domingo, 6 de dezembro de 2015



«Os nossos momentos de maior lucidez costumam ter lugar quando nos sentimos profundamente incómodos, infelizes ou insatisfeitos. É nestes momentos, levados pela nossa insatisfação, que saímos do caminho trilhado e começamos a explorar maneiras diferentes de fazer algo ou respostas mais certeiras.» - M. Scott Peck

"Um velho professor que conheci questionava sempre os seus alunos quando estes se queixavam de que uma situação difícil lhes havia surgido na vida: «Se dessa situação pudesses aprender algo útil, positivo, que te fizesse crescer como pessoa, o que seria?» Esta é a pergunta. E cada um pode encontrar múltiplas respostas a cada desafio que a vida nos lança. Já que do mesmo modo que não há dia sem noite, nem vida sem morte, nem luz sem escuridão, também não há crise sem possível aprendizagem, dor sem possível aprendizagem, revés sem oportunidade.
Porque há momentos em que a vida se desnuda de repente, os acessórios desaparecem, a sala da qual somos espectadores fica completamente vazia. Num instante, os planos realizados apagam-se e uma montanha de falsas preocupações fica esquecida. Isto acontece naquelas situações limites que nos recordam a fragilidade da vida, a pequenez da nossa existência, a nossa radical impotência perante o grave acidente que acaba de ocorrer, a morte ou o suicídio inesperado que acaba de levar alguém fora de tempo (ou quando ninguém o esperava), ou perante a doença que subitamente coloca contra a parede, e com poucas opções de sobrevivência, o ser amado. 
Toca o telefone e, de repente - mesmo antes de pronunciar «estou» -, antes de receber a resposta, sentimos que qualquer coisa não está bem. Pode até chegar a sentir-se o nó na garganta de quem está do outro lado do fio. Vive-se esse silêncio frio, inquietante, carregado de tristeza e de angústia, de quem tem a missão de dar uma notícia e não sabe como nem por onde começar. O telefonema anuncia a morte de um ente querido, de um amigo, de um conhecido ou de alguém que se conheceu há pouco, que estava ao nosso lado. Seja qual for a mensagem, se for uma má notícia, e tem como denominador comum que a vida acaba de sofrer um profundo abalo ou está a ponto de acontecer em algum lugar, é uma ruptura que não estava prevista no guião que uma pessoa tem.
O silêncio, então, apodera-se de tudo. Ao espanto abismal, a uma perplexidade que parecia vir de um terrível pesadelo do qual se desperta, segue-se a negação da realidade e dizemos: «Isso não pode ter acontecido, não pode ser verdade.» Estas bofetadas podem afundar-nos ou despertar-nos. Nesse momento, caem pelo seu próprio peso muitas preocupações estúpidas, falsas, quimeras absurdas; e, então, descobrimos o quão importante é aproveitar cada instante que se tem para cuidar daqueles que se amam, cuidar da sua saúde, mostrar o afecto, cultivar a ternura, apoiá-los construtivamente. E de uma maneira muito especial, é aí que descobrimos a importância de deitar fora o lixo ou o acessório, andar leve de bagagem, para viver definitivamente em paz. Muitas escravidões se desvanecem perante a nudez a que nos submete a morte próxima, inesperada ou a sua ameaça.
Não é resignação; também não é abandono. O pontapé que recebemos pode despertar-nos, de repente. Talvez seja uma sobredose de senso comum pelo contacto com o real, com o que há de mais cru, com o primário. Então, a existência ganha um valor extraordinário, radical, luminoso, total. A realidade desnuda-se e uma pessoa tem uma excelente oportunidade para valorizar o lado sagrado da vida. Refiro-me ao que lhe dá sentido: os bons amigos, as pessoas que amamos e por quem nos sentimos amados, os projectos que valem a pena. As boas pessoas e as boas causas, sem dúvida." - Alex Rovira 

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