sábado, 30 de junho de 2018





"Nós queremos fugir da nossa solidão, com os seus medos que nos fazem entrar em pânico, e portanto dependemos de outrem, enriquecemo-nos com o companheirismo, e assim por diante. Nós somos as figuras principais, e os outros tornam-se peões no nosso jogo; e quando o peão se vira e exige algo em troca, ficamos chocados e magoados. Se a nossa fortaleza for resistente, sem apresentar nenhuma brecha, este ataque vindo do exterior traz-nos poucas consequências. As tendências peculiares que vão surgindo com a idade devem ser compreendidas e corrigidas enquanto ainda somos capazes de uma auto-observação e de um estudo de nós mesmo desapegados e tolerantes; os nosso medos devem ser observados e compreendidos no presente. As nossas energias devem ser direccionadas, não apenas para a compreensão das pressões e das exigências exteriores pelas quais somos responsáveis, mas também para a compreensão de nós mesmos, da nossa solidão, dos nossos medos, exigências e fragilidades.

Não existe tal coisa a que se possa chamar viver sozinho, pois todo o viver é relacionamento; mas viver sem um relacionamento directo exige uma inteligência elevada, uma atenção mais viva e maior relativamente à autodescoberta. Uma existência «solitária», sem esta atenção penetrante e fluída, fortalece as tendências que já são dominantes, dando assim origem ao desequilíbrio, à distorção. É no presente que temos de nos tornar conscientes dos hábitos rígidos e peculiares do pensamento-sentimento que vêm com a idade, e, através dessa compreensão devemos acabar com eles. Somente as riquezas interiores nos podem trazer paz e alegria." - Jiddu Krishnamurti

sexta-feira, 29 de junho de 2018





"Seria mais construtivo se as pessoas tentassem compreender aqueles que crêem ser seus inimigos. Aprender a perdoar é muito mais útil do que apanhar uma pedra e atirá-la ao objecto da nossa raiva, sobretudo quando a provocação é extrema. É nas maiores adversidades que existe o maior potencial para fazer o bem, tanto para si mesmo, como para os outros." - Dalai Lama

quinta-feira, 28 de junho de 2018





"A experiência não é aquilo que nos acontece.

É aquilo que fazemos com o que nos acontece." - Aldous Huxley


"E se, aos 46 anos, ficasse completamente desfigurado, com queimaduras graves, devido a um trágico acidente de mota e, quatro anos mais tarde, ficasse paralisado da cintura para baixo devido à queda de um avião? Conseguiria imaginar-se a tornar-se um milionário, um orador respeitado, um feliz recém-casado ou um empresário de sucesso? Consegue imaginar-se a fazer rafting? Ou a saltar em queda livre? A candidatar-se a um cargo político?

O W. Mitchell fez todas estas coisas e mais algumas, depois de dois terríveis acidentes que lhe transformaram o rosto numa espécie de manta de retalhos, com enxertos de pele de vários tons, as mãos sem dedos e as pernas mirradas e imóveis, presas a uma cadeira de rodas.

As 16 cirurgias a que o Mitchell se sujeitou depois de ter queimado mais de 65% do corpo num acidente de mota deixaram-no incapaz de pegar num garfo, usar o telefone ou ir à casa de banho sem a ajuda de alguém. Mas o Mitchell, um ex-fuzileiro naval, nunca acreditou na derrota.

- Sou o comandante da minha nave espacial - dizia. - Todas estas desventuras são minhas. Posso optar por encarar esta situação como um revés ou como um ponto de partida.

Seis meses depois, já estava a pilotar um avião.

O Mitchell comprou uma casa vitoriana no Colorado, algumas propriedades, um avião e um bar. Mais tarde, juntou-se a dois amigos e fundou uma empresa de fogões a lenha que acabou por se transformar no segundo maior empregador do sector privado de estado do Vermont.

Quatro anos depois do acidente de mota, o Mitchell estava a pilotar o seu avião quando, ao levantar voo, o aparelho se despenhou contra a pista, esmagando-lhe 12 vértebras torácicas e paralisando-o da cintura para baixo.

- Fiquei a pensar no que raio me estava a acontecer. O que teria feito para merecer tudo aquilo?

Destemido, trabalhou noite e dia para conseguir voltar a ser o mais independente possível. Foi eleito presidente da Câmara de Crested Butte, no Colorado, para salvar a cidade da indústria de extracção mineira que acabaria por arruinar a sua beleza natural e o meio ambiente. Mais tarde, concorreu à Câmara dos Representantes, transformando a sua aparência invulgar numa mais-valia, com slogans como: "Não queira apenas mais uma cara bonita."

Apesar do choque inicial com a sua aparência e deficiência física, o Mitchell começou a praticar rafting, apaixonou-se e casou, tirou um mestrado em Administração Pública e continuou a pilotar, a dedicar-se aos problemas do meio ambiente e às palestras. 

A sua inabalável atitude Mental Positiva já lhe valeu a participação em programas como o Today Show e o Good Morning America, e reportagens na Parade, na Time, no New York Times e noutras publicações.

- Antes de ficar paraplégico, havia 10 mil coisas que podia fazer - explica. - Agora consigo fazer 9 mil. Posso insistir em concentrar-me nas 1000 competências que perdi ou focalizar a minha atenção nas 9 mil que ainda tenho. Costumo dizer às pessoas que tive dois grandes contratempos na vida. Se escolhi não utilizá-los como pretexto para desistir, então, talvez algumas das experiências por que esteja a passar e que o estejam a puxar para baixo devam ser encaradas de uma forma diferente. Dê um passo atrás, vejas as coisas numa perspectiva mais ampla e diga para si mesmo: "Afinal, talvez isto não seja assim tão importante."

Lembre-se: "O importante não é o que lhe acontece, mas a sua reacção ao que lhe acontece." - Jack Canfield e Mark Victor Hansen

segunda-feira, 25 de junho de 2018





"A diferença entre um homem vulgar e um guerreiro é que o guerreiro encara tudo como um desafio, e o homem vulgar encara tudo como uma bênção ou como uma maldição." - Don Juan


"O Roger Crawford tinha tudo o que precisava para jogar ténis - excepto duas mãos e uma perna. Quando os pais do Roger olharam pela primeira vez para o filho, viram um bebé com uma protrusão semelhante a um polegar ligada directamente ao antebraço direito e um polegar e um dedo ligados ao antebraço esquerdo. Não tinha palmas das mãos. Os braços e as pernas eram excessivamente curtos, só tinha três dedos no raquítico pé direito e uma perna esquerda atrofiada, que acabaria por ser amputada.

