terça-feira, 31 de julho de 2018





"Não podemos ser sensíveis se não formos apaixonados. Não tenham medo da palavra paixão. A maior parte dos livros religiosos, dos gurus, dos swamis, dos líderes, e de todas essas pessoas dizem: «Não sintam paixão.» Mas se vocês não tiverem paixão, como poderão ser sensíveis ao que é feio, ao que é bonito, às folhas que sussurram, ao pôr-do-sol, a um sorriso, a uma lágrima? Como poderão ser sensíveis sem um sentimento de paixão no qual haja abandono? Por favor escutem-me, e não comecem a perguntar de que modo é que se consegue sentir paixão. Sei que são todos suficientemente apaixonados quando se trata de conseguir um bom emprego, ou de odiar um desgraçado qualquer, ou de sentir ciúmes ou inveja de alguém; mas eu estou a falar de algo que é inteiramente diferente - uma paixão que ama. O amor é um estado no qual não existe «eu»; o amor é um estado no qual não existe qualquer condenação, nada que diga que o sexo é certo ou errado, que isto é bom e que uma outra coisa qualquer é má. O amor não é nenhuma destas coisas contraditórias. No amor não existe contradição. E como poderemos amar se não formos apaixonados? Sem paixão, como poderemos ser sensíveis? Ser sensível é sentir o nosso vizinho sentado ao nosso lado; é ver a fealdade da cidade com a sua sordidez, a sua enorme sujidade, a sua pobreza, e ver a beleza do rio, do mar, do céu. Se vocês não forem apaixonados, como poderão ser sensíveis a tudo isso? Como poderão sentir um sorriso, uma lágrima? O amor, posso assegurar-vos, é paixão." - Jiddu Krishnamurti

segunda-feira, 30 de julho de 2018





"A observação de que há pessoas boas a sofrer e pessoas más a continuar a gozar de benefícios e reconhecimento é uma perspectiva limitada. Também se pode tratar de uma conclusão apressada. Se analisarmos este assunto cuidadosamente, veremos que as pessoas que causam problemas não são de modo algum felizes. É melhor ter um bom comportamento e assumir a responsabilidade das suas acções e levar uma vida positiva." - Dalai Lama

sábado, 28 de julho de 2018





"Ter uma relação de intimidade com alguém

não significa que possas abusar do outro, nem

que vivas feliz para sempre. É teres honestidade

e saberes partilhar os êxitos e as frustrações.

É saberes defender a tua integridade, alimentar

a tua autoestima e fortalecer as relações com os 

que te rodeiam. O desenvolvimento deste tipo

de sabedoria é uma busca de toda uma vida, que

requer, entre outras coisas, muita paciência."

Virginia Satir


"Para haver uma relação íntima verdadeira, o outro tem de me atrair.

Não importa que seja um homem, uma mulher, um amigo, um irmão... o outro tem de ser atractivo para mim. Tenho de gostar do que vejo, do que escuto, do que o outro é. Não de tudo, mas tenho de gostar dele.

Se, de facto, não gosto do outro, se não há nada nele que me atraia, podemos até ter uma relação cordial, trabalhar juntos, cruzar-nos e combinar coisas, mas não seremos íntimos.

Para ser íntimo de alguém, além da abertura, da confiança, do ser capaz de me expor, vínculo afectivo, da afinidade, da capacidade de comunicação, da tolerância mútua, das experiências partilhadas, dos projectos, do desejo de crescer e tudo o mais, como se não bastasse, o outro tem ainda de me cativar, de me atrair.

A atracção pelo outro não tem de ser necessariamente física. Posso gostar da sua maneira de falar, da sua forma de fazer as coisas, das suas ideias, do seu coração. No entanto, repito, a atracção tem de existir.

Há casais que desejam recuperar a intimidade, mas que, apesar de gostarem muitíssimo um do outro e terem uma relação de confiança mútua, sentem que algo aconteceu com o seu amor: perdeu-se. E confessam ao terapeuta, ao padre ou ao casal amigo: "Não sei o que se passa connosco, já não é a mesma coisa. Não temos vontade de estar um com o outro, não sabemos se ainda nos amamos." Por vezes, a única coisa que aconteceu foi que a atracção deixou de existir há algum tempo.

Eu não posso sentir-me atraído pelo que foste, mas apenas pelo que és.

No entanto, recordo-me bem do dia em que te conheci. Penso nesse momento e a minha alma alegra-se com a recordação. É verdade, mas isso não é atracção, é nostalgia.

Posso amar-te pelo que foste, pelo que representaste na minha vida, pela nossa história. De facto, confio em ti por tudo o que passámos juntos, pela pessoa que demonstraste ser. Mas a atracção funciona no presente porque é amnésica.

A confiança numa relação íntima implica um tal grau de sinceridade com o outro que não contemplo sequer a possibilidade de lhe mentir.

É importante aceitar este desafio: ter a consciência de que o amor, a atracção e a confiança são coisas que acontecem ou não acontecem. E se não acontecem, a relação pode ser boa, mas não será íntima ou transcendente.

Digo sempre que a vida é uma transacção não comercial, uma troca directa em que se dá e recebe. A intimidade está muito relacionada com aquilo que dou e aquilo que recebo, sendo que por vezes isto é algo difícil de aprender.

Há quem acredite que tenha de dar sempre e vá assim pelo mundo, sem permitir que lhe dêem nada, achando que com o seu sacrifício consegue preservar o vínculo. Se soubessem como é detestável estar ao lado de alguém que está sempre a dar e nunca quer receber ficariam surpreendidos. 

Pensam que são bons porque estão sempre a dar, "sem pedir nada em troca". É muito cansativo estar ao lado de alguém que não pode receber.

