções ocultas e as nossas crenças debilitantes à luz da nossa consciência, a forma como nos vemos a nós, aos outros e ao mundo transformar-se-á. Seremos então livres.
Lidar com a nossa sombra é uma jornada complexa mas garante o regresso ao amor. Não apenas amor por outra pessoa mas amor por cada uma e por todas as características que vivem dentro de nós - um amor que nos permite assumir a riqueza da nossa humanidade e a santidade da nossa divindade. Tendo enfrentado os nossos demónios interiores, enchemo-nos de paz e compaixão na presença do lado obscuro de outra pessoa. Podemos perdoar, abandonando as nossas críticas mesquinhas e o nosso coração ressentido. Podemos ligar-nos à humildade de Ghandi, à tolerância de Martin Luther King, Jr., e convocar a força e a coragem para lidar com as questões que nos atormentam. O ditado: "Não fosse pela graça de Deus, também eu seria um infortunado", assume um significado totalmente novo quando conseguimos ver o mal através da lente universal da nossa humanidade. Explorar o nosso lado obscuro é o começo para compreender por que fazemos o que fazemos, por que às vezes agimos de modos que são contrários aos desejos da nossa mente consciente e por que passamos horas, dias, meses ou anos infindos a criticar as outras pessoas e a agarrar-nos a ressentimentos que se limitam a trazer-nos dores de cabeça, amargura e doença.
Todos nós temos momentos passados em que sentimos uma dor emocional insuportável, de modo que a reprimimos no interior das trevas da nossa sombra. Esta é uma parte inevitável da vida. Podemos correr mas não podemos esconder-nos. A nossa sombra está sempre ligada a um acontecimento traumático ou a uma combinação de momentos dolorosos. Quando compreendemos verdadeiramente a nossa sombra e as suas dádivas, não há dedos a apontar ou culpas a lançar aos nossos pais, aos nossos professores ou ao nosso passado, pois a nossa sombra é um serviço de entrega de um futuro extraordinário. Compreender a formação da nossa sombra abre a porta a um enorme poder pessoal e a uma sabedoria profunda." - Debbie Ford

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