quinta-feira, 11 de junho de 2015



"Que interesse tem para os outros os nossos problemas? Temos tantos problemas pessoais, que não temos tempo para os dos outros. Para que alguém nos escute, temos de pagar com dinheiro, com orações, com crenças. O profissional escutar-nos-á, é a sua tarefa, mas daí não nos chega alívio duradouro. Queremos desfazer-nos das nossas cargas, espontaneamente, sem arrependimento posterior. A purificação da confissão não depende daquele que escuta, mas daquele que deseja abrir o seu coração. Abrir o coração é importante, e há-de haver sempre alguém, um mendigo talvez, com quem se possa desabafar. A conversa introspectiva nunca consegue abrir o coração; ela fecha, deprime e é completamente inútil. Estar aberto é escutar, não apenas a nós próprios, mas a toda e qualquer influência e movimento relacionados connosco. Talvez seja possível, ou não, fazer alguma coisa de concreto sobre aquilo que se escuta, mas o simples facto de se estar aberto gera a sua própria acção. Uma tal escuta purifica o nosso coração, limpando-o das coisas da mente. Ouvir apenas com a mente é tagarelice, e nisso não há qualquer alívio para ambas as partes; é a mera continuação da dor, o que é uma estupidez.
Vocês acham que existe uma razão para se ser ciumento? Haverá uma causa para o ciúme? E será que o ciúme desaparece quando a causa se conhece? Não repararam ainda que, mesmo quando se conhece a causa, o ciúme continua? Não devemos ir à procura da razão, vamos mas é compreender o ciúme em si. Cada um arranja sempre qualquer coisa como pretexto para o ciúme; o ciúme é que tem de se compreender, e não o que o provoca.
O ciúme é um dos modos de segurar o homem ou a mulher, não é verdade? Quanto mais ciumentos somos, maior é o sentimento de posse. Possuir alguma coisa torna-nos felizes; dizer que uma certa coisa, mesmo um cão, é exclusivamente nossa aquece-nos e conforta-nos. A posse exclusiva proporciona segurança e confiança. Ter alguma coisa, torna-nos importantes; é a esta importância que nos apegamos. Pensar que possuímos, não um lápis ou uma casa, mas um ser humano, faz-nos sentir fortes e estranhamente contentes. O ciúme não tem causa no outro, mas sim no valor, na importância que damos a nós mesmos.
Todos temos uma coisa a que nos apegamos, com essa coisa a tomar diferentes formas. Você apega-se ao seu marido, outros aos seus filhos, e outros a alguma crença; mas a intenção é a mesma. Sem um objecto a que nos agarrarmos, sentimo-nos desesperadamente perdidos, não é? Temos medo de estar sós. E este medo caracteriza-se pelo medo, ódio, mágoa. Não existe muita diferença entre ciúme e ódio. 
As pessoas amam-se.
Então como podem ser ciumentas? De facto, não amamos, e é aí que reside a parte triste. Você usa o seu marido, assim como ele a usa a si, para terem companhia, para serem felizes, para não se sentirem sós; podem não possuir muitas coisas, mas ao menos cada um tem alguém para si. A esta mútua necessidade e utilização chamamos amor. 
Isto não é horrível, nós é que não olhamos para isso. Dizemos que é horrível, damos-lhe um nome e rapidamente desviamos o olhar - é isto que fazemos.
Se você visse algo mais, será que deixaria de ser ciumenta? Agarrar-se-ia então a qualquer outra coisa como agora se agarra ao seu marido, e sentiria de novo ciúmes. Você quer encontrar um substituto para o seu marido, e não libertação em relação ao ciúme. Todos somos assim: antes de abandonarmos uma coisa, queremos ter a certeza de vir a ter outra. Só quando nos sentimos «sem certezas» é que não há lugar para o ciúme. Existe ciúme quando há «certeza», quando sentimos que temos alguma coisa. A exclusividade é esse sentimento de certeza; possuir é ser ciumento. A posse alimenta o ódio. De facto, odiamos o que temos, vê-se isso nos ciúmes. Onde há posse, jamais pode existir amor; possuir é destruir o amor." - J. Krishnamurti  

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