sábado, 3 de setembro de 2016








"Quando se entra pelos portões a atmosfera transforma-se. Os autocarros de turistas rondam pelas ruas, mas têm de se movimentar ao ritmo de uma multidão na sua maioria africana. O edifício mais alto não é um hotel internacional, mas o elegante e decorativo minarete da mesquita Koutoubia, que se ergue a uma majestosa altura de setenta metros, e que presenciou o tempo a passar sobre Djemaa el-Fna durante mais de oitocentos anos. Conta-se uma história, sem nenhuma prova tangível, segundo a qual, como o minarete tinha vista directa para um harém, só muezzins cegos lá podiam subir. 
Djemaa el-Fna não é um espaço bonito. É um rectângulo alongado, rodeado por um aglomerado de edifícios banais e filas de táxis estacionados. O seu nome traduz-se por «Assembleia dos Mortos», que se crê ser uma referência à prática de executar aqui os criminosos.
É desconcertante. Há aqui tanto barulho que, tanto quanto sei, ainda podiam estar a executar criminosos. O rebuliço parece não ter nenhum ponto focal, nenhum centro físico. Numa das extremidades, onde há uns portões que dão para o souk, vêem-se turistas a tomar chá nas varandas dos cafés, olhando a actividade de uma distância segura. Os habitantes da terra preferem as tendas de comida, que formam um círculo no centro de Djemaa, lembrando os carros dos pioneiros americanos quando esperavam um ataque dos índios. Estão bem iluminados, e as pessoas que servem a comida têm batas brancas limpas e chapéus a condizer. Esta concessão à higiene do Primeiro Mundo é enganadora. O resto de Djemaa el-Fna é um reino totalmente fora do alcance das roupas de protecção. 
O Djemaa el-Fna é em parte feira, em parte teatro, em parte jardim zoológico, tudo sublinhado com um laivo de misticismo e de ritual primitivo." - Michael Palin

Sem comentários:

Enviar um comentário