domingo, 9 de julho de 2017





"O desenvolvimento pessoal é o facto mais importante da nossa vida, representa simultaneamente a meta e o desafio e é condição para a nossa própria realização, assim como uma paragem forçada para descobrirmos a nossa capacidade de ajudar os outros.

Mas este crescimento interior, tal como o concebo, apenas pode ser alcançado através da experiência quotidiana de vivermos e errarmos. A aprendizagem é aquilo que colhemos por recriarmos o que foi vivido, representando muito mais do que um simples exercício intelectual.

Na verdade, pedagogicamente falando, apenas se pode aprender a partir do erro. Se a primeira vez que realizarmos uma tarefa esta ficar bem-feita, poderemos alardear a nossa vaidade, mas não teremos aprendido nada, pois já a sabíamos executar. Se em jogo se encontra a nossa orgulhosa luta pelo êxito, as nossas alegrias assentam apenas em conseguirmos atingir a perfeição. Se o mais importante para nós é a aprendizagem e aliado a esta o crescimento, então errarmos constituirá uma parte relevante e desejável do processo.

Mesmo que nos enganemos, é importante termos feito o que fizemos. Pelo menos teremos aprendido alguma coisa. Talvez tenhamos aprendido que essa não era a maneira correcta de levarmos a cabo o que pretendíamos, ou que não era o momento certo, ou que não era a pessoa certa, ou, quem sabe, que fazer o que fizemos não era tão simples como parecia.

O medo que sentimos de nos enganarmos resulta da nossa educação. Desde crianças que nos dizem que devemos tentar não cometer erros. Este é um dos ensinamentos mais importante de todas as sociedades do planeta, a mais condicionadora de todas as regras da nossa cultura e o mais prejudicial de todos os mandamentos.

Hoje já me parece tarde, mas se me tivesse consultado quando tinha cinco anos de idade, teria sido fácil transformá-lo num indivíduo sobredotado. Bastaria ter estabelecido um sistema de prémios para o recompensar por cada erro que tivesse sido capaz de inventar e cometer.

Como só se aprende com os erros, em pouco tempo transformar-se-ia numa criança genial. A verdade é que eu não o teria feito e, por outro lado, os seus pais nunca teriam permitido que fosse seguido este sistema educativo.

A nossa cultura distancia-se muito desse caminho, ainda que afirme que persegue esse objectivo. Sobrecarregamos as crianças, exigindo-lhes cada vez mais que não cometam erros e, desta forma, logicamente, condicionamo-las a acreditar que necessitam sempre de alguém, com mais poder ou autoridade, que lhes aponte o que é adequado e inadequado relativamente àquilo em que acreditam. Precisamos de pais que nos ensinem o que está correcto, para nos protegerem de todo o mal; necessitamos de leis duras que nos digam o que devemos fazer, quem devemos ser e que castiguem com crueldade aqueles que não as cumprem; queremos governantes autoritários que nos forneçam ordens, argumentos e ameaças para que a sociedade não cometa mais erros e para que não tenhamos mais surpresas nem sobressaltos.  Agimos como se não quiséssemos crescer, como se desejássemos continuar a ser crianças, ambicionando que outra pessoa se ocupe de tudo; alguém que, a partir de cima, política, geográfica e espiritualmente falando, nos obrigue a todos a fazer «o que é correcto» e nos proteja da solidão, do abandono, da dor e do desprezo daqueles que não nos permitem cometer erros. Somos treinados de inúmeras maneiras para evitar o erro e apenas nos sentimos seguros quando o fazemos, esperando que os outros também o façam." - Jorge Bucay

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