domingo, 1 de julho de 2018





"A intuição é uma aptidão espiritual e não explica, apenas aponta o caminho." - Florence Scovel Shinn


"Já todos ouvimos a expressão: "Lembre-se de parar para cheirar as rosas." Mas, na verdade, quantas vezes conseguimos abrandar o ritmo frenético do dia a dia para olharmos para o mundo à nossa volta? Somos de tal forma absorvidos pelos horários que temos de cumprir, pelos compromissos que agendamos, pelo trânsito ou pela vida em geral que nem reparamos que há outras pessoas mesmo ao nosso lado.

Sou tão culpado como qualquer outra pessoa no que respeita a ignorar o mundo desta maneira, especialmente quando estou a conduzir pelas ruas sobrelotadas de gente da Califórnia. No entanto, testemunhei, há pouco tempo, um acontecimento que me mostrou como o facto de estar completamente compenetrado no meu mundo me tem mantido alheio ao que se passa à minha volta.

Estava a caminho de uma reunião e, como sempre, a planear na minha cabeça o que ia dizer assim que lá chegasse. Parei num semáforo vermelho num cruzamento particularmente movimentado. Tudo bem, pensei com os meus botões. Consigo apanhar o próximo semáforo verde se for mais rápido do que os outros. 

O meu cérebro e o meu carro estavam em piloto automático, prontos para arrancar, quando, subitamente, o transe em que me encontrava foi interrompido por uma visão inesquecível. Um jovem casal, ambos invisuais, atravessava o cruzamento de braço dado, com carros a circularem em todas as direcções. O rapaz trazia um menino pequeno pelo braço e a rapariga apertava junto ao peito um sling com um bebé. Os dois levavam uma bengala branca com a qual tateavam à procura de pistas que os ajudassem a atravessar a cruzamento.

De início, fiquei comovido. Aquele casal estava a conseguir ultrapassar o que eu considerava uma das deficiências mais temíveis: a cegueira. Deve ser horrível ser cego, pensei. O meu raciocínio foi abruptamente interrompido por um sentimento de pânico quando reparei que o casal não estava a atravessar na passadeira, mas a desviar-se na diagonal, em direcção ao meio do cruzamento. Sem se aperceberem do perigo que corriam, estavam a seguir mesmo na direcção dos carros. Fiquei com medo que algo lhes acontecesse porque não conseguia perceber se os outros condutores se tinham apercebido do que se estava a passar.

Enquanto observava da primeira linha de carros (tinha os melhores lugares da casa), vi um milagre a acontecer diante dos meus olhos. Todos os carros, que seguiam em todas as direcções, pararam ao mesmo tempo. Não ouvi uma única guinada de um pneu nem uma buzina a tocar. Ninguém sequer gritou "saiam da frente!"

Tudo parou. Parecia que o tempo tinha estagnado por causa daquela família.

Maravilhado, olhei para os carros à minha volta e vi que estávamos todos a olhar para o mesmo. Reparei que toda a gente estava de olhos postos naquele casal. De repente, o condutor que estava à minha direita reagiu. Pôs a cabeça de fora do carro e gritou: "Para a direita, para a direita!"

Logo depois, outros seguiram o exemplo, gritando em uníssono: "Para a direita!"

Sem perder o ritmo, o casal desviou-se para a direita. Confiando nas bengalas brancas e nas orientações de algumas pessoas preocupadas, conseguiram alcançar o outro lado da rua. Assim que chegaram ao passeio, apercebi-me de uma coisa: ainda estavam de braço dado.

Fiquei surpreendido com as suas expressões impávidas e imaginei que não fizessem ideia do que efectivamente estava a acontecerá volta. E, logo de seguida, foram evidentes os suspiros de alívio de todas as pessoas que permaneciam paradas naquele cruzamento.

Olhei em volta e reparei que o condutor à minha direita estava a dizer: "Uau, viste aquilo?", e que o condutor à minha esquerda disse: "Não acredito!"

Acho que todos ficámos profundamente emocionados com o que tínhamos acabado de testemunhar. Seres humanos que tinham parado de se preocupar com as próprias vidas para ajudarem alguém que precisava de ajuda.

Já parei para reflectir sobre esta história muitas vezes e, graças a ela, aprendi várias lições. A primeira é: "Abranda o ritmo para cheirares as rosas" (algo que raramente fazia até essa altura). Olha à tua volta para veres o que realmente se está a passar à tua frente neste preciso momento. Se fizeres isso, vais perceber que este momento é tudo o que existe; e, sobretudo, vais perceber que este momento é tudo o que dispões para fazeres a diferença.

A segunda lição que aprendi é que os objectivos que definimos para nós próprios podem ser alcançados se acreditarmos em nós e confiarmos nos outros, apesar dos obstáculos aparentemente intransponíveis.

O objectivo do casal era simplesmente chegar são e salvo ao outro lado da rua. O obstáculo eram oito filas de carros apontados na direcção deles. Ainda assim, sem medo e sem dúvidas, os dois caminharam em frente até conseguirem alcançar o objectivo.

Todos nós podemos seguir em frente para alcançarmos os nossos objectivos se fecharmos os olhos aos obstáculos que se cruzam no nosso caminho. Precisamos apenas de confiar na nossa intuição e aceitar as orientações daqueles que possam saber mais do que nós.

Por fim, aprendi a dar valor ao dom da visão, algo que tomara muitas vezes como garantido.

Conseguem imaginar como a vossa vida seria diferente se não pudessem ver? Por um momento, tentem imaginar que chegavam a um cruzamento movimentado sem conseguirem ver. Tantas vezes nos esquecemos das simples, mas maravilhosas, dádivas que temos na vida.

Segui o meu caminho e fui-me afastando do cruzamento com uma maior consciência da vida e da compaixão que devemos ter pelos outros. A partir desse momento, decidi ver realmente a vida enquanto me dedico às minhas actividades diárias e a usar os dons para ajudar os menos afortunados.

Façam um favor a vocês mesmos enquanto vivem a vossa vida: abrandem o ritmo e percam tempo a ver. Observem o que se passa à vossa volta neste preciso momento, no lugar exacto onde estão. Podem estar a perder algo extraordinário." - Jeffrey Michael Thomas

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