quinta-feira, 25 de junho de 2015



"Como é difícil ao homem que possui ser livre! É muito difícil para o homem rico pôr de lado a sua riqueza. Só quando existem outras coisas mais aliciantes, é que ele é capaz de renunciar à reconfortante certeza de ser um homem rico; ele tem de procurar a realização da sua ambição em outro nível, antes de abandonar o que tem. Para o homem rico, dinheiro é poder. Ele é alguém que manipula o poder; poderá doar grandes somas de dinheiro, mas é ele quem dá. 
O conhecimento, o saber é uma outra forma de posse, e o homem que possui conhecimento satisfaz-se com ele; para ele, o saber é um fim em si. Tem a convicção de que o saber resolverá de alguma forma todos os nossos problemas, se puder ser espalhado, em bruto ou refinado, por todo o mundo. É muito mais difícil ao homem possuidor de saber libertar-se das suas posses do que ao homem rico pôr de lado as suas riquezas. É estranha a facilidade com que o conhecimento toma o lugar da compreensão e da sabedoria. Se temos informação sobre coisas, pensamos que as compreendemos; julgamos que ao sabermos ou termos informação acerca da causa de um problema, o problema se torna existente. Buscamos a causa dos nossos problemas, mas a busca em si significa o adiamento da compreensão. Muitos de nós conhecemos a causa; a causa do ódio não está oculta muito fundo, mas, ao procurarmos a causa, podemos a continuar a usufruir dos seus efeitos. Estamos interessados na harmonização dos efeitos, e não na compreensão do processo global. A maioria de nós apega-se aos problemas, pois, sem eles, sentir-nos-íamos perdidos; os problemas dão-nos algo que fazer, e as actividades relacionadas com os problemas enchem as nossas existências. Somos o problema e as respectivas actividades.
O tempo é um fenómeno estranho. Espaço e tempo são uma só coisa; um não existe sem o outro. Para nós, o tempo é extraordinariamente importante, e cada um atribui-lhe o seu significado pessoal. Para o selvagem, o tempo quase não tem significado, mas para o civilizado ele tem imenso significado. O selvagem esquece-se de um dia para o outro; mas se o homem instruído fizesse isso, era posto num hospício ou perderia o seu emprego. Para o cientista, o tempo é uma coisa; para o homem comum, é outra. Para o historiador, o tempo é o estudo do passado; para o corrector da bolsa, é a passagem do registo das cotações; para a mãe, é a memória do seu filho; para o homem exausto, é o descanso na sombra. Cada um traduz o tempo de acordo com as suas necessidades pessoais e as suas satisfações, moldando-o de modo a encaixá-lo na sua mente calculista. No entanto, não podemos passar sem o tempo. Para vivermos, o tempo cronológico é tão essencial como as estações do ano. Mas haverá tempo psicológico, ou será este uma conveniência ilusória da mente? Sem dúvida alguma, só existe o tempo cronológico, e tudo o resto é ilusório. Há o tempo de crescer e o tempo de morrer, o tempo para semear e o tempo para colher." - J. Krishnamurti 

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