O médico disse aos pais que o Roger sofria de electrodactilia, uma malformação congénita rara que afecta apenas uma em cada 90 mil crianças nascidas nos Estados Unidos. O médico explicou-lhe que era provável que o Roger nunca viesse a andar ou a ter uma vida autónoma.

Felizmente, os pais do Roger não acreditaram no médico.

- Os meus pais sempre me ensinaram que as minhas limitações vão até onde eu quiser - disse o Roger. - Nunca me deixaram ter pena de mim mesmo nem aproveitar-me dos outros por causa da minha doença. Uma vez, meti-me em sarilhos por entregar os trabalhos da escola sempre tarde - explicou o Roger, que tinha de segurar o lápis com as duas "mãos" para conseguir escrever, ainda que devagar. - Pedi ao meu pai para falar com os professores para que me dessem dois dias extra para a entrega dos trabalhos. Em vez disso, o meu pai obrigou-me a começar a fazê-lo dois dias mais cedo!

O pai do Roger sempre o incentivou a praticar desporto, ensinando-o a apanhar e a atirar uma bola de voleibol e a jogar futebol americano com os amigos depois das aulas. Aos 12 anos, conseguiu entrar para a equipa de futebol da escola.

Antes de cada jogo, o Roger visualizava o seu sonho de marcar um touchdown. Até que surgiu a oportunidade de tornar o sonho realidade. A bola foi parar-lhe às mãos e o Roger correu o mais que pôde com a sua perna artificial em direcção à linha de golo, enquanto o treinador e os colegas de equipa o aplaudiam, entusiasmados. No entanto, ao chegar à linha das 10 jardas, um jogador da outra equipa agarrou-lhe o tornozelo esquerdo. O Roger tentou libertar-se do adversário, mas, em vez disso, a perna artificial acabou por ser arrancada.

- Continuei em pé - recorda o Roger. - Não sabia o que fazer senão saltar ao pé coxinho até à linha de golo. O árbitro correu na minha direcção e ergueu os braços. Touchdown! Melhor do que os seis pontos foi ver a cara do outro jogador a segurar a minha perna artificial na mão.

A paixão do Roger pelo desporto aumentou, tal como a sua autoestima. Mas nem todos os obstáculos cederam diante da determinação dele. Comer no refeitório com os outros colegas que o fitavam enquanto ele se esforçava por conseguir levar os alimentos à boca foi uma experiência bastante dolorosa, tal como os repetidos insucessos na aula de dactilografia.

- Aprendi uma lição importante nessas aulas - explicou o Roger. - É impossível fazermos tudo. O melhor é concentrarmo-nos naquilo que conseguimos fazer.

Uma das coisas que o Roger conseguia fazer era balançar uma raquete de ténis. Infelizmente, quando o fazia com força, o punho fraco lançava-a pelo ar, desgovernada. Por sorte, o Roger encontrou uma raquete de ténis estranha numa loja de desporto e, ao pegar nela, enfiou sem querer o dedo no meio do punho duplo. O ajuste perfeito permitia-lhe manusear livremente a raquete, como um jogador fisicamente apto. Começou a praticar ténis todos os dias e, num instante, já jogava - e perdia - jogos.

Mas o Roger era persistente. Treinava, treinava, jogava e jogava. Submeteu-se a uma cirurgia aos dois dedos que tinha na mão esquerda, o que lhe permitiu agarrar a raquete especial de uma forma mais perfeita, acabando por melhorar significativamente o seu desempenho. Embora não tivesse qualquer modelo para o orientar, ficou obcecado pelo ténis e, com o tempo, começou a alcançar vitórias.

Jogou ténis pela faculdade e terminou a carreira de tenista com 22 vitórias e 11 derrotas. Mais tarde, tornou-se o primeiro tenista deficiente motor a ser certificado como instrutor profissional pela United States Professional Tennis Association. Hoje em dia, o Roger viaja por todo o país para dar palestras sobre o que é preciso para sermos vencedores, independentemente das nossas limitações.

- A única diferença entre nós é que você consegue ver a minha deficiência e eu não consigo ver a sua. Mas todos a temos. Quando me perguntam como consegui ultrapassar as minhas limitações físicas, respondo que não ultrapassei rigorosamente nada. Aprendi simplesmente a reconhecer aquilo que não consigo fazer, tal como tocar piano ou comer com pauzinhos, e, acima de tudo, aprendi a perceber aquilo que consigo fazer. E faço aquilo que posso com alma e coração." - Jack Canfield

domingo, 24 de junho de 2018





"O relacionamento baseado na necessidade mútua só pode trazer conflito. Independentemente do quanto possamos ser independentes, nós estamos a usar-nos uns aos outros com um propósito, com um fim. Quando há um fim em vista, não há relacionamento. Vocês podem usar-me e eu posso usar-vos. Neste uso perdemos o contacto. Uma sociedade baseada no uso mútuo constitui os alicerces da violência. Quando utilizamos outra pessoa, temos apenas a imagem do fim que temos em vista. O fim, o ganho, impede o relacionamento, a comunhão. Na utilização de outra pessoa, por mais gratificante e reconfortante que seja, está sempre presente o medo. Para evitarmos este medo, temos de possuir. A partir desta posse surgem a inveja, a desconfiança e o conflito constantes. Um tal relacionamento nunca poderá ser uma fonte de felicidade.

Uma sociedade cuja estrutura se baseia na mera necessidade, fisiológica ou psicológica, tem forçosamente de alimentar o conflito, a confusão e a miséria. A sociedade é a projecção de vós mesmos no vosso relacionamento com o outro, no qual predominam a necessidade e a utilização. Quando fazem uso de outra pessoa para responderem às vossas necessidades, físicas ou psicológicas, não estão, de facto, em relação com essa pessoa; não têm verdadeiramente qualquer contacto com ela, nenhuma comunhão com ela. Como é possível estarem em comunhão com o outro quando ele está a ser utilizado como uma peça de mobiliário, para vossa conveniência e conforto? Portanto, é essencial compreender a importância do relacionamento na vida diária." - Jiddu Krishnamurti

sábado, 23 de junho de 2018





"Como se pode voltar a confiar depois de nos sentirmos traídos? Como se pode confiar quando só se sabe desconfiar?

