sexta-feira, 29 de setembro de 2017





"Num mundo ideal, o maior propósito da educação seria leccionar «qualidade humana»: como ser uma pessoa melhor, como entabular relações de amor e colaboração com terceiros. Essa seria, sem dúvida, a principal disciplina, a grande distância de todas as outras.

O segundo objectivo seria ensinar as crianças a apreciar «o saber» como ferramenta para o bem comum, para o divertimento, não para competir. Logo, todo o ensino deveria ser opcional.

Não seria esta uma escola maravilhosa?

As experiênicas com escolas livres foram um êxito rotundo. Na Grã-Bretanha, a famosa Summerhill adoptou este sistema há mais de setenta anos e as crianças que por ali passaram parecem amar mais a sua escola do que os próprios pais. Entre eles contam-se insignes matemáticos, músicos e médicos, assim como artesãos, electricistas e cozinheiros. Mas contam-se, sobretudo, pessoas harmoniosas, seguras de si mesmas e felizes.

Há pouco tempo li a autobiografia de uma das maiores personalidades do século XX, Sir Winston Churchill, primeiro-ministro da Grã-Bretanha durante a Segunda Guerra Mundial, um dos países aliados que derrotou Hitler. Churchill, além de político, foi um escritor laureado com o Prémio Nobel da Literatura em 1953. Foi desta forma que ele descreveu o seu trajecto escolar:

"Finalmente chegou o dia em que pus termo a quase doze anos de escolaridade. Trinta e seis trimestres durante os quais foi rara a ocasião em que aprendi algo de interesse ou utilidade. Em retrospectiva, aqueles anos conformam o período mais estéril da minha vida. Fui feliz enquanto criança com os brinquedos no meu quarto e sinto-me ainda mais feliz desde que me fiz homem. Contudo, essa etapa escolar constitui uma sombria e lúgubre mancha no meu percurso de vida.

Com efeito, uma educação prolongada, essencial para o progresso da sociedade, não constitui um processo natural para o ser humano. Vai contra a sua própria natureza. Um rapaz gosta de ir atrás do seu pai em busca de alimento ou de uma presa. Gosta de fazer coisas práticas até ao limite das suas forças. Gosta de ganhar um ordenado, por diminuto que seja, para contribuir para as finanças do lar. Adora ter tempo para aproveitar ou desperdiçar como bem entender. E, só então, talvez pela tarde, surgirá um verdadeiro desejo de aprender nas crianças mais prometedoras. Mas, porquê inculcá-lo à força nos que por isso não revelam interesse?"

Assim e só assim é possível abrir as «janelas mágicas» da inteligência." - Rafael Santandreu

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