sexta-feira, 22 de janeiro de 2016



"É surpreendente a quantidade de pessoas que tem medo do aborrecimento. Secretamente, temem aborrecer-se e por isso andam a tapar essa possibilidade com actividades sem importância e pouco gratificantes. Ou preenchem o dia com tarefas, pequenas obrigações que não deixam lugar para nada mais. Estas pessoas costumam sentir-se mal quando as férias chegam, especialmente se partem de viagem, porque num sítio diferente do habitual é mais difícil preencher o dia com actividades.
O medo do aborrecimento é como o medo da solidão: absurdo, fantasioso, irreal. Na verdade, não há nada que temer! Como acontece com a solidão, se deixarmos de temê-lo, o aborrecimento é um mal-estar muito ligeiro. Há ocasiões em que pode mesmo ser agradável. 
O aborrecimento não constitui nenhuma ameaça séria: aborrecer-se não é perigoso para a integridade física, não existe nenhum tigre à espera... não há do que ter medo! No pior dos casos, pode ser um pouco incómodo, mas não muito.
Saber aborrecer-se, não se assustar com o aborrecimento, aproveitá-lo ou pelo menos tolerá-lo são qualidades importantes para quem deseja uma vida emocionante. Parece paradoxal, ou talvez o seja, mas é verdade: aborrecer-se ocasionalmente é uma condição necessária para ter uma vida emocionante.
Todos os aventureiros têm momentos de tédio no decorrer das suas aventuras: longas esperas num aeroporto, ficar dois dias preso numa aldeia por falta de transporte, etc. De qualquer modo, se relaxarmos não sofreremos tanto e, em contrapartida, obteremos uma espécie de passaporte para fazermos o que queremos." - Rafael Santandreu

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