quarta-feira, 7 de junho de 2017






"É muito comum que só quando as pessoas sentem subitamente que estão a perder o seu companheiro é que se apercebem de que o amam. Então agarram-se ainda mais a ele. Mas quanto mais se apegam, mais a outra pessoa lhes escapa e mais frágil a relação se torna. 

Tantas vezes queremos felicidade, mas a própria forma como a procuramos é tão desajeitada e inapropriada que apenas nos causa mais transtorno. Normalmente, presumimos que temos de agarrar para conseguir algo que garanta a nossa felicidade. Perguntamo-nos: Como é possível desfrutar de algo se não pode ser nosso? Quantas vezes se confunde apego por amor! Mesmo quando a relação é boa, o amor é corrompido pelo apego, com a sua insegurança, possessividade e orgulho; e de seguida, quando o amor acaba, tudo o que resta são as «recordações» do amor, as cicatrizes do apego.

Como podemos então vencer o apego? Apenas compreendendo a sua natureza impermanente; este entendimento liberta-nos lentamente do seu domínio. Acabamos por vislumbrar o que os mestres dizem a propósito da verdadeira atitude em relação à mudança: como se fôssemos o céu a olhar para as nuvens que passam ou tão livres como mercúrio. Quando deixamos cair mercúrio no chão, a sua própria natureza é a de permanecer intacto; nunca se mistura com o pó. À medida que tentamos seguir o conselho dos mestres e somos lentamente libertados do apego, surge em nós uma imensa compaixão. As nuvens do apego separam-se e dispersam-se, e o sol do nosso verdadeiro coração compassivo resplandece. É nessa altura que começamos a experimentar, no âmago do nosso ser, a verdade jubilante destas palavras de William Blake:

Aquele que ata a si próprio uma alegria,

Destrói as asas da vida;

Aquele que beija a alegria enquanto ela voa,

Vive na aurora da Eternidade." - Sogyal Rinpoche

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