quinta-feira, 3 de dezembro de 2015



"Às vezes parece que a chamada sociedade desenvolvida dá claras demonstrações de desorientação e decadência.
De uma forma alarmante, está cada vez mais propagada a crença que considera o trabalho como o eixo principal da nossa existência, como a única coisa que justifica a nossa atenção e os nosso esforços.
Com todo o meu respeito: Que barbaridade! Que maneira de nos confundir! Que forma de desperdiçar a vida!
Há formas de escravidão tão sofisticadas que passam despercebidas. Há poucas coisas piores que a escravidão das nossas mentes, o sequestro da nossa inteligência, o torpor dos nossos sentimentos e a morte da nossa sensibilidade.
Não nos deixemos enganar, somos a espécie mais inteligente mas também a mais frágil. O trabalho engrandece-nos ou torna-nos mais pequenos, segundo os casos, mas nunca pode ou deve substituir aquilo que é mais importante: o nosso desenvolvimento como pessoas.
À margem de crenças religiosas ou costumes culturais, acreditar que a nossa missão é basicamente trabalhar, que devemos dirigir os nossos esforços principais e energias para alcançar objectivos que outros estipularam para nós, que devemos dedicar ao trabalho o tempo que roubamos às nossas famílias, aos nossos amigos, a nós mesmos... constitui um tremendo equívoco. Isto não é progresso, é regressão.
E di-lo alguém que trabalha muitíssimas horas, que desde muito jovem adora o seu trabalho e a sua profissão, mas que não perde a perspectiva de que o tempo mais bem empregue é o tempo que dedicamos às relações humanas, às pessoas que nos rodeiam, à nossa descoberta e crescimento permanentes. A partir de agora, um bom indicador para medir o avanço das diferentes sociedades seria avaliar a capacidade que alcançaram para devolver aos cidadãos aquilo que mais lhes pertence: o seu tempo e, com ele, a sua vida. 
Fazer do trabalho o seu principal baluarte é um erro que cometem supostos triunfadores, muitos aprendizes de executivos agressivos, que acreditam que a sua missão é ganhar o mundo, pois assim poderão chegar ao topo, a essa meta que é uma ilusão, porque nunca lhes proporcionará a autêntica felicidade, nem lhes devolverá a vida que não viveram, nem o tempo que não partilharam.
Felizmente muitas pessoas vêem-no claramente; muitos jovens estabelecem que esse não é o tipo de vida que querem viver.
A chamada sociedade do bem-estar faria muito bem em marcar como objectivo prioritário a devolução desse tempo roubado. O contrário não deixará de ser demagogia ou desculpas que tentam justificar o injustificável.
Em Portugal, neste sentido, estamos muito atrasados. Chegou a hora de tentarmos adiantar-nos e conseguir pelo menos o tempo que a maior parte dos cidadãos europeus tem livre, em que os dias de trabalho, no pior dos casos, não terminam depois das seis da tarde. 
Essa equiparação será uma boa meta para qualquer nação que se preze. O resto, saber preencher esse tempo, empregá-lo naquilo que é mais importante, será a missão e o privilégio de cada um." - Maria Jesus Alava Reyes

Sem comentários:

Enviar um comentário