Uma coisa é não pedir nada em troca do que dou, outra muito diferente é negar-me a receber algo que me dão porque decidi que não o mereço. No fundo, a mensagem que passo é: "O que me dás não me serve de nada", "A tua opinião não me importa", "O que é teu não tem valor" e "Não sabes".

É preciso ter consciência do mal que fazemos ao outro quando nos negamos a receber o que ele tem para nos dar do fundo do coração.

A transacção que constitui a vida permite a reciprocidade da entrega, que é, claramente, um passaporte para a intimidade.

Não acredito que todos os encontros devam resultar em relações íntimas, mas defendo, sim, que só elas podem dar sentido ao caminho." - Jorge Bucay

sexta-feira, 27 de julho de 2018





"Quando andamos a correr em círculos atrás dos nossos anseios e do falso poder, está a passar-nos despercebido algo que é crucial para a nossa felicidade: a experiência do amor. Com o insight da impermanência, do não-eu, do inter-ser, temos a oportunidade de experimentar o amor verdadeiro. O escritor francês Antoine de Saint-Exupéry afirmou que amar outra pessoa não significa sentarmo-nos a olhar um para o outro; significa olharmos ambos na mesma direcção. Todos nós devemos observar profundamente a nossa vida para verificarmos se na nossa experiência isto é ou não verdade, e se for, até que ponto o é. Cada um de nós tem necessidades e desejos, por isso quando amamos alguém, temos tendência para olhar para essa pessoa. Esperamos ver nela a bondade, a verdade e a beleza que procuramos. Estamos sedentos de sinceridade. Buscamos algo de sagrado, de belo, de bom, algo que seja benéfico. Muitos de nós acreditam que assim que encontrarmos estas qualidades noutra pessoa, sentiremos que nada nos falta, e estaremos menos sós.

Todos começamos por procurar a beleza, a verdade e a bondade nos outros. Muitos de nós acreditam que são poucas as pessoas que têm estas qualidades.

Quando as encontramos em alguém, podemos apaixonar-nos, porque acreditamos ter encontrado a essência da verdade, da beleza e da bondade. Devemos ser cuidadosos nesta busca, pois podemos ter percepções erradas. Por vezes a beleza que achamos ser real não é a verdadeira beleza. A verdade que pensamos ser real não o é. E a benevolência que percepcionamos não é verdadeira bondade. Portanto, podemos amar alguém baseados numa percepção errada. Quando ficamos realmente a conhecer essa pessoa ao longo de algum tempo, descobrimos que falhámos, porque essa pessoa não é capaz de simbolizar para nós a beleza, a bondade e a verdade que procuramos. Dizemos que a pessoa nos desiludiu, e sofremos. Então partimos em busca de outra pessoa que possamos amar. Podemos falhar muitas vezes, caindo na mesma situação, cansando-nos ou desiludindo-nos com a outra pessoa. Se continuarmos assim, podemos passar a nossa vida numa busca constante de alguém. 

Andamos todos a enganar-nos uns aos outros. Lá bem no fundo, sentimos que não existe nada bom, belo e verdadeiro em nós, e ao mesmo tempo estamos desesperados por mostrar aos outros o quanto somos bons, belos e verdadeiros. E assim nos vamos enganando de geração em geração. E enquanto estamos a enganar os outros, estamos igualmente a ser enganados por eles. Somos vítimas uns dos outros. Estamos a tentar parecer melhores de forma a parecermos menos feios, e os outros estão a fazer o mesmo.

Quando reconhecermos que existe em nós a essência da bondade, da beleza e da verdade iremos parar de andar à procura de algo. Vamos parar de vaguear por aí sentindo que nos falta alguma coisa. E seremos capazes de deixar de enganar os outros. Não teremos de nos adornar porque descobrimos a verdade, a beleza e a bondade aqui dentro de nós.

Todas as pessoas que vivem neste mundo - mulheres, homens, ricos, pobres, instruídos, analfabetos, doentes, saudáveis - todos têm esta base de bondade, beleza e verdade. Não devemos continuar a procurar fora de nós mesmos, porque aquilo que procuramos já se encontra dentro de nós. E todos nós temos de regressar a nós próprios para podermos entrar verdadeiramente em contacto com a beleza, a bondade e a verdade que estão dentro de nós. Uma vez que tenhamos estado em contacto com esta natureza interior, teremos posto fim às muitas vidas de procura e teremos uma fé inabalável em nós mesmos. Então seremos felizes; teremos paz. 

Temos ideias sobre o que é a beleza, sobre o que valemos, e estas ideias podem constituir obstáculos à nossa felicidade. Imaginamos coisas, construímos coisas na nossa cabeça e sofremos com elas. Receamos que os outros nos estejam a julgar, e é este medo, mais do que o verdadeiro julgamento, que nos deixa perturbados. O sofrimento é inteiramente criado na nossa mente. 

Em certas ocasiões, a falta de compreensão entre nós e outra pessoa é algo que realmente acontece. Podemos ser mal compreendidos por muitas pessoas, e ainda assim não temos de sofrer com isso. Basta que vivamos a nossa vida com correcção e, passado algum tempo, os outros irão corrigir a percepção errónea que tiveram a nosso respeito. Nós sabemos o que se está a passar cá dentro. Sabemos como é a nossa mente. Se todos os dias tivermos um pensamento positivo, boas ideias, com compreensão e compaixão, se todos os dias praticarmos um discurso amável; se todos os dias executarmos boas acções, nós próprios sabemo-lo. O nosso valor revelar-se-á a si próprio àqueles que nos rodeiam. Pode levar alguns dias ou várias semanas, pode até levar anos. Mas se soubermos quem somos, não temos de sofrer mais. A prática de nos compreendermos a nós mesmos e de nos exercitarmos a produzirmos cada vez mais pensamentos, palavras e acções repletos de beleza dá-nos autoconfiança, e isso irá transformar tudo o resto.

