sábado, 23 de maio de 2015



"É verdade que a viagem é o mais triste dos prazeres, os blues da longa distância por terra. Mas também pensei naquilo que me atormentara ao longo da viagem, como um mantra de construção de aborrecimento na minha cabeça, palavras que nunca escrevi. As pessoas da Terra são, na sua maioria, pobres. Os sítios estão, na sua maioria, arruinados e nada impedirá essa ruína de piorar. A viagem dá-nos vislumbres do passado e do futuro, os nossos e os de outras pessoas. «Sou natural deste mundo», aspirando a ser o Homem da Guitarra Azul. Mas há demasiadas pessoas e uma quantidade enorme delas passa os seus dias de fome a pensar nos Estados Unidos como Nave Mãe. Eu podia ser um tailandês feliz, mas não há vida na Terra para que esteja menos talhado do que a de um indiano, rico ou pobre. A maioria do mundo está a piorar, a encolher para se tornar uma desolação estragada. Só os velhos podem ver realmente como o mundo está a envelhecer sem graça e tudo o que perdemos. Os políticos são sempre inferiores aos cidadãos. Ninguém na Terra é bem governado. Há esperança? Sim. As pessoas que conheci, em encontros casuais, eram, na sua maioria, estranhos que me ajudaram no meu caminho. E nós, fantasmas felizes, podemos viajar para onde quisermos. Ir ainda é bom, porque as chegadas são partidas." - Paul Theroux

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