terça-feira, 28 de março de 2017




"A realidade de qualquer alegria é indescritível no mundo; só nela a criação ainda ocorre (a felicidade, ao contrário, é apenas uma constelação de coisas já presentes que podem ser prometidas e interpretadas). A alegria, porém, é uma maravilhosa multiplicação do que já existe, um puro crescimento a partir do nada. No fundo, quão fraca se mostra a felicidade em prender-nos, pois imediatamente nos permite tempo para pensarmos na sua duração e nos preocuparmos com isso. A alegria é um momento descomprometido, atemporal desde o início, que não se pode segurar, mas que de facto tão pouco se pode perder, pois sob o seu abalo o nosso ser de certo modo modifica-se quimicamente. Na felicidade, ao contrário, o nosso ser prova o seu próprio gosto e desfruta-se a si mesmo simplesmente numa nova mistura.

Preenchido por essa experiência, eu preservei-me bastante das decepções, pois os factos maiores têm o direito de ser inesperados, de ir e vir, e eu não mais espero que eles surjam como consequência de algo grande. Este não está no meu caminho, mas sempre emerge da profundeza irreconhecível e imensurável. E, por isso, nunca paro de senti-lo como possibilidade, mesmo quando deixa de vir." - Rainer Maria Rilke

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