quarta-feira, 2 de agosto de 2017





"O tempo pode parar, estou convencido disso; alguma coisa estala e pára, girando interminavelmente, tal como uma folha num ribeiro."

John Banville

Sim, eu também estou convencido que o tempo pode ficar em suspenso. Acredito mesmo que essa paragem é o tempo mais real de todos. O escritor irlandês John Banville, no seu romance Os Intocáveis, descreve o desejo de uma das personagens de falar ao seu interlocutor sobre as "coisas verdadeiras":

"Queria descrever-lhe o raio de Sol irrompendo pelas nuvens de veludo (...) a incongruente alegria da chuvada que se abateu sobre nós no dia do funeral do meu pai, dessa noite (...) quando vi o navio vermelho sob a ponte de Blackfriars e compreendi o trágico significado da minha vida: por outras palavras, as coisas verdadeiras; as coisas importantes."

Estes são os momentos em que o tempo pára. Um raio de Sol, a chuva, um navio vermelho, todos símbolos carregados de significado. Mas o coração da personagem de Banville contém "as coisas verdadeiras". A sua vida interior revestia-se de um significado mais urgente do que os factores externos que mencionava: por que razão se encontrava à luz do Sol nesse momento, com quem caminhava quando viu o navio vermelho, e até mesmo o enterro do pai.

Quando o tempo fica suspenso, pode estar certo de que contém algo de muito importante.

Para permitir que essa calma fértil se instale, deveremos estar quietos, tal como uma folha que gira interminavelmente nas águas de um ribeiro, presa num remoinho, enquanto o ribeiro prossegue o seu caminho em direcção ao mar.

Procure os momentos em que o tempo fica suspenso durante os seus dias agitados. A que se assemelham? Consegue recordar-se de alguns do seu passado?

E especialmente procure a verdade. Preste muita atenção à verdade que se revela nesses momentos, porque ela irá certamente enriquecer a sua vida." - David Kundtz

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