terça-feira, 19 de janeiro de 2016



"Os seres humanos sabem, conhecem a partir da distinção de diferenças existentes e da comparação de umas coisas com as outras. Por essa razão, qualquer tentativa de ser mais objectivo passa pela capacidade de comparar da forma mais eficaz possível. Se desejamos saber, temos de comparar! Mas para o fazer adequadamente, devemos fazê-lo em relação a todo o mundo, a toda a comunidade de seres humanos, a todas as possibilidades reais que acontecem na vida, sem pôr de parte a morte, as doenças, as necessidades básicas... Mais uma vez, um bom exercício de comparação vai fazer-nos compreender que os seres humanos necessitam de muito pouco para serem felizes, sendo que todos nós temos essa capacidade, independentemente do lugar onde nos calhou viver: em África, Portugal ou Marte, se algum dia habitarmos esse planeta.
Por vezes, ficamos neuróticos quando nos centramos em nós próprios, como crianças que acreditam ser o centro do universo! A verdade é que não somos o centro de nada! Frequentemente, quando nos pedem para nos compararmos com pessoas que vivem em regiões pobres de África, protestamos, dizendo: «Por que razão devo comparar-me com um africano pobre? Eu vivo em Portugal e nunca terei as condições de vida deles!»
Mas, na minha opinião, é necessário abrirmo-nos às realidades do mundo, porque a situação de outras pessoas que vivem em ambientes diferentes fornece-nos informação, mais uma vez, acerca das necessidades básicas dos seres humanos. Se uma família chinesa ou africana vive feliz porque tem satisfeitas as necessidades básicas de alimentação, isso significa que os seres humanos em geral podem ser felizes uma vez satisfeitas essas mesmas necessidades.
Por vezes vivemos em sociedades tão artificiais que chegamos a pensar que se não somos proprietários de um apartamento ou se não nos podemos dar ao luxo de passar umas férias na praia, não seremos capazes de nos sentir bem. Isso é estar fora da realidade. É isso a que me refiro quando falo de ter um critério aberto ao mundo, isto é, sermos conscientes da realidade do ser humano: a realidade em África é também a nossa. Classificar como sendo «terríveis» todas as coisas negativas que nos acontecem não é nada construtivo porque uma tal nomenclatura implica um colapso emocional que não ajuda a resolver as situações." - Rafael Santandreu

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