Buda falou em quatro elementos que constituem o verdadeiro amor: a capacidade de ser amável e de proporcionar felicidade, maitri em sânscrito; a compaixão, a capacidade de aliviar o sofrimento, karuna; a capacidade de trazer felicidade todos os dias, mudita; e, finalmente, a capacidade de não discriminar. Upeksha. Quando há amor verdadeiro, não há discriminação. A dor do outro é a nossa própria dor; a felicidade do outro é a nossa própria felicidade. À luz da não-discriminação a felicidade e a dor são colectivas e não individuais. Se não compreendermos o nosso companheiro, se não partilharmos o seu sofrimento, então não o amamos; estamos simplesmente a consumir a outra pessoa para a satisfação das nossas próprias necessidades individuais. O amor verdadeiro caracteriza-se pela atenção, pelo respeito. Se tivermos esta atenção, então quando virmos o sofrimento do outro, não podemos continuar a causar-lhe dor. Se o respeitarmos não podemos continuar a fazê-lo. 

Em conjunto com a pessoa amada, podemos praticar entrar em contacto com a beleza, a bondade e a verdade que existem dentro de nós, de modo a podermos ajudar-nos e a inúmeras outras pessoas. Este é o caminho de Buda. Quer sejamos um monge ou uma monja, uma mulher ou um marido, uma namorada ou um namorado, temos de parar de nos enganar a nós mesmos e aos outros, e de permitir que os outros nos enganem. O grande despertar ocorre quando percebemos que aquilo que procuramos está dentro de nós. Então, o nosso sofrimento chegará ao fim e seremos felizes." - Thich Nhat Hanh

quinta-feira, 26 de julho de 2018





"Aquilo a que chamamos o nosso amor é algo que pertence à mente. Olhem para vós mesmos e verão que o que estou a dizer é uma verdade óbvia; se assim não fosse, a nossa vida, o nosso casamento, os nossos relacionamentos, seriam inteiramente diferentes, teríamos uma nova sociedade. Nós amarramo-nos a outra pessoa, não através da fusão, mas do contrato, a que se chama amor, casamento. O amor não funde, não ajusta - não é nem pessoal nem impessoal, é um estado de ser que a mente não pode descobrir; ela pode descrevê-lo, atribuir-lhe um termo, um nome, mas a palavra, a descrição, não é o amor. Só a mente que está tranquila pode conhecer o amor, e esse estado de tranquilidade não é algo que possa ser cultivado." - Jiddu Krishanmurti

quarta-feira, 25 de julho de 2018





"A minha experiência diz-me que a principal característica da felicidade genuína é a paz, a paz interior. Não me refiro à sensação de estar «na lua», nem a uma espécie de insensibilidade. Pelo contrário, a paz que descrevo está enraizada no interesse pelos outros e implica uma grande sensibilidade e calor humano. É este facto, da paz interior ser a principal característica da felicidade, que explica o paradoxo de haver pessoas que se sentem insatisfeitas apesar de possuírem todas as regalias materiais e outras que se sentem felizes apesar de terem de enfrentar circunstâncias muito difíceis." - Dalai Lama

terça-feira, 24 de julho de 2018





"És o caminho e és a chegada;

e não há distância entre ti e a chegada.

És o que procura e o que é procurado;

e não há distância entre a procura

e o que é procurado.

O adorador e o adorado.

O discípulo e o mestre.

Os meios e o fim.

Este é o Grande Caminho." - Osho

segunda-feira, 23 de julho de 2018





"Quando seguramos na mão de uma criança, devemos investir cem por cento de nós mesmos no acto de lhe segurarmos a mão. Quando abraçamos o nosso companheiro, devemos fazer o mesmo. Esqueçamos tudo o resto. Estejamos totalmente presentes, totalmente vivos no acto de abraçar. Isto é o oposto do modo como fomos ensinados a orientar a nossa vida e os nossos negócios. Fomos ensinados a fazer muitas coisas ao mesmo tempo. Respondemos a um e-mail enquanto vamos falando ao telefone; durante uma reunião para discutir determinado projecto, vamos tomando as nossas notas sobre um outro projecto. Cada nova tecnologia promete ajudar-nos a fazer mais coisas ao mesmo tempo. Agora podemos enviar um e-mail enquanto ouvimos música, falamos ao telefone e tiramos um retrato, tudo através de um único aparelho. Com a nossa energia assim tão dispersa, onde é que está o nosso poder?

Em vez de estarmos sempre com múltiplas tarefas, devemos aprender a concentrar-nos numa tarefa de cada vez. A atenção requer algum treino. Podemos ser muito inteligentes. Podemos compreender isto de imediato. Mas isso não significa que o possamos fazer. Para fazê-lo, temos de praticar e de nos treinarmos.

