quarta-feira, 27 de setembro de 2017





"Para se elaborar uma relação, é necessário um espaço de compromisso e permanência que garanta uma base de segurança, de confiança no futuro, de crescimento e plenitude. Dito de uma forma mais simplista, uma relação verdadeira implica compromisso ou, o que é o mesmo, que estejamos nela por inteiro. Neste sentido, pode considerar-se que o amor é exigente: não pode ser vivido pela metade, não quer partes, não cresce quando não é integral, não cria projectos parciais. Não merece a pena viver o amor com uma disposição frouxa, porque a entrega a outra pessoa é uma rendição pessoal. 

Muitas relações morrem às mãos dos egos individuais. Para muitas pessoas, a entrega ao outro e o cuidado do outro são aspectos encarados como perdas pessoais, ou uma diluição no par amoroso, mas não é isto que se passa. Pelo contrário, uma pessoa encontra-se a si mesma ao encontrar o outro, e essa convergência promove a sua felicidade, ou seja, ao fazê-lo, essa pessoa acaba por descobrir a sua própria felicidade. O contrário gera medo, e engendra a necessidade de se reforçarem as defesas individuais. Assim, cada pessoa acaba por se identificar com aquilo que é «exclusivamente seu», e por criar, consciente ou inconscientemente, espaços de confronto. Esta é a via mais directa para a perda de respeito mútuo.

O respeito é um dos grandes ingredientes de uma consciência evoluída, entre outras coisas por que significa estar-se presente. Que melhor prenda podemos oferecer a alguém do que a nossa presença? Não se trata de uma presença física, mas de uma vontade de escutar o outro, de permitir que o som das suas palavras, o timbre da sua voz, a sua vibração, a energia que dele emana e que traduz o seu estado de alma, enfim, a sua presença penetrem o nosso ser. Há que estar presente, gerando uma convergência no espaço e no tempo. Não encontro um símbolo de respeito mais eloquente do que a presença de um perante a emergência do outro.

Obviamente que o respeito também pressupõe a elegância na comunicação, a renúncia à urgência das nossas palavras, gestos e intenções. O respeito aprecia a beleza, o tempo, a ocasião, a forma, a sintonia e a empatia, e permite que o outro seja plenamente quem é. O respeito é, pois, condição necessária para sermos respeitados.

O oposto disto é o menosprezo: quando não temos o outro em conta, separamo-nos dele. A ausência do outro é uma falta de consideração grave. É algo que se nota bem. O menosprezo é menos evidente, e utiliza, amiúde, formas subtis de mascarar o mal-estar que nos causa a presença do outro.

O menosprezo pode entender-se como qualquer afirmação formulada a partir de um plano de superioridade, e que visa posicionar o outro num plano de inferioridade. A maioria das vezes trata-se de um insulto. Receber o menosprezo de alguém que amamos é de tal forma stressante, que pode chegar a afectar o sistema imunitário. Conclusão: a partir do momento em que o menosprezo se torna mensurável, já não merece a pena conhecerem-se outros aspectos da relação." - Xavier Guix

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