segunda-feira, 30 de outubro de 2017





"Já me aconteceu muitas vezes afastar-me de um amigo ou de um conhecido deixando-o em condições desastrosas, tanto de saúde como económicas ou de carreira. E perguntava a mim mesmo, assustado, como teria feito para resistir, como teria acabado. Pelo contrário, ao reencontrar-me com ele depois de alguns anos, descobri que estava bem, alegre, cheio de vida, com uma nova actividade, por vezes com uma nova esposa (ou um novo marido). E percebi que, na realidade, nunca podemos dizer que uma pessoa está acabada, porque todos possuímos enormes capacidades que não utilizamos e que podemos fazer frutificar num segundo tempo.

Quando somos duramente derrotados ou quando enfrentamos uma doença mortal, afastamo-nos da realidade presente, fechamo-nos em nós mesmos, quase como se tivéssemos morrido; depois, quando recuperamos, quando nos curamos, é como se nos fosse dada uma segunda vida. Por isso, sentimos um desejo febril de agir, de ter novas experiências. Despertam em nós desejos, sonhos, que tínhamos acalentado ou afastado e pomos em acção capacidades não utilizadas.

Por isso, não deveríamos dizer «não vale a pena». Não vale a pena, já não posso ter filhos; não vale a pena, não acabei a licenciatura; não vale a pena, já estou na menopausa; não vale a pena, já estou aposentado. Não faz sentido; é como se disséssemos «não vale a pena, já acabaram os saldos». Sim, os saldos terminaram, mas existem muitas outras possibilidades de fazermos compras. E não é necessário perdermos tempo a lamentar-nos por não termos isto ou aquilo, a remoer sobre os nossos erros ou sobre o mal que os outros nos fizeram. Todos cometemos erros e todos recebemos más acções.

Na minha opinião, a regra de ouro para recuperarmos é a seguinte: sejamos optimistas, actuemos, façamos as coisas que nos agradam, que nos estimulam, e deixemos correr o marfim. Não devemos dirigir a palavra a quem nos é antipático, a quem nos incomoda, não devemos ver filmes que não nos interessam, devemos desligar a televisão quando nos irrita. E, pelo contrário, quando houver alguma coisa que tenha realmente valor para nós, lutemos por ela. Estamos tão vivos aos 80 como aos 20 anos. E lutemos sem medo, com prazer, com gosto de o fazer." - Francesco Alberoni

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