sábado, 9 de maio de 2015



"Um comboio num país velho parece andar para trás, para o interior escuro, simples e primitivo que é o passado remoto. Mas isso é uma ilusão. O comboio só parece ser um artefacto cruel quando sai lentamente da enorme estação desleixada apinhado de passageiros e rola como uma antiguidade barulhenta, agigantando-se com manchas de ferrugem e peganhento de gordura, os seus beliches e assentos obscurecidos por janelas sujas, tudo aquilo a abanar com os zumbidos da máquina estrepitosa, a salpicar de óleo preto os carris enquanto percorre o seu caminho no que parece ser um percurso para dentro da história. O comboio apresenta a verdade de um sítio: por horrível ou selvagem que possa parecer, o interior de um país também é o presente.
Sempre me senti feliz num comboio como este. Há muitos outros viajantes que vão a correr para o aeroporto, para serem interrogados e revistados, e a sua bagagem revolvida à procura de bombas. Fariam melhor em ir numa linha férrea nacional, provavelmente o melhor modo de obter um vislumbre de como as pessoas realmente vivem - dos quintais, dos celeiros, das choupanas, das estradas secundárias e dos bairros de lata, dos factos significativos da vida da aldeia, da miséria que os aviões sobrevoam. Sim, o comboio leva mais tempo e muitos comboios são sujos, e depois? Atraso e sujidade são as realidades da viagem mais gratificante." - Paul Theroux 

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