terça-feira, 28 de novembro de 2017





"As famílias tradicionais estão à beira da extinção. Hoje, felizmente, os laços familiares e as relações educativas democratizam-se todos os dias. As crianças já tratam os pais por «tu», não lhes beijam a mão (abraçam-nos!), insurgem-se (quando eles protagonizam injustiças, em vez de, mentirosamente, parecerem submissas) e exigem-lhes bons exemplos (muito mais do que bons conselhos). É claro que quem sabe que os seus exemplos não são recomendáveis repete - até à exaustão - que as famílias tradicionais estão, perigosamente, em perigo.

Se famílias tradicionais fossem uma mãe e um pai sempre juntos, por dentro e por fora, então as famílias tradicionais... raramente existiram. Primeiro, porque os pais juntos, por fora, não significava que estivessem juntos por dentro. Em segundo lugar, o pai e mãe juntos nem sempre quis dizer que ambos dessem tempo aos filhos. Tempo para brincar. Tempo para educar. Tempo para contar histórias ou para passear. Em terceiro lugar, pais carcomidos pelo trabalho, sem grandes recursos económicos, sem electrodomésticos (!), sem conseguirem garantir um espaço (em casa) para a criançada, ou sem terem meios de lhes darem uma educação básica que esbatesse as assimetrias sociais, por mais juntos que estivessem, não seriam, só por isso, melhores.

Hoje, felizmente, as famílias tradicionais estão à beira da extinção. Os pais planeiam e  pensam, como nunca o fizeram, a maternidade e a paternidade. Dão mais colo num ano aos seus filhos do que os seus pais lhes deram durante toda a infância. Brincam como nunca terão brincado com eles. E passeiam. E abraçam mais as suas crianças numa semana do que, muitos deles, terão sido tocados e abraçados pelos seus pais, pela vida fora.

Somos, hoje, famílias mais nucleares? Tanto melhor. Se mais responsabilidade parental significar melhores pais. 

Os amigos dos pais são, hoje, mais família do que alguns tios? E depois?... Se isso demonstrar às crianças que gostarmos de alguém não está preso ao sangue, mas ao tamanho e à luminosidade do coração...

Os avós são, hoje, cada vez menos avós e cada vez mais segundos pais? Que privilégio o das crianças! Terem pessoas com colo de profundidades diferentes, exigências (por vezes) tão contraditórias, ternuras tão plurais... como as que sentem entre os avós e os pais!...

Divorciamo-nos mais? E então?... Se isso representar uma forma dos pais dizerem aos seus filhos, como bons exemplos, que estão obrigados a segui-los com seriedade e com sobriedade, na determinação de nunca deixarem de tentar ser felizes.

As famílias tradicionais nunca existiram. Como tradicionais... Embora todos sonhássemos a nossa à imagem da mais tradicional das famílias tradicionais: a do Menino Jesus. Imaginando que, só assim, seríamos felizes. Como dizem os adolescentes: Bora lutar por elas?..." - Eduardo Sá

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