sábado, 31 de dezembro de 2016




"Todas as crianças, enquanto ainda vivem o mistério, têm sempre a alma ocupada na única coisa importante: em si mesmas e na secreta conjunção da própria pessoa com o mundo em volta.

A criança tem, por um lado, capacidade de se surpreender, de descobrir desde a inocência, e, por outro lado, a necessidade de se autoafirmar, de expressar a sua identidade em relação ao mundo.

Erich Kästner dizia que «a maioria das pessoas abandona a sua infância como um chapéu velho. Esquecem-na como se fosse um número de telefone que já não presta. Antes eram crianças, depois tornaram-se adultos, mas o que são agora? Só aquele que se converte em adulto, mas continua a manter-se criança é um ser humano». 

A criança luta por se descobrir, por delimitar o seu eu relativamente aos outros e tem os seus sonhos muito claros. Por mais impossível que digam que uma coisa é, quer tentar. Embora saiba que não pode voar, não quer deixar de sonhar que um dia conseguirá.

É importante não esquecer essa parte de nós que não teme a descoberta, desvendar o mistério do possível ou impossível. É o que nos impele a continuar a sonhar e a arriscar para obter o que desejamos.

Em cada adulto dorme uma criança que acredita na magia do mundo e da vida. E leva-a a sério, porque quando a criança brinca aos piratas, está a ser realmente um pirata.

De vez em quando é recomendável sair da voragem para fazer uma lista do que queríamos fazer com a nossa vida, reviver os nossos sonhos de infância e juventude. Ao apontar o que conseguimos e o que nos falta fazer, aperceber-nos-emos de que renunciámos a muitas dessas coisas, talvez porque as víamos impossíveis, porque não nos julgávamos capazes de as levar a cabo ou porque tínhamos medo de cumprir o sonho.

O tempo é um grande aliado da inércia e da preguiça.

Esquecemos a criança que temos dentro de nós, ao enterrar os sonhos que mexeram connosco há anos.

Movidos pela inércia, empurrados pela corrente do mundo adulto, estamos demasiado ocupados a fazer e esquecemo-nos de ser.

Voltar a olhar com os olhos de uma criança, pensar com a mente não condicionada, permite-nos reencontrar o mais genuíno que habita em nós. Vale a pena mergulhar nesta fonte pura e abandonar por momentos o círculo das obrigações, os afazeres e as desculpas em que nos escudamos para não pensarmos na nossa vida com a seriedade com que uma criança brinca." - Allan Percy

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