terça-feira, 17 de novembro de 2015



"Vivemos numa época onde tudo é luta, concorrência, movimento, mudança... Mentalizam-nos sobre as consequências da economia global, das novas fronteiras, do efeito dos países emergentes, do perigo dos mercados asiáticos, da necessidade de aumentar a produção para sermos competitivos... 
Na realidade, no fundo destas mensagens, o que nos estão a dizer é: «A vida já não pode prosseguir como até aqui, deve estar preparado para trabalhar em qualquer país ou região.» Os conceitos tradicionais de vida familiar e de empresa-trabalhador tornaram-se obsoletos. Quem não corre, fica sem lugar. Dizem-nos continuamente para nos deixarmos de sentimentalismos e estar dispostos a ir para onde nos digam, para fazer o que nos proponham, no momento em que a empresa, o chefe ou a direcção que está noutro continente o decidam.
E o que acontece então com a família, os amigos...? Em suma, o que sucede com a sua vida? Simplesmente, a sua vida parece não lhe pertencer. Se quer trabalhar, tem de aceitar as condições do mercado, ainda que inumanas. Se quer ter filhos, tem de optar por massacrar-se literalmente ou sacrificar a sua vida profissional ou familiar. Se quer ter uma casa, tem de hipotecar-se nos próximos vinte ou trinta anos até que acabe de pagá-la, para decidir então que lhe convém mudar para outra casa...
Não será este um panorama demasiado pessimista? Talvez, mas perguntem-no aos milhares, milhões de pessoas que se encontram nestas circunstâncias.
E é esta a sociedade do progresso? São estes os avanços que conseguimos após a revolução industrial, após o Maio de 68 e após todas as políticas de bem-estar social?
Em conclusão, avançámos ou retrocedemos nas últimas décadas? Se o avanço se mede pelo nosso poder aquisitivo, concluíremos que sim; que na maior parte dos casos podemos comprar mais coisas, incluindo muitas delas inúteis, quando não prejudiciais para a saúde. Mas se medirmos o avanço por um parâmetro objectivo, como pela nossa qualidade de vida e o nosso equilíbrio e bem-estar emocional, temo que a resposta seja muito diferente.
Talvez aqui estejamos a enveredar por caminhos complicados e muitas pessoas podiam perguntar-se o que é exactamente a qualidade de vida ou como se pode medir, ou quais os índices que determinam que estejamos a ganhar ou a perder qualidade de vida.
Evidentemente, não serei eu a dar uma resposta universal. A qualidade de vida pode significar algo muito diferente para cada pessoa.
Não obstante o anterior, podemos encontrar uma boa escala para medir a qualidade de vida, analisando uma variável fundamental: o tempo. O tempo que hoje em dia nos pertence, ou seja, aquele de que podemos dispor livremente.
Se ganhamos dinheiro à custa de estar quase todo o dia a trabalhar, para muita gente o resultado final não será compensador.
Em muitos casos sentiremos que se nos tiram o nosso tempo, nos tiram a nossa vida." - Maria Jesus Alava Reyes  

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