Alguém sobrevive a uma separação mantendo, sem que ela adoeça, a sua competência para a paixão? As separações aguçam ou comprometem a fé, que todos temos, num amor a sério e verdadeiro? As pessoas separam-se por que se cansaram de acreditar no amor ou porque acreditam nele? É possível confiar no amor quando, depois de nos divorciarmos, a pessoa de quem nos separámos continua a "dormir connosco" e, contra a nossa vontade, continua a entrar nos nossos sonhos (por mais que, à conta disso, eles não passem de enormes pesadelos)? Como é que nos tornamos capazes de nos apaixonarmos outra vez quando saímos dum divórcio, financeiramente, mais pobres, com filhos, com mais encargos e a ter que conviver, mais ou menos para sempre, com a pessoa com quem escolhemos não estar?

Nunca se ama "à segunda vez" como se amou "à primeira". De modo algum porque um primeiro amor seja mais maduro e profundo como só um amor maduro pode ser. Mas porque as dúvidas, os medos e as desconfianças que se vão sedimentando de outras relações transformam cada novo amor num corropio de contradições, próprias de um amor verdadeiro.

Como se pode confiar quando, sobretudo, se põe em dúvida e se desconfia?... Amando com mais transparência e com mais verdade. Nunca amando de malas à porta. Nunca amando com um pé numa relação e o outro noutra, diferente. Nunca amando a olhar para trás.

Daí que o  Dei-lhe uma segunda oportunidade, tão banal aos nossos ouvidos, acabe por ser: Dei-me uma segunda oportunidade. Ou, de forma mais clara: Dei-me A oportunidade. Por mais que um novo amor corra o risco de ser uma permanente cisma do género: Diz-me que não és ele ("o outro", claro). E lhe apresentemos um ror de "facturas" de outros amores que tenhamos vivido, como se um novo amor precisasse, primeiro, de exorcizar os nossos "fantasmas"; depois, de espantar os nossos medos; para que, a seguir (de preferência, até à exaustão), o coloquemos em dúvida.

Como se pode voltar a amar quando nos sentimos traídos? Não dando nunca menos que o máximo de nós. Nunca traindo aquilo que esperamos do amor. Nunca escondendo partes de nós que sintamos "feias". Nunca ocupando "pouco espaço" no "nosso" amor. Nunca deixando que o amor adoeça com o rancor que nos ficou doutros amores. Não permitindo que a culpa, que nos abala, inquine a gratidão que o amor nos deixou.

Se amar é muito difícil, amar outra vez desnuda, exige, revolve e dói bem mais. Mas só isso nos leva a descobrir que talvez não haja amor como "O segundo"." - Eduardo Sá

quarta-feira, 20 de junho de 2018





"- O amor é fácil?

Mas tinha de ser?... Tudo o que é importante dá muito trabalho. Exige tempo e tempo e tempo! Não se conquista sem contradições. E - pior, talvez - apanha-nos sempre de surpresa. Isto é: nunca estamos preparados para o amor.

Porquê? - imagino que pergunte. Porque, às vezes, só gostamos de alguém porque gosta de nós. Ou gostamos da forma como gostam de nós mais do que gostamos de si. E, depois, porque duas pessoas são dois mundos diferentes. Duas histórias singulares. São um comboio de pessoas, mais ou menos coligadas. Têm sonhos que nem sempre se cruzam. Dois corpos com ritmos e sensibilidades muito suas. E compromissos que se atropelam. Tudo isso a precisar de se ligar numa mesma cumplicidade. É tudo isso que torna o amor difícil. E mágico! E nos torna fáceis (quando ele existe). Mas, ainda assim, é muito difícil o amor.

- Para que serve o amor?

Para descobrir que há sempre um milagre quando duas pessoas acreditam naquilo que sentem e creem uma na outra, ao mesmo tempo. É sempre preciso duas pessoas que se amem duma forma cúmplice - e além da necessidade de palavras - para que haja um milagre!

- O amor vale a pena?

Como não vale?... Trazer mistérios para a vida ajuda-nos a perceber que é com eles, e pela forma como se desvendam, que se vai do estranho ao maravilhoso. E - mais, ainda -, serve para descobrirmos que é por convivermos com aquilo que nos torna, por vezes, quase minúsculos, que o coração nos arrebata e nós crescemos.

No mundo das pessoas, o eu e o tu, sempre que vão a sufrágio, nunca ganham sem se coligarem. As maiorias absolutas fazem parte do campeonato de Deus. E mesmo aí, a propósito da forma como o amor se esquece de nós, há quem desconfie da justiça do "árbitro".

- As pessoas lutam pelo amor?

Não! Nem sequer o escolhem. Receio que a maioria das pessoas viva o amor fazendo de Gata Borralheira. Oscilam entre um slogan que diz que "o mais importante é o amor", ao mesmo tempo que, sempre que alguém  luta por ele, deixam cair: "Ah! Tu ainda acreditas no Pai Natal!"

- Porque é que, a propósito do amor, "muito cedo se torna tarde demais"?

Porque as pessoas são pouco atrevidas quando se trata de desejar, simplesmente, o amor. E são pouco atrevidas porque talvez sejam mais tristonhas  ou mais deprimidotas, por dentro, do que imaginam. Como se tivessem sido levadas a supor que aquilo que são nunca chegue para trocarem o certo (do desamor) pelo incerto (da paixão). Mas será certo viver em desamor e, pelo contrário, será incerta uma paixão?

- Porque é que somos tão batoteiros a propósito do amor?

Eu não acho que seja por não gostarmos de trabalhar. A preguiça é a batota a que deitamos a mão para fazermos de conta que o amor não quer nada connosco. Não trabalhamos tanto para ele como devíamos porque, no fundo, acreditamos menos nele do que vamos afirmando todos os dias.

- Ama-se a partir do zero?

Jamais!

- E é possível amar sem dor?

Também não. Sempre que a dor não cabe num amor, talvez nunca se ame.

Talvez, por tudo isso - e mais, talvez -, as pessoas trabalhem muito pouco para o amor. De forma estranha, reconheço. Porque, ao mesmo tempo que  se contorcem com o desamparo da sua falta, o embrulham num "que se lixe o amor!" que não as cansa." - Eduardo Sá

terça-feira, 19 de junho de 2018





"Onde houver um ser humano, há uma oportunidade de ser generoso." - Séneca


"Nós, os que vivemos em campos de concentração, lembramo-nos dos homens que entravam nas cabanas a tentar confortar os outros, abdicando do seu último pedaço de pão. Podiam ser poucos, mas são a prova mais do que suficiente de que podem tirar tudo a um homem, excepto uma coisa: a última das suas liberdades - escolher a atitude a adoptar diante de qualquer circunstância, escolher o seu próprio caminho." - Viktor E. Frankl

