sexta-feira, 24 de junho de 2016




"Nós próprios, eis a questão da viagem. Nós próprios e mais nada. Ou pouco mais. Pretextos, ocasiões, múltiplas justificações, sem dúvida, mas de facto fazemo-nos à estrada movidos unicamente pelo desejo de nos reencontrarmos, ou mesmo de nos encontrarmos. A volta ao mundo nem sempre basta para atingir este frente a frente. Por vezes nem sequer uma vida inteira. Quantos desvios ou quantos lugares, antes de saber que estamos na presença daquilo que levanta levemente o véu do ser? Os trajectos dos viajantes coincidem sempre, secretamente, com as procuras iniciáticas que colocam a identidade em jogo.

A viagem pressupõe uma experimentação sobre si próprio que remete para os exercícios habituais dos filósofos antigos: o que posso saber sobre mim? O que posso descobrir acerca de mim se mudar de lugar, de orientação e modificar as minhas referências? O que resta da minha identidade quando me liberto das amarras sociais, comunitárias, tribais, quando fico sozinho, ou quase, num meio ambiente quando não hostil, pelo menos inquietante, perturbador, angustiante?" - Michel Onfray

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