sexta-feira, 23 de junho de 2017





"Construímos colectivamente um mundo fantástico de maravilhas tecnológicas, de prodígios científicos e de uma produtividade ímpar. Mas, neste mundo, o melhor de entre todos os possíveis, aprendemos tanto sobre como fazer que nos esquecemos do que é ser.

É o maior desafio do nosso mundo contemporâneo, a redescoberta da essência do ser, da qual brotam as nossas vidas activas e à qual essas mesmas vidas se interligam. Sem um contacto directo com essa base, o nosso trabalho, as nossas respectivas actividades, as complexidades da vida moderna, passam todas a estar desligadas, a ser simplesmente mecânicas e sem sentido. Sem uma relação com o todo, o indivíduo passa a estar isolado, sem qualquer objectivo ou contexto social. Se não reconhecermos a realidade da existência, vasta, intemporal e unitária, não poderemos compreender esse mundo relativo a que damos expressão nas nossas vidas quotidianas. Cada um de nós sabe, com base na sua própria experiência, que somos capazes de amar, que ansiamos pela manifestação e recepção desse amor em toda a estrutura da nossa vida. Contudo, parecemos estar presos ao aspecto da realização prática, à pressão da sobrevivência e à concretização de objectivos, ao encaminhamento dos nossos relacionamentos, à logística de levar a cabo cada dia, e depois o dia seguinte, e mais outro ainda. Todos nós sabemos que isto não é suficiente, que a aptidão mais profunda do ser humano não é a mera capacidade de ser produtivo, mas sim o reagir face a tudo o que nos rodeia. O ser humano consegue dar expressão à interligação da vida. Somos capazes de agir por amor. Mas, concretamente, de que forma conseguimos descobrir o nosso caminho através da estrutura labiríntica das nossas vidas? Como podemos encontrar o caminho que conduz a esse amor? E que podemos fazer em relação a tudo isto?

Somo executantes, realizadores, gente de acção. Estamos aprisionados em vidas em que fazemos demasiado, onde perdemos a perspectiva do que é ser. Queremos saber o que poderemos fazer para as modificar. Queremos reparar as nossas vidas. Queremos construir vidas melhores. Queremos fazer mais. Mas, como é óbvio, fazer nunca nos permitirá ser. Não existe nada que possamos fazer, nem qualquer actividade capaz de nos transportar à tranquilidade de ser. Não há nada a fazer! No decurso deste raciocínio, apercebemo-nos de algo mágico: ser é o que resta quando deixamos de tentar esforçadamente. Quando paramos, descobrimos a vastidão da vida, do amor, da ligação aos outros. Mas pode ocorrer outra introspecção, talvez até mais profunda. É que, do cerne deste vasto amor, da sua base enquanto ser, brota o verdadeiro movimento da vida - da nossa vida. Essa vida que se pode revelar um grande desafio e uma sobrecarga é também a mesma vida que constitui a expressão do infinito. Sob a perspectiva da própria vida, a forma e a ausência de forma não são diferentes; fazer e ser são um só.

Não podemos viver sem agir e não conseguimos ser felizes sem amor. Este vaivém entre o absoluto e o relativo, do todo e da parte é a vida em que nos encontramos. O nosso objectivo não é a ausência de actividade ou a negação do amor, mas sim a descoberta da quietude em movimento, do todo na forma, da plenitude do vazio. O destaque desta exploração é este momento, esta vida. É a própria vida que agarramos, e não uma abstracção, nem um sistema espiritual que deva ser aprendido e praticado, mas sim e sempre, a vida actual, vital, em constante mutação, por vezes avassaladora, que cada um de nós tem de viver. A vida acontece todos os dias. Não tira férias. É o contexto inevitável que nos foi concedido e que proporciona a cada um de nós a maior de todas as oportunidades, a descoberta dos fundamentos de ser a cada momento e a serenidade de todos os dias." - Steven Harrison

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