quarta-feira, 20 de maio de 2015



"Detesto grandes cidades, provavelmente pelas mesmas razões porque muita gente da cidade detesta o campo (que eu adoro), porque as acho vertiginosas, ameaçadoras, monocromáticas, isolantes, cansativas, cheias de micróbios, eriçadas de sombras movimentadas e de odores ambíguos. E as multidões, e todo o espaço partilhado. As cidades parecem-me cemitérios monstruosos, os edifícios como que cemitérios taciturnos. Sinto-me sozinho e perdido nas necrópoles iluminadas, nauseado com os fumos do trânsito, enojado com os cheiros da comida, intrigado com os rostos e o frenesim banal. 
Quando os utópicos citadinos sofisticados elogiam as suas cidades dá-me vontade de rir. Fartam-se de apregoar museus e jantares, as diversões maníacas, os zoos, a energia das ruas, e que conseguem comprar uma pizza às três da manhã. Adoro ouvi-los competir: a minha grande cidade é melhor do que a sua grande cidade! Nunca mencionam as multidões horríveis, o ar imundo, o barulho imenso, os sinais de fraqueza, sinais de infortúnio, nem o facto de numa grande cidade nunca ser escuro nem estar silêncio. E empoleiram-se como passarinhos sem penas no confinamento dos seus apartamentos altos, sempre a olhar para baixo, para o pavimento, só capazes de se deslocar no malcheiroso assento traseiro de um táxi lento conduzido por um taxista mal-humorado." - Paul Theroux 

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