segunda-feira, 18 de junho de 2018





"A realidade, a verdade, não pode ser reconhecida. Para que a verdade surja, a crença, o conhecimento, a experiência, a virtude, a procura da virtude - que é diferente de ser-se virtuoso -, tudo isto tem de desaparecer. A pessoa virtuosa que está consciente de procurar a virtude nunca poderá encontrar a realidade. Poder ser uma pessoa muito decente; mas isso é inteiramente diferente do homem de verdade, do homem que compreende. Para o homem de verdade, a verdade ganhou existência. Um homem virtuoso é um homem correcto, e um homem correcto nunca pode compreender o que é a verdade; porque para ele a virtude é a cobertura do eu, o reforço do eu; porque ele procura a virtude. Quando ele diz: «Não devo ser ganancioso», o estado no qual ele não é ganancioso, e que ele experimenta, fortalece o eu. É por isso que é tão importante ser-se pobre, não apenas no que se refere às coisas mundanas, mas também no que diz respeito à crença e ao conhecimento. Um homem abastado em riquezas mundanas, ou um homem rico em conhecimento e crença, nunca conhecerão outra coisa que não a escuridão, e serão o centro de toda a maldade e miséria. Mas se vocês e eu, enquanto indivíduos, conseguirmos ver toda esta actividade do eu, então saberemos o que é o amor. Posso assegurar-vos de que essa é a única reforma que poderá mudar o mundo. O amor não é o eu. O eu não pode reconhecer o amor. Vocês dizem «amo», mas então, no próprio acto de o dizerem, no próprio acto de o experimentarem, não há amor. Mas, quando vocês conhecem o amor, não há eu. Quando há amor, não há eu." - Jiddu Krishnamurti

domingo, 17 de junho de 2018





"Uma coisa é gostarem de nós. Outra, saberem gostar. É preciso muito, muito tempo para descobrirmos como se ama e para se aprender a amar. (Dizemos tudo ao contrário aos adolescentes, não é?)

- O que há de dramático nisto tudo? Quase tudo... Quando se descobre o ABC do amor já ele vai no Z.

Para a maior parte das pessoas aprender o amor parece torná-lo tarde demais." - Eduardo Sá

sábado, 16 de junho de 2018





"Duas sementes repousam lado a lado no solo fértil da primavera.

A primeira semente disse:

- Quero crescer! Quero que as minhas raízes se enterrem no chão sob mim e que os meus rebentos cresçam e empurrem a terra que está por cima de mim. Quero desenrolar os meus botões de flor como se fossem estandartes a anunciar a primavera. Quero sentir o calor do sol a bater-me no rosto e o orvalho da manhã a abençoar as minhas pétalas!

E a primeira semente cresceu.

A segunda semente disse:

- Tenho medo. Se deixar que as minhas raízes se afundem na terra, não sei o que poderão encontrar no escuro. Se empurrar a terra que está sobre mim, posso estragar os meus delicados rebentos. E se desenrolar os meus botões de flor e um caracol tentar comê-los? Ao abrir as minhas flores, uma criança pode tentar arrancar-me do chão. Não, é melhor esperar até que seja seguro.

E a segunda semente esperou.

Uma galinha que saiu da capoeira nos primeiros dias de primavera para esgaravatar o chão à procura de comida encontrou a segunda semente e de imediato comeu-a.

Moral da história:

Quem se recusa a arriscar e a crescer é engolido pela vida." - Patty Hansen

sexta-feira, 15 de junho de 2018





"Uma relação segura é uma página em branco. Que é uma forma de dizer, por outras palavras, que não há relações seguras. Seguras no sentido de vividas sem uma única dúvida. Resistentes a omissões, distracções e "maus-tratos". E eternas, além do mais. Nem as relações emaranhadas em compromissos e encargos são seguras. Aliás, a segurança maior de uma relação surge do sentimento de liberdade que ela vivifica quando é capaz de acolher tudo aquilo que não é seguro em nós. E, sobretudo, por causa disso, nos demonstrar que a segurança no amor é um exercício permanente de humildade, transparência, espontaneidade, alegria e orgulho. Recíprocos." - Eduardo Sá

quinta-feira, 14 de junho de 2018





"Nunca é demasiado tarde para sermos o que poderíamos ter sido." - George Eliot


"Algumas das maiores histórias de sucesso resultaram de uma palavra de incentivo ou de um gesto de confiança por parte de um ente querido ou de um verdadeiro amigo. Se não fosse pela sua esposa confiante, Sophia, talvez o nome de Nathaniel Hawthorne não figurasse entre os grandes nomes da literatura. Quando Nathaniel, com o coração desfeito, voltou para casa para dizer à mulher que era um fracassado e que tinha perdido o emprego na alfândega, ela surpreendeu-o com um grito de alegria.

- Agora já podes escrever o teu livro! - disse ela entusiasmada.

- Pois - respondeu o marido, fingindo-se confiante. - E de que vamos viver enquanto eu estiver a escrever?

Para espanto dele, a mulher abriu uma gaveta e mostrou-lhe um monte de notas.

- Onde foste arranjar isto? - perguntou, boquiaberto.

- Sempre soube que eras um homem de talento - disse-lhe ela. - Sabia que um dia escreverias uma obra-prima. Por isso, todas as semanas pus de lado algum dinheiro da quantia que me davas para tratar das coisas da casa. Temos aqui o suficiente para nos aguentarmos durante um ano.

Da confiança e certeza da mulher resultou um dos maiores romances da literatura americana: A Letra Escarlate." - Nido Qubein

quarta-feira, 13 de junho de 2018





"Sem se conhecerem a vós mesmos, façam o que fizerem, não é possível existir o estado de meditação. Por «conhecerem-se a vós mesmos» quero dizer conhecerem cada pensamento, cada estado de espírito, cada palavra, cada sentimento; conhecerem a actividade da vossa mente - não conhecerem o self supremo, o grande self; não existe uma tal coisa; o self mais elevado, o atma, insere-se ainda no campo do pensamento. O pensamento é o resultado do vosso condicionamento, o pensamento é a resposta da vossa memória - ancestral ou recente. E a tentativa de meditar, simplesmente, sem que primeiro tentem estabelecer profunda e irrevogavelmente essa virtude que nasce do autoconhecimento, é completamente ilusória e inútil.

É muito importante para aqueles que são sérios que compreendam isto. Porque se não o conseguirem fazer, a vossa meditação e o vosso viver estão divorciados, separados - de tal forma separados que embora possam meditar, praticando infinitas posturas, para o resto das vossas vidas, não conseguirão ver nada para além do vosso próprio nariz; qualquer postura que pratiquem, qualquer coisa que façam, será completamente desprovida de significado.

