segunda-feira, 10 de abril de 2017





"Por muito que nos custe aceitar a pergunta, e mais ainda partilhá-la com o outro, convém fazê-la de vez em quando: «Serei eu feliz sem essa pessoa?»

Com todo o risco das perguntas ficcionais, a resposta dá-nos um bom indicador do estado da nossa felicidade. Felicidade e dependência são coisas distintas: «Eu vivo melhor contigo se te fores embora. Sofro, fico triste, mas volto ao que era, e a vida continua.»

A tristeza persistente pode fazer passar a euforia pela paixão, mas voltará sempre a infelicidade, se não for resolvida. Nenhuma relação trata uma pessoa. A melancolia regressa complicada pela raiva do abandono. Não diria, como Sartre, que o inferno são os outros, mas estes nem sempre são o céu.

Iremos continuar à procura do amor ideal, eterno, indestrutível, que aguente tudo com um sorriso de orelha a orelha. Alguém a quem possamos afirmar «sem ti, a vida não faz sentido». Até que um dia dizemos ou ouvimos «contigo, a vida não faz sentido».

Mas a felicidade não passa por nada disso. Bem podemos ficar sentados à espera que nos façam felizes, se não formos capazes de juntar tudo o que de bom sentimos e fazer disso um escudo protector para o que não controlamos. Amor e felicidade tocam-se, cruzam-se, lutam, podem ser amigos, mas têm vidas separadas. A felicidade é estarmos à altura do que nos acontece, ninguém o pode fazer por nós." - José Gameiro

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