A atenção é a capacidade de estar lá, inteiramente presentes. Quando amamos alguém, a dádiva mais preciosa que lhe podemos ofertar é a nossa verdadeira presença. Não podemos comprar a capacidade de trazer alegria e de transformar o sofrimento." - Thich Nhat Hanh

sábado, 21 de julho de 2018





"Se a evolução da espécie humana se deve inteiramente ao meio ambiente e à modificação de genes, cromossomas, etc., então não há lugar nenhum para o Karma. E este não tem lugar porque todos os efeitos seriam pressumivelmente explicados pelos seus constituintes físicos. No entanto, as células evoluem, tornando-se cada vez ais complexas e, posteriormente, transformando-se em seres humanos. Há muitas opções, uns setenta triliões, relativamente àquilo que um um ser humano se pode tornar, baseado na classificação dos genes dos progenitores. No entanto, só uma opção é tomada e, se nos perguntarmos porquê, então o Karma entrará na explicação." - Dalai Lama

sexta-feira, 20 de julho de 2018





"Há muitas coisas que posso fazer para demonstrar, revelar, fortalecer, confirmar ou legitimar que amo alguém, mas há apenas uma que posso fazer com o meu amor, que é amar essa pessoa, dedicar-me a ela, concretizar o meu sentimento de afecto em consonância com o meu modo de o sentir. A forma como sinto o meu afecto será a minha forma de amar o outro.

A outra pessoa pode acolher o meu afecto ou recusá-lo, pode compreender o que ele significa ou ignorá-lo redondamente. Mas é a minha forma de a amar, não tenho outra.

Amar alguém e demonstrar-lhe o meu amor podem ser duas coisas diferentes para mim e para o outro. E em relação a elas, como a tantas outras coisas, podemos estar em absoluto desacordo sem que necessariamente um de nós esteja errado.

Quando alguém te ama, o que faz é dedicar-te uma parte da sua vida, do seu tempo e da sua atenção.

Quando uma pessoa nos ama, as suas acções mostram claramente quão importantes somos para ela. 

Para saberes o quanto te amo, poderia fazer algo que gostasses que eu fizesse, sem compromisso, se me apetecesse.  Mesmo não sendo natural para mim, poderia levantar-me de madrugada no dia 13 de dezembro, decorar a casa, preparar o pequeno-almoço, forrar as paredes do quarto de cartazes, encher a cama de presentes e dar uma festa à noite com os amigos... Porque sei que te deixaria feliz, poderia fazer isso uma vez, quando tivesse vontade. Mas se for obrigado a fazê-lo todos os anos para te agradar, não esperes que tenha prazer nisso. Não sendo algo que eu quisesse naturalmente fazer, talvez seja melhor para os dois que não o faça.

Porém, se nunca tenho vontade de fazer estas coisas, nem outras que te agradem, é porque algo se passa. 

Com a convivência, eu poderia aprender a gostar de te  mimar com algumas das coisas que aprecias. De facto, é o que acaba por acontecer. Mas tal não tem nada que ver com certas crenças espalhadas, com as quais não concordo e que contradizem tudo isto.

Falo especificamente dos sacrifícios por amor.

Por vezes, querem convencer-nos de que as relações importantes são aquelas em que uma pessoa é capaz de se sacrificar pelo outro, quer seja ou não feliz. Na verdade, não acredito que o amor implique sacrifício. Não acredito que o sacrifício seja uma garantia do meu amor pelo outro, e muito menos que ele seja uma regra que valide o amor por alguém.

O amor é um sentimento que alimenta a nossa capacidade de desfrutar das coisas em conjunto, e não uma medida de quanto estou disposto a sofrer por ti, ou de até que ponto sou capaz de renunciar a mim mesmo.

Em todo o caso, o nosso amor não pode ser medido pela dor que somos capazes de partilhar em conjunto, embora isto também faça parte da vida. O nosso amor é proporcional à nossa capacidade de percorrermos juntos este caminho, desfrutando ao máximo de cada passo e sendo cada vez mais capazes de tirar prazer de cada um desses passos, precisamente porque estamos juntos." - Jorge Bucay

quinta-feira, 19 de julho de 2018





"Quando algo nos perturba, quando acontece qualquer coisa na nossa família ou na nossa comunidade que não é do nosso agrado, queremos alterá-lo de imediato. Sentimo-nos tentados a fazer uso do pouco poder de que dispomos, enquanto pai, mãe, professor, alguém, para alterarmos a situação. Este é o momento exacto para pararmos e contemplarmos. Devemos praticar a observação profunda da natureza daquilo que nos perturba para descobrirmos a resposta mais adequada e compassiva. 

Existem muitas formas de partilharmos a nossa orientação, o nosso conselho. Se partilharmos movidos pela compaixão, seremos eficazes e estaremos a ajudar. Podemos ser pouco habilidosos na nossa orientação, mas ao longo do processo iremos aprender a partilhar de um modo que não gere sofrimento, que não afaste os outros de nós. Temos de estar constantemente atentos para percebermos se estamos a orientar ou a ensinar movidos pela fama, pela riqueza ou por um tipo de poder superficial.

Se não nos detivermos num olhar superficial, perceberemos que as pessoas ricas e poderosas também têm uma grande dose de sofrimento e também geram muito sofrimento à sua volta, apesar de toda a sua situação privilegiada. Embora detenham muito poder, caem muitas vezes no abismo do desespero e do sofrimento. Os nossos líderes políticos e económicos apreciam o poder que têm, mas também sofrem com ele. Está na altura de reconsiderarmos o significado do poder e de alterarmos a direcção da nossa vida. O filósofo Jean-Jacques Rousseau escreveu: «O mais forte nunca é suficientemente forte para ser sempre o soberano, a menos que transforme a força em direito, e a obediência em dever.» Se o poder for sentido como ilegítimo será desafiado por aqueles que são menos poderosos. Mas, quando o poder é visto como legítimo e é acompanhado por autoridade espiritual, é apreciado e até reverenciado.

Os líderes do mundo dos negócios, os correctores de valores e os políticos procuram o poder financeiro e político. E parece nunca haver poder suficiente. Os budistas e muitos outros investigadores espirituais também querem ter poder, mas eles procuram os poderes da fé, da diligência, da atenção, da concentração e do insight. Estes poderes são ilimitados e nunca causam mal a ninguém, nem ao próprio.

