quarta-feira, 19 de julho de 2017





"Permita-me acreditar que decidiu caminhar em direcção a uma maior realização pessoal. Permita-me então pensar que se ocupou em conhecer-se todos os dias um pouco melhor, que conquistou o espaço da sua autonomia e, depois de se entregar a amar o melhor que seria capaz, que conseguiu rir-se dos seus defeitos. Como se permitiu escutar de uma forma activa, aprendeu com humildade e começou a ser mais cordial e a organizar o seu tempo tendo em consideração o tempo dos outros. Agora que sabe oferecer de uma maneira mais atraente o que é e o que faz, poderá escolher mais correctamente aqueles que o rodeiam. 

Permita-me acreditar que conseguiu confirmar algumas coisas que já sabia e rectificar outras que também conhecia, conseguiu actualizar os seus conhecimentos, colocar a sua criatividade ao serviço daquilo que lhe é mais precioso, que é você, e aperceber-se de que a melhor forma de atingir a igualdade é aproveitar todos os dias da sua vida. Por essa razão, agora age de modo a pôr fim aos vícios que o condicionam e ao seu apego às coisas e às pessoas, corre riscos que antes avaliou e negoceia apenas quando é necessário fazê-lo, sem ceder aquilo de que não deseja abrir mão e tirando partido dos seus fracassos.

Por fim, não tema ter de recomeçar, como diz Alejandro Lerner na sua canção, ou como sugere Hamlet Lima Quintana no seu poema Sin fin [Sem Fim]:

[...] Que cada um cumpra o seu próprio destino,

escolha o seu rumo, reconheça os seus poços, regue as suas 

plantas e, quando se aperceber de que errou o caminho, 

volte a percorrê-lo e reconstrua a sua casa.

Agora, depois de ter andado e voltado para trás, depois de ter assistido a algumas catástrofes e demolições, fruto de alguns erros cometidos durante o seu trajecto, depois de se ter decidido a reconstruir a casa, resta-lhe apenas dar mais um passo em conjunto, o último, o fundamental, talvez o mais decisivo.

Poderíamos propor-lhe muitos nomes, mas eu prefiro descrevê-lo como aprender a confiar no resultado final.

Não há dúvida de que aprender a confiar nas nossas capacidades, nos nossos dons e nas possibilidades com que nos deparamos é algo que nos permite alcançar qualquer tipo de objectivos com êxito. 

Menosprezar os outros não funciona e devemos, sobretudo, rodear-nos de mensagens de confiança, fortalecidos e motivados pela aposta renovada em nós próprios.

Talvez seja verdade que nem todos são capazes de alcançar um êxito específico desejado, mas é verdade que todos podemos atingir tudo aquilo que pretendemos se pusermos de lado a urgência, se perseverarmos, agindo em conformidade com o nosso desejo, sempre e quando este seja autêntico, e não uma necessidade dos outros «plantada» no nosso coração.

É habitual atribuir-se mais vezes as nossas frustrações à nossa impaciência do que à nossa falta de possibilidades concretas, e talvez seja uma realidade.

Quando perguntam ao Dalai Lama o que irá acontecer à parte do território tibetano que se encontra sob o poder chinês, o grande mestre responde: «Eles sabem que estão a agir incorrectamente. Mais tarde ou mais cedo aperceber-se-ão de que esse território não lhes pertence e devolvê-lo-ão ao seu povo. Sabemos que isso pode demorar mil anos, mas não temos pressa. Tranquiliza-nos o facto de sabermos que um dia acontecerá.»

Todavia, nós somos ocidentais e não conseguimos esperar que as coisas aconteçam século após século. Necessitamos de intervir, empurrar, torcer, arrumar. Temos de sentir que somos nós os executores da vontade do Cosmos, ou pelo menos acreditar que o fomos em parte. Não me parece mal. Tudo o que sucede no mundo, para o bem ou para o mal, contém uma percentagem de acção nossa. Uma participação que por vezes é fundamental, e outras insignificante, mas está sempre presente. Não é possível ignorarmos a influência que tivemos em todos os êxitos que rodeiam tudo o que desejamos e queremos e com os quais interagimos de forma directa ou indirecta. Aceitar todas as coisas que nos rodeiam significa aprender a somar ao aspecto pessoal o familiar, o social; ao sonho a atitude; ao desejo o projecto; à necessidade a acção; ao mérito o trabalho; à paciência a decisão de nunca perder o rumo; à perseverança a criatividade.

Nas circunstâncias mais difíceis e nos momentos em que somos invadidos pela sensação de termos perdido o rumo, a certeza do resultado final é justamente o que nos poderá levar a recuperar a força para agirmos e para arriscarmos, a motivação para prosseguirmos, para desejarmos, para insistirmos, para valorizarmos o caminho percorrido e para continuarmos a lutar por aquilo em que acreditamos." - Jorge Bucay

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