domingo, 11 de setembro de 2016




"Nós não somos donos do mundo, como se vê. Hospedeiras e banqueiros, mães e filhos foram arrancados de nós como prova e milhares de famílias têm agora de passar vidas inteiras a recompor-se depois de perdas arrasantes. Nós, os que restámos, areámos as nossas bandeiras em sofrimento por eles. Acredito que podíamos fazer o mesmo pelas 35 600 crianças do mundo que também morreram a 11 de Setembro de fome e alargar os nossos corações aos pais e mães que as perderam. 
Esta parece ser uma ocasião razoável para procurar nas nossas almas um cantinho onde resida a humildade. A nossa nação comporta-se de algumas formas que trazem alegria ao mundo e de outras que enraivecem as pessoas. Nem todas essas pessoas são suficientemente cruéis para nos matarem por isso, ou suficientemente fanáticas para morrerem durante a tentativa, mas algumas sê-lo-ão inevitavelmente - cada vez mais, à medida que o desespero se espalha. As guerras de retaliação infindável não matam apenas pessoas mas também os sistemas que produzem comida, proporcionam água limpa e curam os doentes; elas destroem a beleza, extinguem espécies, aumentam o desespero.
Gostava que o nosso hino nacional não fosse aquele sobre bombas a explodir no ar, mas sobre grandiosidades de montanhas púrpuras e ondas de trigo cor de âmbar. É mais fácil de cantar e mais próximo do coração daquilo que temos realmente para cantar. Uma terra tão vasta e verde como a nossa exige de nós uma acção de graças e uma certa abertura de espírito. Convida-nos a investir os nossos corações de forma mais profunda em grandiosidades invulneráveis que nunca podem ser derrubadas num ataque de raiva. Se pudermos concordar em alguma coisa em tempos difíceis, terá de ser no facto de termos os recursos para nos comportarmos de forma mais generosa do que fazemos, e de sermos suficientemente fortes para nos erguermos das cinzas da perda como cidadãos do mundo melhores do que alguma vez fomos. Herdámos a graça do Grand Canyon, o mistério dos Everglades, a fertilidade de uma planície do Iowa - podíamos coroar este bem com um sentido de irmandade. Que herança enorme para os nossos filhos seria essa, se nos tornássemos uma nação humilde perante o nosso rico património, cuja graciosidade nos torna amados." - Barbara Kingsolver

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