sexta-feira, 22 de setembro de 2017





"Quando nos sentimos incapacitados para resolver os nossos conflitos e problemas quotidianos, quando nos parece que não conseguiremos atingir os nossos objectivos, quando temos medo de não estar à altura das circunstâncias, a ideia que fazemos das nossas capacidades vacila.

Quando sentimos que não somos merecedores daquilo que recebemos dos demais, quando nos parece que nunca damos o suficiente, quando deixamos de ser o que somos para obter a aceitação dos demais, quando permitimos que sejam os outros a suprir as nossas necessidades, então tornamo-nos dependentes. Por outro lado, quando renunciamos a aceitarmo-nos tal como somos, então o que enfraquece é o amor e o respeito que temos por nós mesmos. 

É destes barros da nossa infância que surgem os lodos que arrastamos até tomarmos consciência de tudo isso e decidirmos que chegou o momento de conquistarmos, por nós próprios, essas bases primordiais para a nossa segurança. Esta é a boa notícia a posteriori, pois os aspectos que não conseguimos integrar nos primeiros tempos de vida podem tornar-se, em definitivo, um ponto de partida para a aprendizagem da autoestima.

Em adultos, podemos dispor de um nível de consciência inacessível a um bebé. Possivelmente, a maior vitória do ser humano nem sequer é a conquista de si próprio, ou seja, da sua liberdade. Nem todos fomos amados e desejados na infância, e nem todos crescemos protegidos. São muitos os seres humanos que têm de aprender através da autoconfiança e da valorização das relações com os outros, pois sozinhos não vamos a parte alguma.

A consciência dos nossos vínculos afectivos, bem como o testemunhar de outros vínculos e da sua expressão sincera são, sem dúvida, as experiências mais profundas que podemos ter nesta vida, tanto em termos humanos como na esfera espiritual. Perante a força do vínculo, apenas nos resta a humilde retirada do ego.

Curiosamente, quanto mais vulneráveis nos mostramos perante os demais, mais abrimos o coração, mais fortalecemos a confiança em nós mesmos, e mais enfraquecemos os frios olhares alheios.

Sentirmo-nos seguros não equivale a acumularmos níveis elevados de inteligência e autocontrolo, mas em fortalecermo-nos interiormente, em confiarmos no que verdadeiramente somos e em permitirmo-nos sê-lo perante os outros. Esse «sermos nós próprios» não deve ser um catálogo de virtudes, mas uma aceitação tanto dos nossos talentos e capacidades como dos pontos fracos e imperfeições que nos são inerentes. Sermos nós próprios é amarmos o que somos. Era justamente isso que se esperava que nos acontecesse desde o início da vida." - Xavier Guix

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