sábado, 11 de novembro de 2017





"Quando pensamos que uma coisa nos vai proporcionar prazer, desconhecemos o que nos acontecerá verdadeiramente. Quando pensamos que uma coisa nos vai trazer infelicidade, não o sabemos. Deixar espaço para não saber é o mais importante de tudo. Tentamos fazer aquilo que julgamos poder ajudar. No entanto, não sabemos. Nunca sabemos se vamos cair redondos no chão ou sentar-nos numa posição sobranceira. Quando passamos por uma grande decepção, desconhecemos se as coisas ficam por aí. Pode tratar-se apenas do início de uma grande aventura.

A vida é assim. Não sabemos nada. Dizemos que uma coisa é má; dizemos que ela é boa. Porém, a verdade é que não sabemos.

Quando as coisas se desfazem e estamos à beira não sabemos de quê, o teste para cada um de nós consiste em permanecer nesse limiar e não concretizar.A viagem espiritual não tem a ver com o céu e com chegarmos enfim a um lugar que é verdadeiramente fenomenal. Com efeito, é essa maneira de encararmos as coisas que nos faz permanecer infelizes. Pensarmos que podemos encontrar algum prazer duradouro e evitar o sofrimento é aquilo a que no budismo chamamos samsara, um ciclo irremediável que se prolonga infindavelmente, provocando-nos um imenso sofrimento. A primeira nobre verdade do Buda salienta que o sofrimento é inevitável para os seres humanos enquanto acreditarmos que as coisas perduram - que elas não se desintegram, que podemos contar com elas para satisfazermos a nossa fome de segurança. A partir deste ponto de vista, nunca sabemos o que está verdadeiramente a acontecer quando nos puxam o tapete e deixamos de conseguir encontrar qualquer ponto de apoio. Podemos tirar partido dessas situações para despertarmos ou para adormecermos. Este preciso momento - o próprio instante em que sentimos a falta desse ponto de apoio - é a semente para cuidarmos daqueles que precisam dos nossos cuidados e para descobrirmos a nossa bondade.

A vida é uma boa professora e uma boa amiga. As coisas encontram-se sempre em transição, se conseguirmos tomar consciência disso. Nada se resume àquilo com que gostamos de sonhar. O estado intermédio e descentrado constitui uma situação ideal, uma situação em que não nos deixamos apanhar e podemos abrir os nossos corações e as nossas mentes para além de todos os limites. Trata-se de uma situação muito terna, não agressiva e em aberto.

Permanecer com essa insegurança - permanecer de coração despedaçado, com o estômago às voltas, com uma sensação de ausência de expectativas e com vontade de vingança - é o caminho do verdadeiro despertar. Atermo-nos a essa incerteza, adquirir a capacidade de descontrair no meio do caos, aprender a não entrar em pânico - é o caminho espiritual.  Adquirir o treino da contenção, de nos contermos de um modo suave e compassivo, é o caminho do guerreiro. Recuperarmos um zilião de vezes na altura em que, mais uma vez, quer queiramos quer não, experienciamos o ressentimento, a amargura, a indignação justa - endurecemos seja de que modo for, mesmo através de uma sensação de alívio, uma sensação de inspiração.

Todos os dias podemos pensar na agressividade existente no mundo, em Nova Iorque, Los Angeles, Halifax, Taiwan, Beirute, Koweit, Somália, Iraque, em todo o lado. Por todo o mundo, toda a gente agride constantemente o inimigo e o sofrimento entra numa escalada sem fim. Podemos reflectir nisso diariamente e perguntar a nós mesmos: "Vou contribuir para a agressividade no mundo?" Diariamente, no momento em que a irritação entra em escalada, podemos limitar-nos a indagar: "Escolho pôr em prática a paz, ou a guerra?" - Pema Chödrön

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