... É importante compreender o que é este autoconhecimento, o estar simplesmente atento, sem qualquer escolha, ao «eu», que tem a sua fonte num feixe de memórias - estar simplesmente consciente dele sem interpretação, apenas observar o movimento da mente. Mas essa observação é impedida quando estamos apenas a acumular através da observação - o que fazer, o que não fazer, o que alcançar; se fizerem isso; põem fim ao processo vivo do movimento da mente como self. Isto é, eu tenho de observar e ver o facto, o real, o que é. Se me aproximo dele com uma ideia, com uma opinião - tais como «não devo», ou «devo», que são respostas da memória -, então o movimento do que é é obstruído, é bloqueado; e portanto, não existe aprendizagem." - J. Krishnamurti

terça-feira, 12 de junho de 2018





"- Uma paixoneta, disse você?

- Hum, hum... Faz ideia do que se trata?...

- É a certeza de termos encontrado a pessoa que vai mudar a nossa vida para todo o sempre. Por uma semana. Duas, no máximo.

- E uma paixão - perguntou-lhe...

- Ah! Isso é diferente. São para a eternidade! Mas têm o prazo de validade dos antibióticos. Quando se dá por isso, uma pessoa desapaixona-se. E a pessoa da nossa vida torna-se contraindicada...

- (Sorri...) Mas, depois, há os amores de perdição...

- Todos os amores são de perdição, claro. Mas sim: os amores de perdição são uma paixão em nada diferente das outras. Aquilo que os distingue é que a eternidade não tem prazo de validade. 

Mas, afinal, do que é que se fala quando falamos de amor? De um arrepio que só não nos apanha de surpresa quando não é amor." - Eduardo Sá

segunda-feira, 11 de junho de 2018





"Não viva apenas de acordo com as expectativas. Seja extraordinário." - Wendy Wasserstein


"Tenho um amigo chamado Monty Roberts que tem um rancho de cavalos em San Ysidro. O Monty colocou ao meu dispor a casa dele, onde tenho organizado eventos para angariar fundos para programas de jovens em situação de risco.

Na última vez que lá estive, apresentou-me às pessoas da seguinte forma: "Gostava de vos dizer porque é que deixo o Jack usar a minha casa. Tudo começou com um jovem, filho de um treinador de cavalos ambulante, que ia de estábulo em estábulo, de hipódromo em hipódromo, de quinta em quinta e de rancho em rancho, para treinar cavalos. Consequentemente, os estudos do rapaz eram continuamente interrompidos. No último ano do ensino secundário, um professor pediu-lhe que fizesse uma composição sobre o que gostaria de fazer quando crescesse. Nessa noite, o rapaz escreveu um composição de sete páginas a relatar o seu objectivo de um dia vir a ser dono de um rancho de cavalos. Descreveu este sonho ao pormenor e até fez o desenho de um rancho de 80 hectares, com a localização exacta de todos os edifícios, dos estábulos e da pista de corridas. Depois, desenhou uma planta detalhada da casa de 1000 metros quadrados que queria ter naquele rancho de sonho de 80 hectares."

O Monty continuou com a sua história.

"Fez o trabalho com alma e coração e, no dia seguinte, entregou-o ao professor. Dois dias depois, recebeu o trabalho corrigido. Na primeira página estava escrito a letras garrafais vermelhas 'Fraco', e um comentário que dizia: 'Vem ter comigo ao gabinete depois das aulas'. O rapaz sonhador foi ter com o professor e perguntou-lhe: 'Porque é que tive Fraco?' O professor disse: 'Porque fizeste uma composição sobre um sonho irrealista para um rapaz jovem como tu. Não tens dinheiro, vens de uma família itinerante e não tens recursos. Ser dono de um rancho de cavalos requer muito dinheiro. É preciso comprar o terreno. É preciso comprar os animais reprodutores e pagar as cobrições. Nunca irias conseguir'. De seguida, o professor acrescentou: 'Se reescreveres esta composição com um objectivo mais realista, posso reconsiderar a tua nota'. O rapaz foi para casa a pensar no que o professor lhe dissera. Perguntou ao pai o que deveria fazer. O pai disse-lhe: 'Filho, tens de ser tu a decidir. No entanto, acho que tens de ter em conta que é uma decisão muito importante para ti.' Uma semana depois, o rapaz entregou a mesma composição, sem qualquer alteração. Disse ao professor: 'Pode ficar com o seu Fraco que eu fico com o meu sonho.'

O Monty voltou-se para o grupo e continuou: "Contei-vos esta história porque, neste momento, estão sentados na minha casa de 1000 metros quadrados, no meu rancho de cavalos de 80 hectares. Ainda tenho essa composição emoldurada por cima da lareira. A melhor parte da história é que há dois verões esse mesmo professor trouxe 30 miúdos até ao meu rancho para fazerem um acampamento de uma semana. Quando o professor estava a ir embora, disse-me: 'Sabes, Monty, quando era teu professor, tinha a mania de roubar os sonhos aos meus alunos. Durante vários anos, roubei os sonhos de muitos miúdos. Felizmente, tu tiveste o bom senso de não desistires do teu.'

Não deixem que vos roubem os sonhos. Sigam o vosso coração, venha quem vier." - Jack Canfield

domingo, 10 de junho de 2018





"Às vezes, tenho a impressão de sermos quase todos uns românticos falhados. E, talvez muito pior que isso, uns românticos que convivem de forma conformada com o seu "lado falhado", todos ao abrigo de uma desculpa que mais parece uma geringonça complicada. "O meu marido é assim. Não é capaz de mostrar os sentimentos. Não fala mas sente, sim?"; ou: "Gosta de mim... à sua maneira"; ou "É muito boa pessoa, mas não é romântico. Só isso!" - faz parte de um "comboio" de justificações protectoras que, por outras palavras, acabam por se referir ao modo como duas pessoas se amam mas não se mimam.

Aliás, o número de pessoas por quilómetro quadrado que assume, mutuamente, que se ama e que o diz de forma carinhosa ou amorosa é tão escasso que, tirando as pessoas que o afirmam sem que o sintam, e considerando as pessoas que assumem, unicamente, que gostam (às vezes - só às vezes - muito) da pessoa que escolheram para si, o mimo, entre os casais, padece duma "pneumonia muito grave". E ou não se amam, simplesmente, e deitam a mão a quaisquer justificações mais ou menos acrobáticas para que consigam conviver com isso sem se envergonharem; ou se, porventura, se amam mas não se mimam, muito depressa vão acumular ressentimentos (e, logo a seguir, rancores) que os farão deixar de se amar.

