sábado, 4 de novembro de 2017





"No enamoramento, há uma primeira fase em que os dois enamorados vivem uma extraordinária experiência de transfiguração do mundo e da pessoa amada. É o estado nascente. Muitos, porém, pensam que se trata apenas de uma violenta tempestade emocional e acham que a construção do casal estável acontece depois, graças à razão e à vontade. Não é assim. A paixão do enamoramento não é apenas um furacão de sentimentos, é também uma intensíssima actividade intelectual em que os dois enamorados se estudam, debatem as próprias vidas, descobrem as suas tendências mais profundas, fazem projectos e lançam as bases do seu relacionamento futuro.

Cada um deles quer saber tudo sobre o seu amado, quer ver o mundo como o viu quando era adolescente, jovem, quer participar nas suas alegrias e nos seus sofrimentos. Ao mesmo tempo, quer contar-lhe tudo sobre si mesmo, sobre a sua vida, contar-lhe as suas esperanças, as suas desilusões, os seus sonhos. Muitos escutam tão avidamente a história de vida do seu amado, participam tão intensamente, que têm a impressão de terem estado sempre a seu lado, de o terem observado (não visto) com ansiedade, com emoção, porque já então o amavam.

E o grande amor apaixonado que dura abraça tudo: o presente, o passado e o futuro. Mistura o tempo e o espaço, de forma que temos a impressão de termos amado o nosso dileto mesmo quando ainda não o conhecíamos, até mesmo quando estava com outro. E parece-nos que fomos feitos um para o outro, que estávamos destinados a apaixonar-nos, que tínhamos inconscientemente esperado um pelo outro. Muitos enamorados chegam a perguntar-se: «Porque não te encontrei antes, meu amor? Porque apareceste tão tarde?» É graças a esta correspondência, a este entrelaçamento temporal, que o amor se torna duradouro, porque nenhum dos dois consegue pensar em si mesmo sem o outro, nem hoje nem ontem nem amanhã." - Francesco Alberoni

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