O dinheiro e a fama não são nocivos em si mesmos, mas se não soubermos lidar com eles, tornam-se prejudiciais. A forma como usamos o dinheiro, como usamos a nossa fama, pode levar-nos, e a muitas outras pessoas, a sofrer. Se formos sábios e detivermos poder espiritual, então, o dinheiro e a fama não nos poderão prejudicar. Na verdade, podem ter utilidade. É possível utilizar o dinheiro e a fama com sabedoria de forma a aliviar o sofrimento e a gerar a felicidade. O facto de o dinheiro e a fama se tornarem úteis ou destrutivos, depende do modo como os utilizamos." - Thich Nhat Hanh

quarta-feira, 18 de julho de 2018





"O amor é incognoscível. Só pode ser apercebido quando o conhecido é compreendido e transcendido. Só quando a mente está livre do conhecido, só então haverá amor. Portanto, devemos começar por abordar a questão do amor pela negativa e não pela positiva.

O que é o amor para a maioria de nós? No nosso caso, quando amamos, existe posse, domínio ou subserviência. Deste sentimento de posse nascem o ciúme e o medo da perda, e nós legalizamos este instinto possessivo. Com a posse, surgem o ciúme e os inúmeros conflitos com os quais cada um de nós está familiarizado. Portanto, a posse não é amor. Nem o amor é sentimental. Ser sentimental, ser emocional exclui o amor. O sentimentalismo e as emoções são meras sensações.

...Só o amor pode transformar a insanidade, a confusão e a luta. Nenhum sistema, nenhuma teoria de esquerda ou de direita pode trazer a paz e a felicidade à humanidade. Onde há amor, não há sentimento de posse, não há inveja; há misericórdia e compaixão, não em teoria mas efectivamente - pela vossa mulher e pelos vossos filhos, pelo vosso vizinho e pelo vosso empregado... Só o amor pode fazer nascer a misericórdia e a beleza, a ordem e a paz. Existe amor e todas as suas bênçãos quando «vocês» deixam de existir." - Jiddu Krishnamurti

domingo, 15 de julho de 2018





"Aquilo que a maioria das pessoas chama poderes, os budistas chamam anseios. Os cinco anseios são: riqueza, fama, sexo, boa comida e muitas horas de sono. No Budismo, consideramos os cinco verdadeiros poderes, os cinco tipos de energia. Os cinco poderes são: a fé, a diligência, a atenção, a concentração e o insight. Os cinco poderes são os alicerces da verdadeira felicidade.

A atenção é a energia de se estar consciente do que está a acontecer no momento presente. Quando temos em nós a energia da atenção, estamos totalmente vivos e vivemos com profundidade cada momento da nossa vida diária. Quer estejamos a cozinhar, ou a lavar, ou a limpar, ou sentados, ou a comer, trata-se de um momento em que estamos a desenvolver a energia da atenção. E esta energia ajuda-nos a saber o que devemos fazer e o que não devemos. Ajuda-nos a evitar dificuldades e erros, protege-nos e ilumina todas as nossas actividades diárias. 

A atenção é a capacidade de percebermos as coisas como elas são. Quando estamos atentos, percebemos o que se passa, o que está a acontecer no aqui e agora. Quando percebemos algo de positivo podemos desfrutá-lo; podemos nutrir-nos e curar-nos pelo simples facto de reconhecermos estes elementos positivos. E quando algo é negativo, a atenção ajuda-nos a abraçá-lo, a suavizá-lo, e a conseguir algum alívio. A atenção é uma energia que pode deter o sofrimento, a cólera, o desespero; se soubermos refrear o nosso sofrimento durante o tempo suficiente, ficaremos aliviados.

Se perdermos este poder de atenção, perderemos tudo. Sem a atenção, ganhamos e gastamos o nosso dinheiro de formas que nos destroem, a nós e aos outros. Utilizamos a nossa fama de um modo tal que nos destruímos a nós e aos outros. Usamos a nossa força militar para nos destruirmos a nós mesmos e aos nossos semelhantes.

Caminhar e comer são acções que praticamos diariamente. Mas habitualmente, quando caminhamos não estamos verdadeiramente a caminhar. Estamos a ser arrastados pelos nossos projectos e pelas nossas preocupações. Não somos livres. Quando caminhamos com atenção, demorando-nos no momento presente, sem estarmos já a ser puxados pelos nossos arrependimentos relativamente ao passado ou pelas nossas preocupações em relação ao futuro, conseguimos tocar nas maravilhas da vida e cada passo que damos fortalece a nossa felicidade. Se praticarmos a atenção, não teremos de nos arrepender da forma como vivemos no passado. A atenção ajuda-nos a ver e a estar em contacto com aqueles que amamos. É a energia que nos permite regressar a nós mesmos, estarmos vivos e verdadeiramente felizes." - Thich Nhat Hanh

sábado, 14 de julho de 2018





"Tenho de descobrir por que o desejo tem uma força tão grande na minha vida. Pode ser correcto e pode não o ser. Tenho de o descobrir. Vejo isso. O desejo surge, o que é uma reacção, o que é uma reacção saudável e normal; caso contrário, estaríamos mortos. Vejo algo bonito e digo: «Meu Deus, quero aquilo.» Se não quisesse, estaria morto. Mas na procura constante da satisfação do desejo há dor. Esse é o problema - há prazer e há dor. Vejo uma bela mulher, e ela é mesmo bonita; seria completamente absurdo negá-lo, dizer: «Não, ela não é bonita.» Trata-se de um facto. Mas o que dá continuidade ao prazer? É óbvio que é o pensamento, o pensar nele...

