domingo, 4 de outubro de 2015



"Deito-me, levanto-me, ergo-te diante dos meus olhos. Com todos os cuidados. Fico muito quieto. A tua imagem pode escapar de um momento para o outro. E eu não sei o que te dizer senão que tenho o coração aberto. E canto como se fosse a morrer.
O amor assusta o medo. As palavras que te digo vêm de longe. Passam por mim como se não fosse ninguém. São flechas a rasgar o ar em volta. As palavras que te escrevo são tuas muito antes de ser minhas. És tu que as escreves em mim. Por debaixo da pele.
Ninguém assim tão velozmente. Ninguém assim por mim adentro a dizer: tudo e nada. Eu de ti quero tudo. Eu de ti não quero nada. Eu quero tudo e nada no mesmo preciso momento. O momento em que te tenho erguida à minha frente.
Levanto-me, saio de casa, levo-te comigo de mão dada. És linda. O mundo inteiro tropeça e pára. Há qualquer coisa que se rasga. A beleza não é daqui. Não é coisa que se veja. A tua beleza é o que me sufoca a alma para logo depois a reanimar com um sopro de ar quente a entrar nos meus pulmões cheios de água.
Todo o tempo que passou antes de nos encontrarmos condeno-o à escuridão do esquecimento. Tu abres o mundo à minha frente e eu sigo-te. Eu não sabia que podia ser assim. E tudo o que te digo nada é. O que vivo não se deixa falar em palavras. São tentativas destinadas ao fracasso. O que vivo por ti é em silêncio quando aguardo pela tua voz amada. Eu não sei o que há em ti que se abre e se fecha como rosas." - Pedro Paixão 

Sem comentários:

Enviar um comentário