É verdade que quando estamos assumidamente apaixonados e nos sentimos retribuídos queremos que o nosso amor se torne "público". Será um bocadinho vaidoso, sim, mas faz parte do êxtase de duas pessoas que se sentem, desmedidamente, felizes. Seja como for, é indispensável que, passada a vaidade, a pessoa a quem damos o nosso amor e a relação que construímos com ela nos suscitem orgulho. Quase todos os dias! Seja pela sua beleza, pela sua clarividência, pela sabedoria que demonstra, pela garra, pelo sentido de justiça, pela bondade ou pelo seu lado guerreiro, o orgulho que a pessoa a quem damos o nosso amor nos suscita leva-nos a que a amemos mais. De forma mais generosa e mais humilde. Do mesmo modo, quando nos aleija ou nos envergonha, ela esmorece em nós. Morre, por dentro, devagarinho. E, de ressentimento em ressentimento, é fácil que se chegue a um patamar em que falar ou não falar não se distinga tanto assim, como devia. Porque, afinal: "Não vale a pena! Ele não ia entender..."; ou "Temos uma vida muito acelerada" (ou, mesmo, outro tipo de justificações não chegam). Sobretudo, quando todos estamos juntos num planeta que viaja pelo espaço a 250 quilómetros por segundo...

A verdade é que o romantismo não é uma "tendência jurássica", prontinha a cair em desuso. Por mais que haja quem a queira "vender" dessa maneira e fale dos "tempos modernos" como se eles não fossem dados a essas pieguices. E, nem mesmo uma "tendência" nova que se vai escutando muito - "O meu marido não fala. Mas chora. No cinema..." - vale como "vitória de consolação". A verdade é que são muito poucos os casais que acarinham o romantismo. E são menos, ainda, os homens que o fazem. E isso é grave. É mau. E estraga, de forma irreparável, uma relação amorosa.

É claro que o romantismo não é uma "solução de recurso". Uma espécie de "saída de emergência" quando nos sentimos encurralados por alguém que, supostamente, amaríamos mas que, de forma repetida, nos dá sinais, faz reparos ou se adequa, silenciosamente, aos nossos desmazelos. E há situações em que "a solução" encontrada para uma advertência que nos engasga acaba por ser pior que a omissão que se foi prolongando. "Há quanto tempo não temos um jantar romântico?" "Que não seja por isso... Jantamos já hoje!" Aumenta, de forma exponencial, a raiva de estimação que fomos construindo por alguém que já terá sido o nosso amor. Porque se faz acompanhar duma atmosfera do género: "Vamos lá desenrascar-nos deste embaraço..." que, para mais, nos leva a perguntar porque é que aquilo que, até aí, não era indispensável se tenha tornado uma "urgência nacional", de um minuto para o outro. Já quando, depois de vencidos os receios de uma resposta negativa, avançamos com um convite muito "embrulhadinho": "E um fim de semana a dois?..." "Boa ideia!" (Nós respiramos de alívio...) "Marca tu...", corre muito mal, porque muito depressa percebemos que a agenda da pessoa que já teremos amado não tem entradas previstas para o nosso "amor". Já para não falar das pessoas (mulheres, sobretudo) que marcam um "fim de semana romântico" e, na volta, o seu presumível amor se faz acompanhar, obrigatoriamente, pelos filhos, pelos pais ("Afinal, saímos tão pouco com eles."); ou por um amigo ("Está destroçado! Saiu agora duma relação."). Chegados aí, já estaremos num patamar do género: "Porque é que eu nunca digo 'Gosto de ti'?..." "Porque ele sabe..." ("O quê?...", pergunto eu.)

Sejamos, por uma vez, amigos do exagero: o romantismo só não é urgente para quem não ama! O romantismo é, simplesmente, a forma de sermos amorosos com quem se ama. Não só de estimar um amor. Não só de o acarinhar. Mas de o mimar. De o amar! Daí que uma surpresa não seja "taxada" com imposto de luxo. Um gesto carinhoso não leve o coração à bancarrota. E os mimos não tragam sopros ao coração. Estima, carinho e mimo tornam-nos amorosos. Porque nos levam a sentir o outro, em nós. Nos levam a olhá-lo. A escutá-lo. E a imaginá-lo. E a falar por gestos. Antes - sobretudo, antes! - de ele falar por nós. Por outras palavras, sem nos entregarmos amorosamente ao amor, jamais amamos. "Simples", portanto." - Eduardo Sá

sexta-feira, 8 de junho de 2018





"Então, para compreendermos os inúmeros problemas que cada um de nós tem, não é essencial que haja autoconhecimento? E esta é uma das coisas mais difíceis, estarmos atentos a nós mesmos - o que não significa um isolamento, um afastamento. É óbvio que é essencial que nos conheçamos a nós mesmos; mas conhecer-se a si mesmo não implica que haja um afastamento da relação. E certamente seria um erro pensarmos que nos podemos conhecer a nós mesmos profunda, completa e perfeitamente, através do isolamento, através da exclusão, ou indo a um psicólogo, ou a um sacerdote; ou que podemos aprender a conhecermo-nos a nós mesmos através de um livro. O autoconhecimento é, obviamente, um processo, não um fim em si próprio; e, para nos conhecermos, devemos estar atentos a nós mesmos quando agimos, o que é estar em relação. Vocês descobrem-se a vós mesmos não no isolamento, não no afastamento, mas na relação - na relação com a sociedade, com a vossa mulher, o vosso marido, o vosso irmão, com a humanidade; mas descobrirem como reagem, quais são as vossas respostas requer uma extraordinária atenção por parte da mente, uma percepção apurada." - Jiddu Krishnamurti

quinta-feira, 7 de junho de 2018





"O sentido do autodomínio, o ser capaz de resistir às tempestades emocionais que as sacudidelas da Fortuna traz consigo, em vez de ser «escravo das paixões», é considerado uma virtude desde os tempos de Platão. A antiga palavra grega para o definir era sophrosyne, «cuidado e inteligência na condução da própria vida; um equilíbrio temperado de sabedoria». Os Romanos e a Igreja cristã primitiva chamavam-lhe temperantia, temperança, a contenção dos excessos emocionais. O objectivo é o equilíbrio, não a supressão emocional: todos os sentimentos têm o seu valor e significado. Uma vida sem paixão seria um triste deserto de neutralidade, separado e isolado das riquezas da própria vida. Mas, tal como Aristóteles observou, o que se pretende é emoção apropriada, sentimentos proporcionais às circunstâncias. Quando as emoções são demasiado abafadas, criam monotonia e distância; quando escapam ao controlo, quando são excessivamente extremas e persistentes, tornam-se patológicas, como uma depressão imobilizadora, uma ansiedade esmagadora, uma raiva furiosa, uma agitação maníaca.

