terça-feira, 9 de junho de 2015



"Que coisa estranha é a solidão, e como temos medo dela! Nunca nos deixamos aproximar muito dela; e se, por acaso, o fazemos, rapidamente fugimos. Fazemos tudo para fugir da solidão, para a esconder. A nossa preocupação, consciente ou inconsciente, parece ser a de evitá-la ou de a vencer. Evitar e vencer a solidão são duas acções igualmente fúteis; ainda que ela seja reprimida ou evitada, o sofrimento, o problema continua a existir. Podemos perder-nos na multidão, e estarmos completamente sós; podemos ser intensamente activos, mas a solidão silenciosamente nos vai invadindo; baixamos o livro, e ela está lá. Divertimento e bebida não podem afogar a solidão; podemos temporariamente evadir-nos, mas quando o riso e os efeitos do álcool se dissiparem, o medo da solidão reaparece. Podemos ser ambiciosos e ter sucesso, podemos ter imenso poder sobre os outros, podemos ser ricos em conhecimentos, podemos ser crentes e esquecer-nos de nós mesmos na algaraviada de rituais; mas, façamos o que fizermos, a dor da solidão persiste. Podemos viver só para o nosso filho, para o Mestre, para a expressão do nosso talento; mas, assim como a escuridão, a solidão cobre-nos.Podemos amar ou odiar, podemos fugir dela de acordo com o nosso temperamento e exigências psicológicas; mas a solidão está lá, esperando e vigiando, recuando apenas para depois se aproximar de novo.
Amor e vazio não podem morar juntos; quando existe a sensação de solidão, não está lá o amor. Podemos esconder o vazio debaixo da palavra «amor» mas, quando o objecto do nosso amor já lá não está ou não responde, então damo-nos conta do vazio, e ficamos frustrados. Usamos a palavra «amor» como meio de fugir de nós mesmos, da nossa insuficiência. Agarramo-nos àquele que amamos, somos ciumentos, sentimos a sua falta quando está ausente e ficamos completamente perdidos quando ele morre; e vamos procurar conforto em outra coisa, numa qualquer crença, num substituto. Será, tudo isto, amor? O amor não é uma ideia, não é resultado de associação; o amor não é algo para ser usado como fuga ao nosso estado lastimoso; e, quando o usamos para esse fim, arranjamos problemas que não têm solução. O amor não é uma abstracção; a sua realidade só pode ser vivenciada quando a ideia, a mente, deixa de ser o factor supremo." - J. Krishnamurti

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