Penso nele. Deixa de haver relação directa com o objecto, que é o desejo, mas agora o pensamento aumenta esse desejo ao pensar nele, ao formar imagens, quadros, ideias...

O pensamento chega e diz: «Por favor, tens de ter isto; isso é crescimento; isso é importante; isso não é importante; isto é vital para a tua vida; isto não é vital para a tua vida.»

Mas posso olhar para algo e sentir desejo, e tudo terminar ali, sem a interferência do pensamento." - Jiddu Krishnamurti

sexta-feira, 13 de julho de 2018





"Se adoptarmos uma abordagem egocêntrica da vida, através da qual tentamos usar os outros para defendermos os nossos próprios interesses, talvez possamos obter um benefício temporário, mas a longo prazo nem sequer seremos capazes de atingir a nossa própria felicidade." - Dalai Lama

quinta-feira, 12 de julho de 2018





"Ter uma relação com alguém é uma aprendizagem difícil, quase uma arte, pois exige algumas técnicas delicadas e específicas que devem ser adquiridas e praticadas antes de poderem ser utilizadas adequadamente, como acontece com um cirurgião, que não pode operar se não passou no exame de cirurgia, um empreiteiro, que precisa de formação antes de construir um grande edifício, ou um chef, que tem de praticar durante anos para encontrar a melhor forma de cozinhar o seu prato preferido.

Isto é assim porque, entre outras coisas, cada um de nós é um grande enigma e, portanto, as nossas relações são um mistério, que pode ser divertido ou dramático, mas que é sempre imprevisível.

Leo Buscaglia conta a história de um jovem universitário que decide aprender a relacionar-se melhor com as jovens do seu curso e vai a uma livraria à procura de um livro de autoajuda. Numa estante perdida no fundo da livraria, encontra um livro cujo título capta a sua atenção: Do Abraço ao Amor. O jovem compra o grosso volume e só ao chegar a casa é que se dá conta de ter comprado o segundo volume de uma enciclopédia.

Uma vez escrevi que ler um livro era como ter um encontro com alguém, e que havia livros surpreendentes e livros chatos, livros para ler só uma vez e livros aos quais queremos sempre voltar; enfim, livros mais enriquecedores do que outros. 

Hoje, vinte anos depois, digo o mesmo, mas de outra perspectiva.

Encontrar-nos com alguém é como ler um livro.

Seja bom, normal ou mau, todo o encontro com o próximo acaba por nos ajudar e ensinar algo, tornando-nos mais ricos. As relações não fracassam por causa do mau-carácter, da inadequação ou da incompetência do outro.

O fracasso, se é que queremos chamá-lo assim, é a expressão que usamos para dizer que o vínculo deixou de ser enriquecedor para um dos lados. (Não enriqueceremos o outro durante todo o tempo, nem os outros nos enriquecem sempre.)

Cada encontro na minha vida foi como cada livro que li: uma lição de vida que me levou a ser este que sou." - Jorge Bucay

quarta-feira, 11 de julho de 2018





"Muitos de nós acreditam que não é possível haver felicidade sem que haja poder financeiro ou político. Sacrificamos o momento presente em nome do futuro. Não somos capazes de viver profundamente cada momento da nossa vida diária.

Pensamos com frequência que se tivermos poder, se formos bem-sucedidos nos nossos negócios, as pessoas irão prestar-nos atenção, teremos muito dinheiro e seremos livres de fazer o que nos apetecer. 

É possível sermos bem-sucedidos na nossa vida profissional, determos poder mundano e ao mesmo tempo sermos felizes.

Acontece com muita frequência que quando iniciamos a nossa vida profissional o fazemos com base no amor pela nossa família, pela nossa comunidade. Inicialmente temos boas intenções. Depois, lentamente, vamos sendo consumidos pelo desejo de obter sucesso no nosso trabalho. Ansiar pelo sucesso, pelo poder e pela fama substitui o nosso enfoque na família e na comunidade. É nesta altura que começamos a perder a nossa felicidade. O segredo para mantermos a felicidade é alimentarmos o nosso amor todos os dias. Não permitamos que o sucesso ou o desejo de dinheiro e poder substituam o nosso amor." - Thich Nhat Hanh

sexta-feira, 6 de julho de 2018





"Se quereis mudar o mundo, primeiro tentai melhorar e mudar algo no interior de vós mesmos. Isso ajudará a mudar a vossa família. E daí passará para o que vos rodeia. Tudo o que fazemos tem algum efeito, algum impacto." - Dalai Lama

quinta-feira, 5 de julho de 2018





"Sofremos uma espécie de subdesenvolvimento emocional que nos leva a adoptar alguns comportamentos autodestrutivos, tanto na nossa vida pública como privada. É urgente encontrarmos um caminho que nos permita descobrir uma forma de ser mais saudável, e esse caminho está intimamente relacionado com o amor e a espiritualidade. O amor é o melhor símbolo da saúde do homem, é o que mais se opõe à agressão, ao medo e à paranóia, que por sua vez representam a patologia que nos separa uns dos outros." - Claudio Naranjo

quarta-feira, 4 de julho de 2018





"O que significa para nós o poder? Por que razão está a maioria das pessoas disposta a fazer praticamente qualquer coisa para o obter? Mesmo que não estejamos conscientes disso, a maior parte de nós procura estar em posições de poder, porque acredita que esse facto irá permitir controlar as situações que surgem na nossa vida. Acreditamos que o poder nos proporcionará o que queremos acima de tudo: liberdade e felicidade.