Controlar as emoções perturbadoras é a chave para o bem-estar emocional; os extremos - emoções que se manifestam demasiado intensamente ou durante demasiado tempo - minam a nossa estabilidade. Não que devamos, evidentemente, sentir apenas um tipo de emoção. Ser sempre feliz sugere de alguma maneira a «moleza» um tanto bacoca daqueles emblemas com rostos sorridentes que, na América, conheceram uma breve moda nos anos 70. O sofrimento pode dar uma contribuição muito positiva para uma vida criativa e espiritual; como os antigos diziam, o sofrimento tempera a alma. 

Os altos e baixos dão sabor à vida, mas precisam de ser equilibrados. Nos cálculos do coração, é a relação entre emoções positivas e negativas que determina o sentimento de bem-estar." - Daniel Goleman

quarta-feira, 6 de junho de 2018





"Num dia destes, fui a uma livraria comprar um livro chamado O ministério da felicidade suprema. A livreira respondeu-me, lacónica: 

- Não há!

- Já esgotou? - perguntei, surpreendido.

- Não sei se esgotou - disse-me resoluta. Mas já não há.

- Mas ainda ontem estava nos tops - argumentei, já sem jeito...

- A felicidade suprema está sempre nos tops, meu amigo - respondeu enfadada.

- Mas, deixe-me recapitular. Já não há, ainda não há ou nunca houve? (perguntei eu, querendo saber se ela estaria a falar do livro ou da felicidade... suprema)

- Isso não sei dizer. Mas não há!

- Ok - disse eu. Seja como for, indica-me, por favor, onde posso encontrar o livro?

- Na prateleira número dois.

- (Sorri-lhe com sarcasmo.) Então, lá vou eu à procura da felicidade suprema - piquei-a. Obrigado!

E fui buscar a tal "felicidade". Se ela fosse tão simples de encontrar, se a tomássemos sempre na sua "versão" suprema, ou se delegássemos a sua procura num ministério da felicidade, a vida seria um longo fim de semana.

Há quem ache que a felicidade não existe. Como a tal livreira. Há quem ache que é uma miragem. Há quem ache que é um luxo pior do que um relógio Patek Philippe. Com a particularidade dela não se comprar. A felicidade não é uma patetice. É verdade. Mas descobrimo-la, muitas vezes, quando a um momento pateta juntamos um tremendo sentimento de liberdade e acabamos a rir. Tudo, mas tudo, "pela mão" de alguém. De um "nosso alguém".

Será a felicidade um momento de exaltação? É. Mas quase tenho medo de dizer isso muito alto, tais são as pessoas exaltadas com que me cruzo todos os dias e que me dão um arrepio por serem, a olhos vistos, tudo menos felizes.

Porque é que na maioria das histórias o "e foram felizes para sempre" se dá por alturas do casamento? Porque depois nunca se sabe. É assim desde a Cinderela à Branca de Neve, por exemplo. Como foi assim, também, com o prato de esparguete que uniu a Dama e o Vagabundo. É verdade que, hoje, todos nós assumimos que um casamento por companheirismo é uma espécie de solidão assistida. Mas que as pessoas - então, depois de casadas - continuem a trabalhar para a felicidade já é outra coisa. Às vezes, parece-me a mim, as pessoas acreditam na felicidade enquanto dádiva. (O que, pensando bem, não é tão tolo assim.) Mas são levadas a supor que para uma dádiva não se trabalha. Espera-se sentado até que ela nos caia no colo. E isso estraga tudo. Pode a felicidade, que nos traz o sagrado em vida, ser um golpe de sorte? Nunca é. Seguramente.

E, no entanto, a felicidade é um estado de comunhão entre duas pessoas. Não ser possível ser feliz para sempre é uma forma batoteira de falar verdade. A comunhão não é um estado interminável. Mas, por mais que em muitas relações seja realmente uma miragem, há relações em que a comunhão vai das convicções aos gestos, vai da forma telepática como se comunica à sexualidade, vai das trocas amorosas à ironia. É verdade que não se pode ser ininterruptamente feliz. Mas a exaltação da felicidade, por mais que seja rara, acontece. E, quando existe, aprofunda-se mais e mais à medida que duas pessoas se conhecem e se despem por dentro. Isto é, pode não ser. A felicidade suprema.  Mas, sim, há quem seja feliz para sempre." - Eduardo Sá

terça-feira, 5 de junho de 2018





"Aquilo que dizemos transforma-se na casa onde vivemos." - Hafiz


"Nasci no contexto de uma sábia e antiga tradição chamada Toltec. O meu avô era um velho ngual (xamã) e esforcei-me durante toda a minha juventude para merecer o respeito dele.

Quando era adolescente, queria impressioná-lo com as opiniões que tinha sobre tudo o que aprendia na escola. Falava-lhe do meu ponto de vista em relação à injustiça que há no mundo, à violência e ao conflito entre o bem e o mal. O meu avô ouvia pacientemente, o que me incentivava a falar ainda mais. A certa altura, reparei que esboçara um sorriso ao dizer: "Miguel, essas teorias que aprendeste são muito boas, mas tudo o que me disseste até agora é apenas uma história. Não significa que seja verdade."

Como é evidente, senti-me mal com o comentário e tentei defender o meu ponto de vista, mas, logo de seguida, o meu avô continuou: "A maioria das pessoas acredita que existe um grande conflito no universo - o conflito entre o bem e o mal. Bom, esse conflito existe apenas na mente humana. Não é verdade para o resto da natureza. E o verdadeiro conflito que habita a nossa mente é o conflito entre a verdade e a mentira. O bem e o mal são o resultado desse conflito. Acreditar na verdade origina bondade, amor, felicidade. Acreditar em mentiras e defender essas mentiras resulta naquilo a que chamamos maldade. É isso que cria a injustiça e a violência, o drama e o sofrimento, não só na sociedade, mas também no indivíduo."

Hum... O que o meu avô disse era lógico, mas não acreditei nele. Como poderiam todos os conflitos e todo o sofrimento do mundo serem o resultado de algo tão simples? Tinha de ser mais complicado do que isso.

