quarta-feira, 28 de setembro de 2016




"Desde crianças que ouvimos repetir muitas vezes à nossa volta expressões como: «tem cuidado», «vê lá bem o que vais fazer», «não te deixes enganar», «tens mesmo a certeza?» São precauções que, apesar de nos serem ditas por aqueles que são mais velhos do que nós com a intenção de nos proteger, com a melhor das intenções, mas que nas crianças, que têm personalidades que absorvem tudo e são permeáveis, podem acabar por ficar demasiado interiorizadas e chegar a extremos prejudiciais para a sua felicidade futura. Não me lembro de alguém, na minha infância, me ter dito algo parecido ao que Rabindranath Tagore expressou de modo tão poético: «Se fechas a porta aos erros, deixarás de fora a verdade.»
Porque é que, em tantas ocasiões, e uma vez adultos, adiamos a tomada de qualquer decisão, por vezes insignificante? Porque tomar decisões nos mete medo, e para essas feras insaciáveis que são os medos, nós, os humanos, somos presas fáceis.
Como diz a escritora norte-americana Susan Jeffers: «Nós, a maior parte das pessoas, levamo-nos e às nossas decisões demasiado a sério. Tenho boas notícias - nada é assim tão importante. A sério. Olhem para tudo com mais calma."
Parece-me inevitável que, ao longo da vida, acabem mal muitas das coisas que empreendemos (mas isso não nos deve impedir de continuar a empreender outras); é inevitável atravessá-la sem amores impossíveis ou frustrados (o que não deve paralisar a nossa capacidade de amar); sem amizades que nos decepcionem; sem pessoas de quem gostamos que morrem; sem...
Como soube expressar de maneira tão soberba e sóbria o poeta espanhol Ramón de Campoamor:

«Não há experiência nem saber que impeça
o sofrer desenganos,
em breve farei cem anos
e não fiz mais do que errar toda a minha vida.»

No entanto, é impossível que uma pessoa cresça e desfrute verdadeiramente da vida se não impuser a si mesma metas, mesmo que logo a seguir lhe pareçam erradas, se não se atrever a deixar para trás os seus medos e as suas ideias preconcebidas, se não é capaz de se aventurar vezes sem conta por todos os caminhos, por muito pó que levante.
Se alguém acredita que nunca tropeçou, talvez seja porque caminhou muito pouco.
«Quem não arrisca, não petisca», dizia uma pessoa mais velha que me era muito querida, que morreu quando eu era criança. Também me dizia que « se me arrependesse de alguma coisa, antes fosse por algo que tinha feito do que por algo que tinha deixado de fazer». É melhor arrependermo-nos de uma acção do que de uma omissão, poderia ser o seu lema." - Clemente García Novella

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