domingo, 7 de junho de 2015



"Quando nasce, o ser humano tem a mente e o corpo emocionais totalmente sãos. Será por volta dos três ou quatro anos que o corpo emocional começa a ganhar as primeiras feridas infectadas com veneno emocional. Se, no entanto, observares crianças com dois ou três anos de idade, se reparares na forma como se comportam, constatarás que estão sempre a brincar. Hás de vê-las sempre a rir. Têm uma grande imaginação e sonham com aventuras. Quando qualquer coisa corre mal, reagem e defendem-se, para, logo em seguida, se esquecerem e prestarem atenção ao momento presente, em que estão a brincar, a explorar e a divertir-se. Vivem no momento presente. Não têm vergonha do passado e não se ralam com o futuro. As crianças mais pequenas expressam o que sentem e não têm medo de amar.
Os momentos mais felizes da nossa vida são aqueles em que brincamos como crianças, cantamos e dançamos, exploramos e criamos só para nos divertirmos. É maravilhoso quando nos comportamos como crianças, porque esse é o estado normal da mente humana e a nossa tendência natural. Como crianças, somos inocentes e expressamos naturalmente amor. Mas o que é que nos aconteceu? O que é que aconteceu ao mundo inteiro? Aconteceu que, quando somos crianças, os adultos já foram contaminados por essa doença mental, que é altamente contagiosa. Como é que a transmitem? "Captam-nos a atenção" e ensinam-nos a ser como eles. É assim que transmitimos a doença aos nossos filhos, tal como foi assim que os nossos pais, professores, irmãos mais velhos e a sociedade de pessoas infectadas nos transmitiram a doença. Captaram-nos a atenção e introduziram informação na nossa mente, pela repetição. Foi assim que aprendemos e é assim que programamos a mente humana.
O problema é o programa e a informação que armazenamos na mente. Ao captarmos a atenção das crianças, ensinamos-lhes uma língua, um comportamento, a ler e a sonhar. Domesticamos os seres humanos tal como domesticamos um cão ou outro animal qualquer: pelo castigo e pela recompensa. É perfeitamente normal. Aquilo a que chamamos educação não passa de domesticação do ser humano.
Temos medo que nos castiguem, mas, a certa altura, também passamos a ter medo de que não nos recompensem, ou de não sermos suficientemente bons para os nossos pais, irmãos ou professores. Assim nasce a necessidade de aceitação. Até aí, não queremos saber se nos aceitam ou não. As opiniões alheias não nos importam, porque só queremos brincar e viver no momento presente.
O medo de não se ser recompensado torna-se medo de rejeição. O medo de não se ser suficientemente bom aos olhos de outra pessoa leva-nos a tentar mudar e a criar uma imagem. Depois, tentamos projectar essa imagem, segundo aquilo que os outros querem que sejamos, só para que nos aceitem e nos recompensem. Aprendemos a fingir ser aquilo que não somos e tentamos ser outra pessoa, só para estarmos à altura dos nossos pais, professores, religião ou o que quer que seja. Praticamos sem parar, até nos tornarmos mestres a ser aquilo que não somos.
Muito em breve, esquecemo-nos de quem realmente somos e começamos a viver as nossas imagens. Não criamos apenas uma mas muitas, de acordo com os diferentes grupos de pessoas a que nos associamos. Criamos uma imagem em casa e outra na escola; quando crescemos, criamos muitas mais." - Don Miguel Ruiz 

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