"Miguel, todo o drama que existe na tua vida é a consequência de acreditares em mentiras. E a primeira mentira em que acreditas é esta: não sou suficientemente bom, não sou perfeito. Todas as pessoas nascem perfeitas e todas morrerão perfeitas porque só a perfeição existe. Mas se acreditares que não és suficientemente bom, seja feita a vossa vontade, porque esse é o poder e a magia da tua fé. Com essa mentira, começas a procurar uma imagem da perfeição que nunca alcançarás. Procuras amor, justiça, tudo aquilo que acreditas não possuir, sem saberes que tudo o que procuras já existe dentro de ti. A Humanidade está da maneira que está porque todos acreditamos em mentiras que existem há milhares de anos. Reagimos a essas mentiras com raiva e violência, mas são apenas mentiras."

Estava a pensar como poderia saber a verdade quando o meu avô disse: "Conseguimos percepcionar a verdade com os nossos sentimentos, mas assim que tentamos descrevê-la por palavras, acabamos por distorcê-la, e ela deixa de ser verdade. É a nossa história. Imagina que Pablo Picasso tinha pintado um retrato teu. Dir-lhe-ias certamente 'eu não sou assim', e Picasso responderia: 'claro que és, é assim que eu te vejo'. Para Picasso, seria verdade; ele estaria a expressar aquilo que percepciona. Todas as pessoas são artistas - contadores de histórias com um ponto de vista único. Usamos palavras para pintar um retrato de tudo o que testemunhamos. Inventamos histórias e, tal como Picasso, distorcemos a verdade; mas, para nós, é a verdade. Quando conseguimos perceber isto, deixamos de tentar impor a nossa história aos outros ou de defender aquilo em que acreditamos. Enquanto artistas, respeitamos o direito que todos os artistas têm de criar a sua própria arte." 

Nesse momento, o meu avô deu-me a oportunidade de me aperceber de todas as mentiras em que acreditamos. É por acreditarmos nessas mentiras que nos julgamos, que nos achamos culpados e que nos castigamos. Sempre que temos um conflito com os nossos pais, os nossos filhos, a pessoa que amamos, é porque acreditamos nessas mentiras, e eles também. 

Quantas mentiras ouve na sua cabeça? Quem está a julgar, de quem está a falar? Se não gosta da vida que tem é porque a voz que existe dentro de si não lhe permite apreciá-la. Chamo-lhe a voz do conhecimento, porque nos diz tudo o que sabemos, e esse conhecimento está contaminado por mentiras. 

Bom, se cumprir duas regras, as mentiras não sobreviverão ao cepticismo e irão simplesmente desaparecer. Primeiro, ouça a sua história, mas não acredite em si mesmo, porque agora sabe que a sua história é, maioritariamente, ficção. Segundo, ouça as outras pessoas a contarem as histórias delas, mas não acredite nelas. A verdade sobrevive ao nosso cepticismo, mas as mentiras só sobrevivem se acreditarmos nelas.

O simples facto de estarmos conscientes das mentiras que existem já nos faz ter consciência de que a verdade também existe. E ao limparmos as mentiras em que acreditamos sobre nós próprios, mudaremos as mentiras em que acreditamos sobre todas as outras pessoas. Só a verdade poderá levar-nos de volta ao amor, e este é um grande passo em direcção à cura da mente humana." - Don Miguel Ruiz

segunda-feira, 4 de junho de 2018





"Não sei se alguma vez ouviram um pássaro. Ouvir alguma coisa exige que a nossa mente esteja silenciosa - não um silêncio místico, silêncio simplesmente. Estou a dizer-vos algo e, para me ouvirem, têm de estar silenciosos, e não com todo o tipo de ideias a zunirem na vossa mente. Quando olham para uma flor, olham para ela, sem estarem a dar-lhe um nome, sem a estarem a classificar, sem dizerem que ela pertence a determinada espécie - quando o fazem, deixam de a ver. Assim, o que vos digo é que ouvir é uma das coisas mais difíceis - ouvir o comunista, o socialista, o deputado, o capitalista, qualquer pessoa, a vossa mulher, os vossos filhos, o vosso vizinho, o condutor do autocarro, o pássaro - apenas ouvir. É só quando ouvem sem nenhuma ideia, sem pensamento, que estão em contacto directo; e ao estarem em contacto percebem se aquilo que o outro está a dizer é verdadeiro ou falso; torna-se desnecessário discutir." - Jiddu Krishnamurti

domingo, 3 de junho de 2018





"Conhecer as nossas próprias emoções. A autoconsciência - o reconhecer um sentimento enquanto ele está a acontecer - é a pedra-base da inteligência emocional. Ser capaz de controlar momento a momento as sensações é crucial para a introspecção psicológica e o autoconhecimento. A incapacidade de reconhecer as nossas próprias sensações deixa-nos à mercê delas. As pessoas que têm uma certeza maior a respeito dos seus sentimentos governam melhor as suas vidas, tendo uma noção mais segura daquilo que realmente sentem a respeito das decisões que são obrigados a tomar, desde com quem casar a que emprego aceitar." - Daniel Goleman

sábado, 2 de junho de 2018





"- Quando encontramos um amor as coisas parecem acontecer sempre cedo. De surpresa. Apanham-nos desprevenidos. Queríamos muito que tudo acontecesse mas, quando acontecem, temos sempre a sensação que não estávamos à espera dele ou, mesmo, preparados para ele. Talvez daquela forma. Justamente com aquela pessoa. Com os incidentes que só mesmo aquele amor (e mais nenhum) nos traz. Depois, descobrimos que ele não é só um amor. É, mais, "o amor". E temos a impressão que é tão inimitável e é tão precioso que aquele amor é para a vida toda. Como se ele derrubasse os limites do tempo e, por causa disso, fosse para sempre. Para todo o sempre! E perguntamos porque é que aquela pessoa chegou tão tarde à nossa vida. (Sorri...) Eu acho que o tempo troca sempre as voltas a todos os apaixonados!

Mas, às vezes, há pessoas que chegam tarde, mesmo. Pela idade que temos. Pelas barreiras geográficas que nos separam. Pelos compromissos que nos condicionam. Por tudo aquilo que nos distancia. Pelos encargos que nos prendem. Eram pessoas que tinham tudo para ser "o nosso amor". E deixam uma "avenida larga" onde talvez só existisse um beco. E passam a ter um lugar especialíssimo na primeira fila do nosso coração. São pessoas a quem podíamos, com verdade, dizer: "Tenho tanta pena que tenhas chegado tão tarde à minha vida!" Porque chegaram tarde, realmente. Tarde para tudo aquilo que a sua presença na nossa vida nos pede que sejamos capazes de concretizar para que sejam "nossas".

O amor troca-nos as voltas e derruba barreiras, é verdade. Mas há barreiras que, contra a nossa vontade, nos derrubam para o amor. E o tornam - para sempre? - tarde para nós." - Eduardo Sá