sexta-feira, 26 de agosto de 2016




"Enquanto olho à volta para outros seres humanos, escuto os seus suspiros e as suas palavras, vejo que as pessoas acabam por sentir a dor da solidão. E há tantos de nós que fazem de tudo para tentar diminuir essa dor! Sinto grande compaixão pela busca dessas pessoas e sinto uma ligação profunda com elas. E somos todos iguais, na nossa essência. É esta a dança que observei nos seres humanos. Ansiarmos por sermos compreendidos, para sermos vistos por quem somos. É um facto fundamental na nossa vida. E, ao mesmo tempo, há uma parte de nós que sabe que nunca poderá ser totalmente conhecida. É um dos nossos medos básicos. Se me abrir totalmente, como é que irei sobreviver se for rejeitado?
Quando fechamos uma parte de nós, perdemos uma forma de nos relacionarmos com os outros. Parte do nosso percurso, como eu o vejo, é abrirmo-nos, pouco a pouco: primeiro para nós, depois para os outros. Sim, nós somos orfãos. Mas, quanto mais nos abrimos, mais ligados nos sentimos. 
Eu vivo sozinho. Na maior parte do tempo, não estou sozinho. Às vezes, estou. Qual é a diferença? Poderia especular sobre os factores que contribuem para os meus dias solitários, mas não tenho a certeza de que isso adiantasse muito. Afinal, tanto pode ser porque tenho saudades de alguém ou de alguma coisa que me falta como, simplesmente, ter os níveis de serotonina mais baixos nesse dia. Por isso, quando me sinto sozinho, faço o que tenho vindo a fazer há muitos anos. Reparo. Tenho consciência de que estou a sofrer e sinto, simplesmente, o que sinto. E é só. Não me parece agradável. Tal como todas as outras emoções, passa. Mas, se a quisesse combater, sentir pena de mim ou ficar zangado pelas pessoas não me telefonarem, esta solidão ia ficar por muito mais tempo.
Muitas vezes, quando acabo de meditar, vejo um esquilo pela janela e percebo o que temos em comum: esta espécie de força, esta actividade em busca de algum tipo de segurança, para me manter vivo. Às vezes, sinto-me, de tal forma, uma parte integral do universo, que me posso acomodar à orfandade. Sinto amor, sinto-me parte de algo muito maior. Nesses momentos, consigo ligar-me a algo que parece divino - seja dentro de mim, na orfandade ou mais além - não sei, nem me importo. Mas, quando isso acontece, não me sinto sozinho. 
Uma relação íntima com um Deus que nos ama, ajuda muitas pessoas a diminuírem a sua solidão. Mas, mesmo sem o elemento religioso, sentirmo-nos ligados a um mundo maior pode ter o mesmo efeito. Se conseguir prestar atenção à força viva do mundo que nos rodeia, irá acabar por se ver como parte desse mundo. E talvez possa aumentar o seu sentimento de pertença aos seus companheiros orfãos. Pode ouvir os seus suspiros, sentir-se triste e não ter medo." - Daniel Gottlieb

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