domingo, 12 de novembro de 2017





" Todos nós passamos por momentos de humildade. Talvez nos cheguem nas alturas mais calmas, a altas horas da noite, ao passarmos a linha da meta, depois de corrermos 42 km, ou após a perda de um emprego, da nossa carreira, de milhares de euros, de um cônjuge ou um amigo chegado. Seja como for, esses momentos decisivos revelam-nos os valores nucleares da vida. O carácter. E a nossa fé. Por vezes, queremos ser tudo menos humildes - preferimos ficar loucos de raiva. «Fiz tudo o que me pediram!», clamamos. «Faço tudo como deve ser. Que raio fiz eu para merecer isto?»

Em momentos como este, «aguentar firme» ou a teoria do «copo está meio cheio» pura e simplesmente não ajudam em nada. Se não for essa a resposta, então qual é? Como é que lidamos com os reveses da vida? Como é que aceitamos o facto de que, por vezes, a vida vai doer a sério?

A resposta é: com muita humildade. Há momentos de adversidade na vida em que o melhor que podemos fazer é rendermo-nos e sermos humildes. A vida põe-nos todos de joelhos. Vivemos à mercê de uma realidade muito superior à nossa capacidade de a compreender. Todos nos podemos sentir ínfimos, insignificantes e impotentes. 

Demonstrar humildade vai muito além de tentar «aguentar firme» ou invocar qualquer outro cliché de trazer por casa. Na verdade, por mais que vasculhemos os livros em busca de clichés que nos possam dar apoio e proporcionar um alívio momentâneo, só encontraremos páginas em branco. Alguns clichés talvez funcionem. E talvez durem tempo suficiente para nos ajudar a sobreviver mais uma noite. Mas, a dada altura, poderão ser inúteis ou até nocivos. E é nesses momentos que a humildade nos pode ajudar.

Ser obrigado a ajoelhar-se é diferente de estar deitado a apanhar. Na verdade, aconselho-o, uma vez mais, a não rejeitar os sentimentos de desilusão e desespero que possam surgir. Dedique algum tempo a tentar sentir mesmo a injustiça e a afronta da situação. Reconhecer esses sentimentos e rumar a um estado de verdadeiro optimismo poderá exigir que se permita sentir-se derrotado. Não se automedique com clichés banais, um monte de ocupações ou uns quantos copos. Pelo contrário: dê tempo a si próprio para se sentir triste, impotente, revoltado, assoberbado ou assustado, pois é assim que realmente se sente. Não pediu nada disso. Mas cá está. A única solução é deixar-se sentir realmente revoltado e desiludido.

Render-se não significa que desista ou se acobarde. Trata-se apenas de permitir a existência dos sentimentos, sem os julgar, nem se julgar a si próprio.

E parta daí. 

Digamos que acabou de ser despedido do seu emprego. Diga: «Merda!» Aliás, seja generoso consigo próprio. Diga dez vezes «merda»! Dê voz aos seus protestos! Dê a si próprio a hipótese de dizer: «Isto é mesmo mau.» E deixe fluir esses sentimentos. Depois de os ter expulsado a todos, respire fundo. Sinta o alívio resultante da libertação das raivas e frustrações que se têm vindo a acumular. Arranje espaço para novos sentimentos. Afinal, não pode saber o que lhe espera ao virar da esquina. Talvez arranje o melhor emprego de sempre, por ter deixado o que tinha. Você pura e simplesmente não sabe. Será esta forma de pensar «negativa»? Serão os queixumes e as lamúrias contraproducentes? Sinceramente, essa abordagem do que se «deve sentir» em nada nos ajuda a lidar com a vida real. O melhor é sermos autênticos.

Não digo que tenha de invetivar contra Deus. Cada um é como é - todos temos respostas diferentes à perda. E à adversidade. O que digo é que tem de permitir a si próprio sentir na pele as suas experiências. Ser autêntico! É o processamento dessas emoções que nos dá profundidade, nos fortalece o coração e nos ensina a lidar com a vida «real». E acabará por nos conferir a capacidade para rastejarmos para longe das cinzas da adversidade. E as pessoas - quem quer que sejam - que tentarem tirar-lhe isso e dar uma «tonalidade positiva» à situação, para o endireitarem ou salvarem de si próprio, estão a contornar um processo de aprofundamento, crescimento, aceitação e cura." - Ken Druck

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