terça-feira, 19 de dezembro de 2017





"Guardo a profunda convicção de que a melhor prática espiritual que existe é o sorriso.

Aprender a equilibrar a mente e o corpo, harmonizar o que em nós é dissonante e por isso nos causa sofrimento, é um trabalho árduo que implica uma grande determinação, coragem e acção perseverante.

Mas apesar de todas as práticas que nos podem ajudar, e ajudam, a esse caminho, do meu ponto de vista, nenhum tem o poder regenerador do riso e do sorriso.

Quando estamos perante uma situação realmente constrangedora, algo que nos está a condicionar imensamente a vida e a nossa paz interior ou a dos que nos rodeiam, se formos capazes de rir a dimensão desse condicionamento é imediatamente alterada.

Quando rimos, uma quantidade de energias soltam-se positivamente transmitindo uma imediata sensação de bem-estar.

Isso também acontece com as lágrimas, com o choro, mas o sinal é evidentemente diferente. Contudo, chorar é também uma prática que nos pode fazer muito bem, desde que não nos leve à obsessão de manter um estado de permanente tristeza.

O riso não tem, efectivamente, contra-indicações. É uma prática poderosa e altamente eficaz. Na realidade, o riso e o sorriso, são bênçãos de que a preciosa condição humana foi dotada, de que não devemos prescindir e mesmo treinar, aprender, praticar, praticar, praticar.

No entanto, há diferenças entre o riso e o sorriso. Penso que rir dos outros é uma atitude que compromete o bem-estar do outro. Rir com os outros é uma atitude de enorme generosidade. Rir de nós próprios, saber rir de nós próprios, é uma grande aprendizagem. Torna-nos muito mais soltos e descontraídos perante o que somos.

O mesmo quando adoptamos esta atitude em relação aos problemas que nos surgem vindos do exterior. Por vezes, temos a tendência de achar que com coisas muito sérias não se brinca. Mas se perante uma situação grave formos capazes de rir, estou convicto que grande parte do problema está resolvido. Se calhar a mais importante, aquela que nos afecta interiormente e nos causaria desgaste e sofrimento. 

A maneira como entendo o sorriso é a da pura oferenda aos outros, a nós próprios, à natureza, a tudo o que nos rodeia. 

Que coisa mais pura e transparente e bela, podemos oferendar a conhecidos e desconhecidos que um sorriso?

Quando entramos num meio de transporte ou conhecemos alguém, quando simplesmente dizemos bom-dia, não é evidente que se sorrirmos há uma empatia instantânea com esses seres?

O facto de sorrirmos e os outros não terem a mesma reacção, não quer necessariamente dizer que essa empatia fracassou. Ela existe, essa pessoa pode não estar preparada para reagir respondendo da mesma maneira (apesar de dificilmente alguém ficar indiferente a um sorriso). Se ao entrar num autocarro, esboçarmos um sorriso a alguém que aparentemente não responde à nossa dádiva, sorrindo-nos em resposta, podemos ter-lhe salvo o dia. Quando sorrimos a preocupação não é a da resposta. O sorriso não é uma moeda de troca, é a forma de oferendar a boa vontade ao mundo." - Frederico Mira George

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