domingo, 2 de abril de 2017




"O amor e a felicidade têm uma relação difícil, recheada de euforias, sobressaltos, momentos de sintonia entre os dois sentimentos, tempos de clivagem e de grande sofrimento. Mas é uma relação desigual: perder um amor gera infelicidade, ser feliz não implica necessariamente amar e ser amado.

Haverá um conceito absoluto de felicidade? Uma espécie de definição universal transversal a todas as culturas? A felicidade não se vê, sente-se, é uma construção de cada um de nós baseada na conjugação do exterior  com o interior. Podemos ser felizes se o exterior fizer sentido, mas também podemos sê-lo com o interior a bastar-se a si próprio.

A felicidade pode ser agressiva para os outros. O narcisista é feliz, adora-se, mas a sua capacidade de se relacionar é muito limitada - quando olha para fora só se vê a si próprio.

Olhar para trás e dizer «fui feliz», «fui infeliz», implica a sobreposição de falsas e verdadeiras memórias, conjugadas no momento da avaliação. Somos pouco consistentes quando pensamos na felicidade, somos mais verdadeiros quando a sentimos. A felicidade é menos objectivável do que a infelicidade. Sentimo-nos felizes, mas conseguimos descrever em pormenor porque somos infelizes. Podemos estar tristes e felizes: a tristeza pode dar bem-estar e equilíbrio, mas não pode ser desencadeada pela ruptura amorosa; quase ninguém se sente feliz por perder o objecto amado. Aliviado, por vezes, sim; feliz, raramente." - José Gameiro

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