terça-feira, 26 de janeiro de 2016



"É interessante perguntarmo-nos: por que razão nos países da eficácia, como a Alemanha e o Japão, as pessoas não são mais felizes? Por que razão nas longínquas aldeias indígenas da Amazónia não existe depressão ou ansiedade? 
Porque, para desfrutarmos dos benefícios da eficácia, necessitamos que as pessoas que a tornam possível sejam cumpridoras e pontuais! E nem que isso tenha de acontecer de um modo antinatural...
Ou seja, hoje em dia, entre as vantagens que o nosso estilo de vida proclama, está o facto de todos sermos muito eficientes. Não só se exige que os produtos que estão à venda sejam brilhantes, funcionais e bem embalados; nós também o devemos ser. Mas isso torna-nos verdadeiramente mais felizes ou enche-nos de uma autoexigência plena de stresse e absurda?
Cada vez são mais os intelectuais - economistas, sociólogos e outros- que afirmam que não necessitamos de todas essas coisas que os comerciantes nos vendem nem da própria eficácia pessoal. Alguma eficiência é interessante, mas, demasiada é esgotante e enlouquecedora.
Da maneira como o mundo está agora, cheio de exigências irracionais, de pressão para nos destacarmos, para sermos alguém com importância... o que mais nos interessa para manter a saúde emocional é baixar de imediato o ritmo de tais exigências, aprendermos a aceitar-nos com as nossas limitações.
Para tal, recomendo que vamos ganhando aquilo que designo por «orgulho na falibilidade», isto é, dizer a si mesmo: «Aceito-me com os meus erros e limitações e, melhor ainda, compreendo que esta aceitação me torna uma pessoa melhor porque retiro exigências à vida e o meu exemplo serve para pacificar o mundo.»
Efectivamente, o mundo em que vivemos tornou-se superexigente. A nível planetário colocamos em risco a sobrevivência da Terra, exigindo cada vez mais e mais produção de bens de consumo. a nível pessoal exigimos de nós mesmos termos inúmeras capacidades: ser bonito, desportista, inteligente, hábil nos negócios, excelente mãe e pai... Estas qualidades não são más em si mesmas, naturalmente que são características positivas, mas quando as transformamos em exigências irrenunciáveis, surgem os problemas psicológicos, a tensão, o stresse... e uma grande fonte desse stresse é exigirmos a nós mesmos fazermos as coisas bem feitas. Pensando bem, o planeta não precisa que façamos as coisas bem. Se há alguma coisa de que necessite é que não destruamos mais o meio ambiente. Fazer tudo bem não tem muita lógica numa natureza imperfeita. O normal é fazermos algumas coisas bem, outras não e divertirmo-nos no processo. Para quê querer fazer «tudo» bem? Só para destruir mais o meio ambiente. 
Por isso, proponho o orgulho da falibilidade, a capacidade para aceitar que muitas vezes erramos e que isso não tem importância.
Para muita gente é mais fácil compreender este conceito com o seguinte raciocínio: se existe algo realmente valioso na nossa natureza é a nossa capacidade de amar. Os nossos êxitos e aspirações materiais não produzem muita felicidade em nosso redor, ao contrário do efeito do nosso amor sobre as pessoas que temos à nossa volta. Por isso devemos dar mais importância à capacidade de amar que às outras capacidades. É preciso relaxar em relação a outras qualidades que não a nossa capacidade de amar." - Rafael Santandreu 

Sem comentários:

Enviar um comentário