segunda-feira, 5 de junho de 2017





"A realização pessoal não existe se não formos capazes de nos sentir amados e se não amarmos alguém intensa, comprometida e desinteressadamente.

A palavra «amor» é, provavelmente, uma das mais utilizadas nos últimos duzentos anos. Por causa do amor foram justificadas as atrocidades mais incríveis e explicadas as atitudes mais solidárias. Os santos, os ditadores, os bondosos, os assassinos, os sacerdotes, os feiticeiros, os eruditos, os analfabetos, os apaixonados, os que não estão apaixonados, todos falam de amor; mesmo que a maior parte não saiba do que está a falar.

É verdade que definir sentimentos constitui um grande desafio e que é impossível agradar a todas as pessoas, contudo podemos tentar fazer uma aproximação, partilhando alguns conceitos sobre os mesmos.

Para começar, vale a pena esclarecer que o amor verdadeiro e transcendente do qual falamos não é o amor «incomensurável» dos romances românticos, supostamente eterno e, por conseguinte, exclusivo.

Tão-pouco é, necessariamente, o amor das tragédias gregas, dramático e irresistível. 

Não é um sentimento sublime, reservado a poucos, nem algo que se sente exclusivamente num momento da vida junto a uma única pessoa.

O amor ao qual nos devemos abrir é o amor do nosso dia-a-dia, o sentimento possível e diário a que nos referimos quando sentimos que «gostamos muito de alguém».

Se partirmos do conceito de gostar, cujo significado é o mais puro interesse pelo bem-estar da outra pessoa, torna-se fácil compreender a capacidade de sentirmos com honestidade um verdadeiro interesse pelo que possa acontecer aos outros, seja ao nosso filho, à nossa mãe, ao nosso cônjuge, ao nosso vizinho ou a um indivíduo anónimo e desconhecido.

Estou convencido de que, para atingirmos a nossa meta, é imprescindível mantermos pelo menos uma relação com alguém que não só seja importante para nós, como, acima de tudo, que consiga fazer-nos perceber que somos importantes.

Alguém que festeje com sinceridade cada um dos nossos êxitos.

Alguém que nos queira acompanhar tanto nos momentos fáceis como nos difíceis.

Alguém que seja capaz de respeitar os nossos timings e as nossas escolhas.

Alguém que desfrute da nossa companhia sem desejar colocar-nos na lista das suas possessões.

Alguém que nos demonstre que nos ama mesmo em situações de desencontro e após momentos de discussão ou de aborrecimento.

Uma pessoa, em resumo, cujo bem-estar continue a ser determinante para nós, ainda que em determinados momentos, em que se encontra furiosa por alguma razão ou cega pelo seu aborrecimento, nos assegure que já não gosta de nós, ou quando se sente magoada e ferida, teime em afirmar que nunca nos perdoará.

Todos os filósofos, pensadores, religiosos e terapeutas que ficaram para a História criaram provavelmente a sua própria definição sobre o amor. Entre aquelas a que tive acesso, escolho a do colega Joseph Zinker, que propõe a seguinte definição no seu livro O Processo Criativo:

O amor é regozijo pela mera existência 

da pessoa amada.

Talvez esta definição não o satisfaça.

Talvez preferisse apoiar-se na sua própria definição.

Para mim, o amor é a decisão sincera de criar para a pessoa amada um espaço de liberdade tão amplo, tão amplo, tão amplo que esta possa escolher fazer da sua vida, dos seus sentimentos e do seu corpo aquilo que deseja, ainda que a sua decisão não me agrade, ainda que a sua escolha não me inclua." - Jorge Bucay

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