quinta-feira, 13 de abril de 2017





"A maior parte de nós vive assim: vivemos de acordo com um plano predeterminado. Passamos a juventude a estudar, depois arranjamos trabalho e encontramos alguém com quem casamos e temos filhos. Compramos uma casa, tentamos ser bem-sucedidos na nossa profissão, tentamos concretizar o sonho de comprar uma casa de campo ou um segundo carro, vamos de férias com os nossos amigos e planeamos a reforma. Os maiores dilemas que alguns de nós alguma vez terão de enfrentar são onde passar as próximas férias ou quem convidar para passar o Natal connosco. A nossa vida é monótona, insignificante e repetitiva, desperdiçada na busca do trivial, porque parece que não conhecemos nada melhor.

O ritmo da nossa vida é tão febril que a última coisa em que temos tempo para pensar é na morte. Suprimimos os nossos medos secretos da impermanência ao rodear-nos de cada vez mais bens, mais coisas, mais conforto, apenas para descobrir que nos tornámos seus escravos. Todo o nosso tempo e energia são gastos simplesmente a mantê-los. O nosso único objectivo na vida torna-se somente manter tudo tão seguro e garantido quanto possível. Quando as mudanças acontecem, encontramos o remédio mais rápido, uma solução qualquer hábil e temporária. E é assim que a nossa vida continua a andar à deriva, a não ser que uma doença grave ou um desastre nos sacuda do nosso torpor. 

Nem sequer passamos grande tempo a contemplar esta vida. Pense nas pessoas que trabalham durante anos e depois têm de se reformar, apenas para descobrirem que não sabem o que fazer consigo próprias enquanto envelhecem e se aproximam da morte. Apesar de todo o nosso diálogo sobre ser prático, no Ocidente isto significa ser ignorante e frequentemente implica pensar de um modo limitado e egoísta. A nossa concentração míope unicamente nesta vida é a grande desilusão, a fonte do materialismo inóspito e destrutivo do mundo contemporâneo. Ninguém fala sobre a morte nem ninguém fala sobre a vida depois da morte, porque as pessoas são levadas a acreditar que tais discussões apenas podem impedir o que designamos como «progresso» do mundo.

No entanto, se o nosso desejo mais profundo é verdadeiramente viver e continuar a viver, porque é que insistimos cegamente que a morte é o fim? Porque não procuramos ao menos explorar a possibilidade de que talvez possa existir uma vida depois desta? Se somos tão pragmáticos como reinvindicamos, por que motivo não nos interrogamos seriamente: Onde está o nosso verdadeiro futuro? Afinal, ninguém vive mais de cem anos. E depois disso estende-se toda a eternidade, inconsiderada..." - Sogyal Rinpoche

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