sábado, 1 de julho de 2017





"As nossas mentes têm duas posições: olhar para fora e olhar para dentro.

Olhemos agora para dentro.

É considerável a diferença que esta pequena alteração na orientação pode fazer, conseguindo até inverter os desastres que ameaçam o mundo. Quando um número muito maior de pessoas conhece a natureza da sua mente, conhecerá também a gloriosa natureza do mundo em que vive e debater-se-á corajosa e insistentemente para o preservar. É interessante que, em tibetano, a palavra para «budista» seja nangpa, que significa qualquer coisa como «aquele que se recolhe no seu íntimo», ou seja, alguém que procura a verdade não no exterior, mas no interior da natureza da mente. Todos os ensinamentos e instruções do budismo se concentram numa única questão: olhar para a natureza da mente, o que nos liberta do medo da morte e ajuda a compreender a verdade da vida.

Olharmos para dentro exigirá de nós uma grande subtileza e coragem, uma vez que implica uma mudança completa na nossa atitude perante a vida e perante a morte. Estamos tão condicionados a olhar para fora de nós mesmos que perdemos quase por completo o acesso ao âmago do nosso ser. Sentimo-nos aterrorizados em olhar para o interior de nós próprios, porque a nossa cultura não nos deu qualquer ideia do que poderemos encontrar. Somos até mesmo capazes de pensar que, se o fizermos, corremos o risco de enlouquecer. Este é um dos últimos e dos mais astutos artifícios do ego para nos impedir de descobrir a nossa verdadeira natureza.

Então tornamos as nossas vidas tão agitadas que eliminamos o mais pequeno risco de olharmos para dentro de nós mesmos. Até a simples ideia de meditação consegue assustar as pessoas. Quando ouvem as palavras «sem ego» ou «vazio», pensam que experimentar estes estados se assemelha a ser atirado porta fora de uma nave espacial, flutuando eternamente num vazio escuro e arrepiante. Nada pode estar mais longe da verdade. Todavia, num mundo que se dedica à distracção, o silêncio e a tranquilidade apavoram-nos, e nós protegemo-nos deles com ruído e actividades frenéticas. Olhar para a natureza da nossa mente é a última coisa que nos atreveríamos a fazer.

Há alturas em que penso que não queremos colocar nenhuma verdadeira pergunta acerca de quem somos simplesmente porque temos medo de descobrir que existe uma outra realidade para além desta. Que impacto teria esta descoberta perante o modo como temos vivido? Como reagiriam os nossos amigos e colegas ao que passaríamos a saber? O que faríamos nós com o novo conhecimento? Com o conhecimento vem a responsabilidade. Por vezes, mesmo quando a porta da cela se abre escancaradamente, o prisioneiro prefere não escapar." - Sogyal Rinpoche

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