A nossa sociedade está baseada numa definição de poder muito limitada, e que implica, nomeadamente, riqueza, sucesso profissional, fama, vigor físico, força militar e controlo político. Meus queridos amigos, digo-vos que existe um outro tipo de poder, um poder maior: o poder de ser feliz no exacto momento presente, libertos da dependência, do medo, do desespero, da discriminação, da cólera e da ignorância. Este poder é um direito nato de cada ser humano, seja ele célebre ou desconhecido, rico ou pobre, forte ou fraco. 

Todos nós desejamos ser poderosos e bem-sucedidos. Mas se o nosso impulso para obter e manter o poder nos extenua e prejudica os nossos relacionamentos, nunca conseguiremos apreciar verdadeiramente o nosso sucesso profissional ou material, e pura e simplesmente não vale a pena o nosso esforço. Viver a nossa vida com profundidade, reservar tempo para cuidarmos de quem amamos - esse é um outro tipo de sucesso, um outro tipo de poder, e é muito mais importante. Existe apenas um tipo de poder que tem realmente valor: o sucesso de nos transformarmos, de transformarmos as nossas aflições, o medo e a cólera. É este o género de sucesso, de poder, que será benéfico para nós e para os outros, e que não causará qualquer prejuízo.

Querer ter poder, fama e riqueza não é uma coisa má, mas devemos saber que procuramos estas coisas porque desejamos ser felizes. Se formos ricos e poderosos mas infelizes, qual será o interesse de sermos ricos e poderosos?

A ambição que possamos ter de aumentar a nossa compreensão e a nossa compaixão e de ajudarmos o mundo é uma energia maravilhosa que confere um propósito genuíno às nossas vidas. Muitos grandes instrutores antes de nós - Jesus, Buda, Maomé e Moisés - também tiveram esta ambição. No presente, experimentamos o mesmo desejo profundo que eles tiveram: fortalecer a paz, aliviar o sofrimento e ajudar os outros. Constatamos que uma única pessoa pode trazer libertação e cura a milhares ou até milhões de seres humanos. Cada um de nós, quer sejamos um operário, um político, um empregado de mesa, um homem de negócios, um homem do espectáculo ou um pai a treinar um jogo de futebol americano, todos nós partilhamos este desejo profundo. Mas é importante recordarmo-nos de que para tomarmos consciência desta ambição maravilhosa temos antes de mais de tomar conta de nós mesmos. Para podermos trazer felicidade aos outros, temos de ser felicidade. E é por este motivo que nos disciplinamos sempre no sentido de, em primeiro lugar, tomarmos conta dos nossos próprios corpos e das nossas próprias mentes. É apenas quando estamos sólidos que podemos estar no nosso melhor e tomar conta daqueles que amamos.

Quando olhamos em profundidade, vemos a dor e o sofrimento no mundo e reconhecemos o nosso desejo profundo de acabar com ele. Compreendemos também que proporcionar felicidade aos outros é a maior felicidade que podemos ter, a maior realização. Quando escolhemos cultivar o poder verdadeiro, não temos de desistir do desejo de termos uma vida de qualidade. A nossa vida pode ser mais satisfatória, e sentir-nos-emos felizes e descontraídos ao aliviarmos o sofrimento e ao fazermos toda a gente feliz." - Thich Nhat Hanh

terça-feira, 3 de julho de 2018





"Por que fazemos tudo isto - obedecer, seguir, copiar? Porquê? Porque, interiormente, tememos a incerteza. Queremos estar certos de algo - financeiramente, moralmente -, queremos ser aprovados, queremos estar numa posição segura, queremos evitar ser confrontados com problemas, com a dor, com o sofrimento, queremos estar numa redoma. Assim, o medo, de forma consciente ou inconsciente, faz-nos obedecer ao Mestre, ao líder, ao padre, ao governo. O medo também nos controla no sentido de não nos deixar fazer algo que pode ser maléfico para os outros, porque sabemos que seremos castigados. Portanto, por detrás de todas estas acções, ganâncias, buscas, esconde-se este desejo de certeza, este desejo de nos sentirmos assegurados. Portanto, sem resolvermos o medo, o mero acto de obedecer ou de ser obedecido tem pouca importância; o que tem significado é a compreensão deste medo, dia a dia, e observar como o medo se revela a si mesmo de formas diferentes. É só quando estamos libertos do medo que existe essa qualidade interior da compreensão, a solidão na qual não existe acumulação de conhecimento ou de experiência, e é  somente isso que nos dá uma extraordinária claridade na busca do real." - Jiddu Krishnamurti

segunda-feira, 2 de julho de 2018





"Tudo tem os seus limites. Os indivíduos cujo comportamento é eticamente positivo são geralmente mais felizes e dão um maior significado à vida do que os que negligenciam a ética. O que confirma a minha convicção de que, se podemos reorientar os nossos pensamentos e emoções e reorganizar o nosso comportamento, então podemos não só aprender a lidar com o sofrimento mais facilmente mas, sobretudo e em primeiro lugar, evitar que muito dele surja." - Dalai Lama 

domingo, 1 de julho de 2018





"A intuição é uma aptidão espiritual e não explica, apenas aponta o caminho." - Florence Scovel Shinn


"Já todos ouvimos a expressão: "Lembre-se de parar para cheirar as rosas." Mas, na verdade, quantas vezes conseguimos abrandar o ritmo frenético do dia a dia para olharmos para o mundo à nossa volta? Somos de tal forma absorvidos pelos horários que temos de cumprir, pelos compromissos que agendamos, pelo trânsito ou pela vida em geral que nem reparamos que há outras pessoas mesmo ao nosso lado.

