quinta-feira, 27 de julho de 2017





"Podemos afirmar que o segredo para deixar de ser um picuinhas é dar menos importância à comodidade. Até mesmo fugir dela.

Vivemos na era mais cómoda da História da Humanidade. Com efeito, o progresso ocidental tem no conforto o seu maior êxito: ar condicionado, aquecimento, máquinas de lavar, frigoríficos, sofás ergonómicos... E, contudo, cada vez nos encontramos mais perturbados no plano emocional.

Os meios de comunicação fizeram-nos crer que o conforto é a origem da felicidade, mas isso nunca foi verdade. O que não nos impediu de engolir a ideia. Aliás, para nos venderem produtos, as imagens dos anúncios limitam-se a apresentar pessoas basicamente felizes graças à comodidade, ao falso elixir do bem-estar.

Não obstante, a única certeza que temos é que a comodidade é como o chocolate: só é boa em certa medida. Um pouco de comodidade cai bem; demasiada comodidade provoca diarreias mentais. Porque uma pessoa feliz está activa, goza da natureza, interessa-se pelo que a rodeia, tem projectos mas não presta demasiada atenção ao conforto. Simplesmente não o faz!

Será que, se pudéssemos viver num ambiente inteiramente confortável - fechados para sempre numa divisão à temperatura perfeita, comida sempre à mão, sentados numa poltrona cómoda... para o resto da nossa vida -, seríamos felizes? Nem pensar! Que tédio!

No verão faz um calor que nos deixa a suar em bica? Que importa isso quando se está a viver uma inacreditável aventura em Banguecoque? Doem-lhe os pés e sente-se cansado? Que importa se estiver numa excursão montanhista e prestes a banhar os pés num regato?

O picuinhas tem de aprender que a felicidade e a comodidade são, muito frequentemente, incompatíveis. A sua hipersensibilidade ao ruído, às esperas nos engarrafamentos, aos erros dos demais... é devida, portanto, ao endeusamento que faz do conforto. Nesse sentido, é conveniente que nos perguntemos a nós próprios: «Prefiro ser feliz ou sentir-me sempre cómodo?» Importa compreender que não é possível ter as duas coisas ao mesmo tempo." - Rafael Santandreu

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