"(...)
- Então, o que é que estás a comer? - perguntou Jones olhando-me com um sorriso.
Levantei o olhar, confuso. Limpei a boca com as costas da mão, engoli e disse:
- O quê? Sabe o que estou a comer. O mesmo que você.
- A sério? - provocou-me o velho com um olhar astuto. - Não sei porquê, mas duvido. Ora vamos lá ver... Inclinou-se para olhar para a minha comida e depois olhou novamente para mim. - O que é que estás a comer? - repetiu. - E onde é que estás a comer isso? - Ao ver que eu tinha ficado mais confuso do que nunca, acrescentou suavemente: - Não é um truque; responde apenas às perguntas.
Ergui as sobrancelhas.
- Bom... - Levantei as mãos, como se dissesse «Ainda não percebi onde quer chegar», e respondi: - Acho que estou...
- Não aches. Diz-me.
- Certo. Estou a comer sardinhas e salsichas alemãs.
- Onde?
- Na areia.
Jones sorriu.
- Foi o que eu pensei. - Acenou com a cabeça. - Pensei que fosses responder assim. Bom, os livros vão ajudar, mas eu também posso dar uma ajuda.
- Jones, está a falar do quê? - perguntei, sacudindo a cabeça.
- A tua visão, meu rapaz, está incrivelmente toldada, neste momento, mas tenho a certeza de que podemos abrir um caminho da tua cabeça ao teu coração e daí ao futuro.
- Ainda não entendo.
Sentia-me frustrado, mas curioso.
Jones pousou a sua mão no meu ombro e disse:
- Sei que não entendes e não esperava que entendesses - aproximou-se mais de mim -, porque te falta perspectiva. - Riu-se da minha expressão, mas continuou: - Meu caro jovem, só vês a areia que tens aos pés e aquilo que estás a comer e que desejavas que fosse diferente. Não te digo isto como censura. Os teus pontos de vista são muito comuns. A maior parte das pessoas é como tu, desgostosas com elas próprias pelo que são, pelo que comem, pelo carro que conduzem. A maioria de nós nunca se detém para pensar que existem, literalmente, milhões de pessoas no mundo que não têm as nossas bençãos e as nossas oportunidades, que não têm nada que comer, nem esperança de alguma vez terem um carro.
»É verdade que a situação em que te encontras está recheada de dificuldades, mas também está repleta de benefícios. - Jones fez uma pausa, para reflectir melhor, franziu os olhos e depois continuou: - Olha, para ti, meu jovem, há uma lei do universo, existem muitas, é certo, mas uma delas é especialmente aplicável à tua vida presente. Lembra-te de que tudo aquilo em que te concentras, aumenta.
Franzi o sobrolho, tentando apanhar o sentido das suas palavras. Felizmente, Jones não me deixou a adivinhar e continuou a explicar:
- Quando te concentras nas coisas de que precisas, vais achar que essas necessidades aumentam. Se concentrares os teus pensamentos naquilo que não tens, em breve, estarás a concentrar-te noutras coisas que até tinhas esquecido que não tens... e vais sentir-te pior! Se te concentrares na perda, é mais provável que percas... Mas uma perspectiva de gratidão traz felicidade e abundância à vida das pessoas.
Jones viu a dúvida estampada no meu rosto. Pousou as suas latas e remexeu-se para ficar de frente para mim.
- Pensa nisto: quando estamos felizes e entusiasmados, os outros gostam de estar ao pé de nós, certo? - perguntou.
- Acho que sim - respondi.
- Nada de achar - respondeu-me Jones. - Quando estamos felizes e entusiasmados, as outras pessoas gostam de estar ao pé de nós. Sim ou não?
- Sim.
- E sabendo que as oportunidades e os incentivos vêm das pessoas, o que é que acontece a alguém com quem todos gostam de estar?
Eu começava a compreender.
- Arranja mais oportunidades e incentivos? - arrisquei.
- Certo - concordou Jones. - E o que sucede a uma vida cheia de oportunidades e incentivos? - Quando abri a boca para falar, o velho falou por mim. - Uma vida cheia de oportunidades e incentivos descobre cada vez mais oportunidades e incentivos e o êxito torna-se inevitável.
Ao ver aflorar a esperança e uma nova compreensão na minha expressão, Jones levantou um dedo.
- Mas devo avisar-te de que o contrário deste princípio também é verdadeiro. Quando uma pessoa é negativa, queixosa e desagradável, os outros afastam-se e essa pessoa recebe menos incentivos e menos oportunidades, porque ninguém quer estar ao pé dela. E já sabemos o que acontece a uma vida sem oportunidades e sem incentivos...
- As coisas pioram cada vez mais - respondi.
Jones calou-se por um momento para deixar assentar a verdade desta minha última interiorização e a seguir apresentou um plano de acção.
- Então como é que nos tornamos uma pessoa ao pé de quem os outros querem estar? Deixa-me fazer-te uma sugestão. Faz todos os dias a ti próprio a seguinte pergunta: «O que há em mim que os outros mudariam, se pudessem?»
Pensei por um momento e respondi à pergunta com uma pergunta.
- Jones, e se eu receber uma resposta sobre alguma coisa que não quero mudar?
O velho soltou uma risadinha sufocada e respondeu:
- Para começar, a pergunta não era direccionada a ti. A pergunta era, o que é que os outros mudariam em ti, se pudessem. - Sentindo a minha incerteza, explicou: - Olha, filho, não estou a dizer que devias viver a tua vida de acordo com os caprichos dos outros. Estou simplesmente a salientar que se queres tornar-te uma pessoa influente, se quiseres que os outros acreditem nas coisas em que acreditas ou comprem o que estás a vender, então esses outros têm, pelo menos, de se sentir confortáveis ao pé de ti. Uma vida de sucesso tem muito que ver com a perspectiva. E a perspectiva de outra pessoa acerca de ti pode, por vezes, ser tão importante como a tua perspectiva sobre ti próprio.
- A propósito, tu comeste sardinhas e salsichas alemãs, na areia. Eu jantei na relva, à beira-mar com vista para o oceano. - Soltou um sorriso trocista e deu-me uma palmada nas costas. - É tudo uma questão de perspectiva." - Andy Andrews
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