Sou tão culpado como qualquer outra pessoa no que respeita a ignorar o mundo desta maneira, especialmente quando estou a conduzir pelas ruas sobrelotadas de gente da Califórnia. No entanto, testemunhei, há pouco tempo, um acontecimento que me mostrou como o facto de estar completamente compenetrado no meu mundo me tem mantido alheio ao que se passa à minha volta.

Estava a caminho de uma reunião e, como sempre, a planear na minha cabeça o que ia dizer assim que lá chegasse. Parei num semáforo vermelho num cruzamento particularmente movimentado. Tudo bem, pensei com os meus botões. Consigo apanhar o próximo semáforo verde se for mais rápido do que os outros. 

O meu cérebro e o meu carro estavam em piloto automático, prontos para arrancar, quando, subitamente, o transe em que me encontrava foi interrompido por uma visão inesquecível. Um jovem casal, ambos invisuais, atravessava o cruzamento de braço dado, com carros a circularem em todas as direcções. O rapaz trazia um menino pequeno pelo braço e a rapariga apertava junto ao peito um sling com um bebé. Os dois levavam uma bengala branca com a qual tateavam à procura de pistas que os ajudassem a atravessar a cruzamento.

De início, fiquei comovido. Aquele casal estava a conseguir ultrapassar o que eu considerava uma das deficiências mais temíveis: a cegueira. Deve ser horrível ser cego, pensei. O meu raciocínio foi abruptamente interrompido por um sentimento de pânico quando reparei que o casal não estava a atravessar na passadeira, mas a desviar-se na diagonal, em direcção ao meio do cruzamento. Sem se aperceberem do perigo que corriam, estavam a seguir mesmo na direcção dos carros. Fiquei com medo que algo lhes acontecesse porque não conseguia perceber se os outros condutores se tinham apercebido do que se estava a passar.

Enquanto observava da primeira linha de carros (tinha os melhores lugares da casa), vi um milagre a acontecer diante dos meus olhos. Todos os carros, que seguiam em todas as direcções, pararam ao mesmo tempo. Não ouvi uma única guinada de um pneu nem uma buzina a tocar. Ninguém sequer gritou "saiam da frente!"

Tudo parou. Parecia que o tempo tinha estagnado por causa daquela família.

Maravilhado, olhei para os carros à minha volta e vi que estávamos todos a olhar para o mesmo. Reparei que toda a gente estava de olhos postos naquele casal. De repente, o condutor que estava à minha direita reagiu. Pôs a cabeça de fora do carro e gritou: "Para a direita, para a direita!"

Logo depois, outros seguiram o exemplo, gritando em uníssono: "Para a direita!"

Sem perder o ritmo, o casal desviou-se para a direita. Confiando nas bengalas brancas e nas orientações de algumas pessoas preocupadas, conseguiram alcançar o outro lado da rua. Assim que chegaram ao passeio, apercebi-me de uma coisa: ainda estavam de braço dado.

Fiquei surpreendido com as suas expressões impávidas e imaginei que não fizessem ideia do que efectivamente estava a acontecerá volta. E, logo de seguida, foram evidentes os suspiros de alívio de todas as pessoas que permaneciam paradas naquele cruzamento.

Olhei em volta e reparei que o condutor à minha direita estava a dizer: "Uau, viste aquilo?", e que o condutor à minha esquerda disse: "Não acredito!"

Acho que todos ficámos profundamente emocionados com o que tínhamos acabado de testemunhar. Seres humanos que tinham parado de se preocupar com as próprias vidas para ajudarem alguém que precisava de ajuda.

Já parei para reflectir sobre esta história muitas vezes e, graças a ela, aprendi várias lições. A primeira é: "Abranda o ritmo para cheirares as rosas" (algo que raramente fazia até essa altura). Olha à tua volta para veres o que realmente se está a passar à tua frente neste preciso momento. Se fizeres isso, vais perceber que este momento é tudo o que existe; e, sobretudo, vais perceber que este momento é tudo o que dispões para fazeres a diferença.

A segunda lição que aprendi é que os objectivos que definimos para nós próprios podem ser alcançados se acreditarmos em nós e confiarmos nos outros, apesar dos obstáculos aparentemente intransponíveis.

O objectivo do casal era simplesmente chegar são e salvo ao outro lado da rua. O obstáculo eram oito filas de carros apontados na direcção deles. Ainda assim, sem medo e sem dúvidas, os dois caminharam em frente até conseguirem alcançar o objectivo.

Todos nós podemos seguir em frente para alcançarmos os nossos objectivos se fecharmos os olhos aos obstáculos que se cruzam no nosso caminho. Precisamos apenas de confiar na nossa intuição e aceitar as orientações daqueles que possam saber mais do que nós.

Por fim, aprendi a dar valor ao dom da visão, algo que tomara muitas vezes como garantido.

Conseguem imaginar como a vossa vida seria diferente se não pudessem ver? Por um momento, tentem imaginar que chegavam a um cruzamento movimentado sem conseguirem ver. Tantas vezes nos esquecemos das simples, mas maravilhosas, dádivas que temos na vida.

Segui o meu caminho e fui-me afastando do cruzamento com uma maior consciência da vida e da compaixão que devemos ter pelos outros. A partir desse momento, decidi ver realmente a vida enquanto me dedico às minhas actividades diárias e a usar os dons para ajudar os menos afortunados.

Façam um favor a vocês mesmos enquanto vivem a vossa vida: abrandem o ritmo e percam tempo a ver. Observem o que se passa à vossa volta neste preciso momento, no lugar exacto onde estão. Podem estar a perder algo extraordinário." - Jeffrey Michael Thomas