terça-feira, 4 de julho de 2017





"Nas relações não comerciais existe pouco para negociar. Não acredito nos casais cujo relacionamento assenta na ideia de sacrificar aquilo de que cada um mais gosta apenas para agradar ao outro. Em troca, este deve aceitar abrir mão do que mais aprecia. Não acredito que as relações inter-humanas possam ser avaliadas por aquilo que somos capazes de ceder, mas sim por aquilo que somos capazes de partilhar.

Não consigo gostar do enunciado quase mercantilista mas universalmente aceite de «hoje por ti, amanhã por mim». Em primeiro lugar, porque preferiria que fosse possível ser hoje por ti e amanhã e depois também (porque não?). Em segundo lugar, porque aquilo que dou a alguém não é passível de ser negociado (a verdadeira ajuda assenta na gratuitidade daquilo que dou). Por fim, em terceiro lugar, porque se algum dos dois decide ceder generosa e desinteressadamente algo que possui, espero que a educação que recebeu o tenha ensinado a diferenciar essa atitude dos seus investimentos comerciais e que perceba que já está a receber uma recompensa pela sua acção. Ninguém deverá recompensar-me por aquilo que dou com o coração. A recompensa que recebo consiste em poder dar e em não haver nada para negociar, nem no Céu nem na Terra.

Isto adquire um certo dramatismo quando, no consultório dos terapeutas, nos quartos ou em salas, os casais discutem a possibilidade de negociar maneiras de ser e de agir. Estratégias para ceder de maneira artificial em troca de um gesto equivalente do outro, o que significa deixar de ser aquilo que sou, tendo como argumento forçar alguém a renunciar àquilo que é. Isso é horrível!

Nem sempre a realidade da vida é equitativa e em geral é mesmo bastante injusta. Mas esse facto não deveria desmoralizar-nos e muito menos ser usado para justificar outras injustiças mais «humanas». Pelo contrário, deveria tornar mais profundo o compromisso vital de cada pessoa com aquilo que a rodeia. O ser humano, que é gregário por natureza, deve agir, legislar e governar tendo presente a negociação interior entre aquilo que deseja e a realidade, e entre os seus interesses e os dos outros. Poderá parecer óbvio, mas a tarefa mais importante é também extremamente difícil: consiste em tentar resolver os desequilíbrios que decorrem da repartição desigual de recursos e de possibilidades entre as pessoas. Baseia-se em lutar de igual modo pela nossa felicidade e pela dos outros." - Jorge Bucay


Tu que estás a ler isto, sim tu, arranja uma vida e vive-a...

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